Não sou uma pessoa que tem o hábito de assistir seriados, mas o que vi acontecer com “13 Reasons Why” me chamou muita atenção. Fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que falavam sobre a história de Hannah Baker (a atriz Kahteriine Langford). O seriado da Netflix conta a história de uma adolescente que deixa gravado em fitas cassetes os 13 motivos que a levaram a interromper a vida, por meio de Clay (o ator Dylan Minnette), um amigo da escola que cultivava por ela um amor platônico, secreto, centrado em seus atrativos pessoais. Por onde eu passei, encontrei adolescentes, pais, professores, pedagogos, psicólogos e psiquiatras conversando sobre o assunto. Um verdadeiro efeito dominó. Aquele efeito em que todos os eventos da cadeia estão interligados pela mesma relação de causa/efeito e são tocados um pelo outro conforme o lugar que ocupam.
Enquanto assistia aos episódios, fui me reconhecendo nessa cadeia. Reencontrei minha adolescência perdida, me reconheci como mãe e examinei com cautela as minhas responsabilidades e o meu jeito de ser psicóloga com adolescentes e seus pais.
Através dos personagens pude “re-viver” o sentimento de injustiça que toma conta dos adolescentes quando um adulto preocupado com o seu bem-estar critica o tempo que passam dormindo, as horas perdidas nas redes sociais, a falta de interesse pelos estudos e as respostas evasivas.
O que eles estão falando, diria um adolescente. Esses adultos já foram adolescentes e, por isso, deveriam lembrar do cansaço físico permanente; deveriam saber como é difícil ser um adolescente entre adolescentes e, mais, deveriam entender que é impossível querer estudar algo que na maioria das vezes é “completamente inútil para vida”.
Nossos adolescentes são assim, exatamente como nós fomos. Vivem intensamente o mundo interior apesar da aparente apatia, anseiam conhecer a si mesmos apesar de serem observadores meticulosos do outro, almejam independência e liberdade apesar da imaturidade intempestiva, manifestam uma confiança em si mesmos apesar de reconhecerem que podem perder a cabeça, desejam viver tudo o que há para viver em um segundo apesar de saberem que têm uma vida inteira para viver pela frente. São capazes de amar uns aos outros intensamente apesar se separarem por um motivo banal. E além de tudo isso, são pessoas sedentas por justiça social, que desejam resolver todos os problemas do mundo.
Pois é! Conciliar tudo isso não é nada fácil. Ora a balança pende para um lado, ora pende para o outro e ainda tem aqueles momentos em que a balança se desequilibra ao ponto de violentar, estuprar, abusar e bolinar aqueles que vivem os mesmos dilemas que os deles.
E assim, a duras penas, aprendem que um amigo, a qualquer momento, pode se transformar em um inimigo que viola o seu ser para esconder dor e drama pessoal.
E aqui estamos nós, pais, professores, pedagogos, psicólogos e psiquiatras, do outro lado desse complexo, olhando para os nossos adolescentes, cheios de conselhos para oferecer, regras e normas sociais para transmitir, conhecimentos para informar, verdades absolutas para difundir em detrimento da conversa que deixa espaço para falar sobre o que estão vivendo, como estão vivendo e que saídas estão encontrando para o que estão vivendo.
De uma forma muitas das vezes dolorosa, descobrimos que nós, tal qual os nossos adolescentes, também estamos em busca do equilíbrio. Ora a balança pende para um lado, ora pende para o outro e ainda tem aqueles momentos em que se desequilibra ao ponto de descuidar, abusar, violar e abandonar quem tanto ama.
Eu me sinto aberta para conversar sobre isso. E você?