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Por que o brincar é mais complexo do que todo mundo pensa?

Apesar de “brincadeira” significar um divertimento, um jogo ou um passatempo, o brincar é muito complexo para o desenvolvimento humano. Para as crianças a brincadeira é o enlace dos seus processos de aprendizagem. Vamos entender por que o brincar é muito mais do que uma diversão?

Brincar faz parte da nossa história, compõe quem somos a ponto de, provavelmente, termos chegado até aqui porque brincamos muito ao longo da constituição da humanidade. O historiador Phillipe Ariès, conta que na sociedade antiga, o trabalho não ocupava o lugar que ocupa hoje e passamos mais tempo brincando e nos divertindo, foi mais recentemente que separamos o brincar do mundo adulto, entendendo como uma ação da infância. Hoje vamos explorar por que a brincadeira é tão importante para o desenvolvimento infantil, mas não deixe de pensar enquanto lê o quanto brincar pode fazer parte da sua vida adulta e ajudar o desenvolvimento de todos seus processos hoje!

No artigo vamos passar pelos seguintes pontos:

– O que é o brincar?

– O brincar e o desenvolvimento humano.

– Adultos e crianças: como brincar e facilitar o desenvolvimento?

O que é o brincar?

O brincar traz a liberdade de representar, de ser a imagem, o símbolo e a reprodução de algo. Brincar traz prazer e sem nenhum objetivo externo e determinado. Isso quer dizer que, apesar do brincar ser fundamental para o nosso desenvolvimento, não brincamos para chegar a algum lugar ou objetivo, simplesmente brincamos. Quanto mais espontânea a brincadeira, mais absortos nela ficamos.

A brincadeira pode nos absorver completamente para além dos objetos. Sabe aquele estado mental em que uma pessoa realiza uma atividade e se sente totalmente absorvida em uma sensação de prazer e foco total no que está fazendo? O brincar é tão intenso e experiencial que imergimos completamente a ponto de perdermos o sentido de espaço e tempo.

É onde tudo é possível, misturando a realidade e a imaginação. Nossa potência criativa fica à disposição e se desenvolve fervorosamente. O limite é nossa integridade física e a integridade física do outro, sem limites para qualquer criação.

Nossa, conseguiu sentir a liberdade e a potência do brincar?

Se considerarmos que temos uma tendência ao desenvolvimento, à complexidade e à completude, ao brincar livremente estamos deixando a pessoa livre para construir-se por si mesma. Ao permitir o livre brincar confiamos na nossa capacidade de nos desenvolvermos. É, brincar é muito mais do que um momento divertido, é algo para levarmos a sério. Então, vamos entender melhor então a função do brincar no desenvolvimento?

O brincar e o desenvolvimento humano

Você sabia que brincamos desde bebês? Sim! Explorando o corpinho, por exemplo, mexendo as mãos, colocando os pés na boca… também olhando para a mãe e rindo dos seus movimentos e daquela conexão. Quando começamos a crescer, passamos a usar objetos e eles passam a fazer parte da exploração de tudo que existe. E logo depois, as relações passam a ser um ponto de foco no brincar e as brincadeiras ficam mais sociais. Nesses cenários entram a imaginação, os jogos e assim o brincar vai se desenvolvendo com o processo de crescimento: as condições motoras, cognitivas, sociais e afetivas.

Percebe como a brincadeira vai evoluindo conforme nos desenvolvemos? Ela acompanha e tem uma forma em cada uma das nossas fases, sendo influenciada por cada área do desenvolvimento e influenciando os processos para eles seguirem seu fluxo de crescimento.

Quando consideramos a vida afetiva, é através do brincar que a criança representa seu mundo interno, expressa seus sentimentos e sua compreensão diante das situações que vive. O sentimento influencia na imaginação e vice, e versa. É quando ela externaliza, organiza e cria possibilidades de ações e assim suportar a realidade, a qual ela vai aprendendo com o tempo a interagir e lidar. Através da brincadeira a criança experimenta sua capacidade de adaptar-se à realidade e aos acontecimentos da sua vida, podendo criar diversos cenários nos quais, testa possibilidades e ações diferentes.

