A ansiedade é uma resposta natural do organismo diante de situações percebidas como ameaçadoras ou estressantes, sendo uma emoção comum experimentada por todos em algum momento da vida. Quando uma pessoa se sente ansiosa, pode manifestar preocupação, nervosismo ou apreensão em relação a algo específico, ou, em alguns casos, sentir uma sensação geral de inquietação.
Essa emoção também possui um propósito útil, não só nos incomoda, pois prepara o corpo para enfrentar desafios ou perigos, caracterizando o que chamamos de “ansiedade aguda”, que geralmente é de curta duração. No entanto, quando a ansiedade se torna intensa, persistente e atrapalha significativamente na vida cotidiana do indivíduo, pode indicar a presença de um transtorno de ansiedade.
Para explorar um pouco sobre o assunto sobre o viés da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), passaremos pelos itens abaixo:
— A ansiedade para Carl Rogers;
— Qual a importância da ansiedade para a psicoterapia?
— Como a psicoterapia ajuda o cliente a lidar com a ansiedade?
A ansiedade para Carl Rogers
Ansiedade, a partir de uma compreensão fenomenológica, se refere a um estado de mal-estar ou tensão, cuja causa a pessoa desconhece, porém, sente seus efeitos em sua vida.
A ACP enfoca a compreensão de pessoa, não de seus diagnósticos, contudo isso significa compreender a singularidade de cada indivíduo e sua experiência vivenciando diagnósticos, ou não, em significados individuais. O diminuir, ou eliminar, dos transtornos causados por um sofrimento emocional ocorrem a partir de um desenvolvimento emocional e uma reintegração de self que a pessoa alcança com os benefícios da psicoterapia. Olhamos a pessoa como um ser holístico, com diversas áreas de sua vida e cuidamos dela como um ser integral. Entendemos como a pessoa lida com seu jeito de ser, que pode ser ansioso, por exemplo, sua perspectiva de si mesmo, suas atitudes e emoções, o que lhe traz a expressão de sua autenticidade.
Segundo o autor da ACP, relacionamos o conceito de ansiedade à noção de incongruência, porque é essencial para compreendermos sua origem e os efeitos da ansiedade no jeito de ser e se expressar dos indivíduos. A incongruência, segundo a ACP, está relacionada ao autoconceito e a experiência organísmica das pessoas.
A incongruência é resultante das condições de valor condicional recebidas de outros para suprir a necessidade humana de consideração positiva, necessária ao amadurecimento psicológico dos humanos. Segundo as condições de valor condicional, uma pessoa nega ou distorce na consciência certas experiências que surgem no organismo. Isto resulta em distanciamento de tais experiências sem a devida percepção, simbolização e integração em seu senso de identidade. No entanto, essas experiências, sendo organísmicas, exercem uma força tão palpável — Rogers chama isso de “tensão” e “confusão interna” — que podem levar à consciência de sua negação ou distorção, e de qualquer discordância ou comportamento incompreensível que surge como resultado. Consequentemente, uma pessoa se torna “vulnerável ou ansiosa”.
Qual a importância da ansiedade para a psicoterapia?
Em 1957, ao desenvolver a teoria de sua psicoterapia, Rogers formulou as seis “Condições necessárias e suficientes” que precisam estar presentes na relação psicoterapêutica para o cliente iniciar um processo de mudança caracterizado pela diminuição das condições de valor, incongruência e autoalienação, e consequentemente, pelo aumento da autoestima positiva, integração de experiências ameaçadoras no autoconceito e a atualização organísmica, tornando-se uma pessoa em funcionamento pleno.
Dentro desses seis itens, o segundo que Rogers descreve é “Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de incongruência, estando vulnerável ou ansiosa” (1957, p. 160), desta forma, o autor indica que a incongruência é uma pré-condição essencial e a razão do cliente buscar a psicoterapia.
A incongruência emerge e se sustenta dinamicamente como uma característica da personalidade, sendo sinalizada na consciência pela ansiedade. À medida que a incongruência se revela, o indivíduo vivencia ansiedade, cujo grau depende da extensão no qual o autoconceito é ameaçado. Tentativas de evitar a ansiedade pela negação ou distorção da experiência geralmente não são bem-sucedidas, por deixarem uma pessoa em um estado de “vulnerabilidade ou ansiedade” (Veja o blog sobre a Consideração Positiva Condicional e seus efeitos na personalidade).
Rogers compreende a consciência da ansiedade como essencial para psicoterapia, pois a pessoa, para se conectar com seu processo de mudança da personalidade, precisa ter consciência de sua incongruência. Essa consciência gera a noção de um incômodo no seu jeito de viver, gerando assim, uma implicação pessoal e abertura ao estabelecer uma relação de ajuda.
Como a psicoterapia ajuda o cliente a lidar com a ansiedade?
A Abordagem Centrada na Pessoa respeita a autonomia do cliente, reconhecendo que eles são os especialistas de suas próprias experiências. O terapeuta não impõe soluções, mas colabora com o cliente para explorar suas ansiedades e descobrir seus próprios caminhos para cura e crescimento. Embora as experiências passadas possam ser relevantes, a ACP concentra-se principalmente nas emoções e experiências atuais do cliente.