Por isso, se você quiser compreender como a criança está entendendo e processando o mundo, brinque com ela! A brincadeira é o canal de conversa sobre seus sentimentos como o medo e a ansiedade. A expressão verbal e os brinquedos são apenas veículos para a experiência, é no brincar que a sua expressão está sendo exposta. Mas como podemos brincar a ponto de facilitar esse desenvolvimento? Vou te contar agora!

Adultos e crianças: como brincar e facilitar o desenvolvimento?

1. Brincar é mais simples do que pensamos: apesar de a brincadeira ser levada a sério e ser mais complexa do que apenas um passatempo, brincar é mais simples do que pensamos. Ficou confuso? Vou te explicar! As crianças precisam menos de coisas e brinquedos, e de mais presença em que podem sentir-se livres para se expressarem e criarem com o que tiver disponível. Inclusive, quanto menos o brinquedo fizer pela criança melhor, pois brinquedos muito autônomos tomam o lugar da imaginação. E principalmente, quanto mais a relação for facilitadora da sua expressão e encarar a imersão no brincar, melhor ainda.

2. Se entregue para a experiência: viva a experiência desse brincar com ela e com todos os significados e sentimentos envolvidos. Possibilitando a livre expressão de si mesma, a ampliação da sua percepção sobre si e sobre os recursos criativos que possui para enfrentar as situações que experiencia. O brincar é uma ação que expressa, comunica e organiza o mundo interno da criança e como ela lidará com mundo externo, é por onde podemos facilitar sua expressão emocional e relacional, ajudando os processos a fluírem.

3. Revisite o seu brincar: lembra que no começo do artigo disse para você pensar no seu brincar? Então, a brincadeira segue sendo peça fundamental na vida dos adultos! As brincadeiras e os jogos, além de fazerem parte do nosso lazer, fazem parte das nossas conversas sociais e podem nos ajudar em diversas situações. O oposto de brincar não é trabalhar, é a depressão. Então, para facilitar o brincar de uma criança você precisará brincar junto e se deixar absorver por essa experiência, resgatando seu brincar.

4. Use sua criatividade e o que você já conhece do mundo: você é o adulto, então lembre que você conhece um mundo inteiro de possibilidades e tem a imaginação desenvolvida, então varie as brincadeiras, dê ideias, traga mais estímulos, diferentes ambientes, jogos… Potências criativas juntas podem dar mais expansão para a expressão, além de desenvolver todas as áreas com uma riqueza de possibilidades.

5. Respeite o momento do desenvolvimento da criança: mesmo você trazendo outras ideias, você já desenvolveu todas as áreas, a criança não, por isso lembre de dar espaço para ela direcionar o que ela quer expressar e desenvolver. É importante que seja um espaço sem julgamentos, com liberdade de expressão, onde não existe o certo e o errado, o cuidado é apenas com limites de integridade física de vocês ou os que o ambiente impor.

Essas são algumas dicas básicas para você poder se entregar na brincadeira com a criança, se quiser ler mais sobre brincar e ter ideias do que viver com as crianças nas férias, acesse o artigo: 10 dicas do que fazer com as crianças nas férias.

Bom, isso é um pouquinho de muito sobre o brincar e o desenvolvimento infantil, mas já nos dá uma noção de como o brincar é intrínseco a nós e perceber que quando uma criança que está com dificuldade no brincar vai afetar diretamente seu desenvolvimento todo. Caso você reconheça que alguma criança próxima está com dificuldade de brincar não hesite em buscar ajuda, através do atendimento psicológico infantil é possível identificar se é uma questão no desenvolvimento decorrente de condições orgânicas ou se é uma dificuldade no desenvolvimento afetivo.

Sabemos o quanto é desafiador participar do processo de desenvolvimento de uma pessoa tão singular, e ainda fazer essas distinções do processo de aprendizagem dos nossos filhos ou conseguir brincar com eles para entendê-los, apesar da brincadeira parecer simples, ainda assim pode não ser nada simples compreender o que a expressão da criança está dizendo. Lembre-se de que você não precisa passar pelos desafios do desenvolvimento infantil sozinho. Uma consulta de orientação a pais ou ainda um processo de atendimento psicológico infantil pode ajudar nessa caminhada. Clique aqui e converse com uma das nossas profissionais para entender qual serviço pode ajudá-lo.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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