O psicoterapeuta oferece uma atitude não julgadora e aceitadora em relação ao cliente, independentemente de sua ansiedade ou de outros problemas que possam estar enfrentando. A presença da Consideração Positiva Incondicional cria uma atmosfera de confiança e segurança, permitindo que o cliente fale sobre suas ansiedades sem medo de rejeição.
Ao ouvir ativamente seu cliente, o psicoterapeuta visa compreender os sentimentos e perspectivas do cliente. A Compreensão Empática ajuda o cliente a se sentir compreendido e validado, reduzindo sentimentos de isolamento e ansiedade, ampliando a percepção que tem de si e dialogando com o terapeuta sobre seu jeito de ser, desenvolvendo outras formas de enfrentamento para lidar com a sua realidade.
O terapeuta ao ser congruente, expressando seus próprios sentimentos e pensamentos genuinamente, demonstra uma expressão emocional saudável e incentiva o cliente a fazer o mesmo.
“É quando a Consideração Positiva Incondicional é comunicada pelo terapeuta no contexto da Compreensão Empática genuína de que as experiências organísmicas ameaçadoras podem ser simbolizadas com precisão e integradas no autoconceito e a incongruência resolvida” (ROGERS, 1959, p. 230).
O objetivo da Psicoterapia Centrada na Pessoa é facilitar o crescimento pessoal e auxiliar o cliente a construir um futuro mais satisfatório e pleno. Desta maneira, o terapeuta não prescreve intervenções ou técnicas específicas. Em vez disso, confia na capacidade do cliente de encontrar suas próprias soluções. Oferece apoio enquanto o cliente navega por suas emoções e desafios, explorando ativamente seus sentimentos, percepções e maneiras de lidar com suas ansiedades, para assim construir um jeito mais integrado de lidar com a realidade, com menos ansiedade.
Trabalhando o significado e efeitos da ansiedade, a Psicoterapia Centrada na Pessoa pode auxiliar os indivíduos a obterem uma compreensão mais profunda dos gatilhos, pensamentos e emoções relacionados à ansiedade. Através do relacionamento terapêutico, os clientes podem desenvolver uma maior autoaceitação, autocompaixão e estratégias de enfrentamento para gerenciar a ansiedade de forma eficaz. O sair de um estado de incongruência, do estado de desacordo interno, faz com que se diminua a presença de defesas e consequentemente da ansiedade.
A presença da ansiedade é inseparável do processo de reestruturação psicológica que Rogers trata como uma modificação do ‘eu’, objetivo da psicoterapia (NETO; PONTE, 2018). Na presença de um incômodo existencial, se torna necessário ao cliente o reconhecer de seu jeito de ser na vida, fazendo essencial o desenvolver e buscar recursos para lidar com a experiência de um modo mais assertivo.
É importante observar que existem pesquisas internacionais que comprovam a efetividade da psicoterapia pautada na Abordagem Centrada na Pessoa para auxiliar pessoas com ansiedade (ELLIOTT, 2013; VAIDYA, 2013) e diversos transtornos psicológicos. Na Abordagem Centrada na Pessoa, busca-se entender as dificuldades das pessoas em relação a si mesmas, suas emoções e seus relacionamentos, além de abordar sua capacidade de assumir responsabilidades inerentes ao momento presente. Portanto, faz-se necessário expandir a consciência da realidade e das relações que vivenciamos, ampliando a autoconsciência, podemos finalizar ciclos e iniciar um novo jeito de ser e experienciar a vida e suas mudanças.
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Referências
ELLIOTT, R. Person-centered/experiential psychotherapy for anxiety difficulties: Theory, research and practice, Person-Centered & Experiential Psychotherapies, 12:1, 16-32, 2013. DOI: 10.1080/14779757.2013.767750.
NETO, André Alves Ximenes; PONTE, Carlos Roger Sales da. A compreensão de angústia na psicoterapia de Carl R. Rogers: breve estudo. Rev. NUFEN, Belém, v. 10, n. 1, pp. 22-37, 2018. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912018000100003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 jul. 2023. http://dx.doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol10(1).n04artigo23.
ROGERS, C. R. A theory of therapy, personality, and interpersonal relationships, as developed in the client-centered framework. In: KOCH, S. (org.). Psychology: a study of a science. V. 3. Formulations of the person and the social context. New York: McGraw-Hill, 1959. pp. 186-252.
ROGERS, C. R. Condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica na personalidade. 1957. In: J. K. WOOD; J. R. DOXSEY; L. M. ASSUMPÇÃO; M. A. TASSINARI; M. JAPUR; M. A SERRA; R. WRONA; S. R. LOUREIRO; V. E. CURY. Abordagem centrada na pessoa. 5. ed. Vitória: EDUFES, 2010.
VAIDYA, D. Person-Centered & Experiential Psychotherapies (2013): Revisioning Rogers’ Second Condition – Anxiety as the face of ontological incongruence and basis for the principle of non-directivity in PCT therapy, Person-Centered & Experiential Psychotherapies, 2013. DOI: 10.1080/14779757.2013.836128
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