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A congruência, a incongruência e suas implicações

Segundo Carl Rogers (1980), a congruência é uma das atitudes facilitadoras necessárias para a promoção de uma relação que promove desenvolvimento humano. Ela refere-se ao estado de estar em alinhamento ou harmonia consigo mesmo. Rogers acreditava que a congruência é um componente essencial do crescimento pessoal e do bem-estar psicológico, sendo que esta atitude modificou muito o fazer do psicoterapeuta nas relações com seus clientes, passando ter um papel essencialmente ativo em uma relação de ajuda.

Para aprofundar um pouco sobre o assunto, passaremos pelos itens abaixo:

-O que é congruência?

-Qual é a diferença entre Congruência e Incongruência?

-Como a congruência facilita o desenvolvimento da personalidade?

-Como a Incongruência dificulta o desenvolvimento da personalidade?

-Como a psicoterapia ajuda no desenvolvimento da congruência?

-Dicas para se tornar mais congruente

O que é congruência?

No seu livro “Um jeito de ser”, Rogers (1980, p.116) conceitua a congruência como  

“O primeiro elemento (das atitudes facilitadoras) pode ser chamado de genuinidade, ser real ou congruência. Quanto mais o terapeuta é ele próprio no relacionamento, sem nenhuma fachada profissional ou fachada pessoal, maior a probabilidade de o cliente mudar e crescer de maneira construtiva. Isso significa que o terapeuta está sendo abertamente os sentimentos e atitudes que estão fluindo no momento. O termo “transparente” capta a essência dessa condição: o terapeuta se expressa de forma transparente/verdadeira para o cliente; o cliente pode ver através do que o terapeuta está no relacionamento; o cliente não experimenta resistência por a parte do terapeuta. Quanto ao terapeuta, o que ele está experimentando está disponível para a conscientização, pode ser vivido no relacionamento e pode ser comunicado, se apropriado. Assim, há uma correspondência estreita, ou congruência, entre o que está sendo experimentado no nível visceral/ profundo, o que está presente na consciência e o que é expresso ao cliente”.

No contexto da terapia centrada na pessoa de Carl Rogers, o terapeuta esforça-se para estar totalmente presente e aberto, expressando-se honestamente na relação com seu cliente, sem máscaras ou fachadas. Para Rogers (1983), a congruência está intimamente relacionada ao conceito de autorrealização, que se refere ao processo de realizar o verdadeiro potencial e se tornar a melhor versão de si mesmo. Quando as pessoas experimentam a congruência, elas são capazes de alinhar seus pensamentos, sentimentos e comportamentos com seu senso mais profundo de si mesmas. Esse alinhamento leva a um senso de autenticidade e autoaceitação, possibilitando o crescimento pessoal e a busca de objetivos significativos.

A congruência envolve um estado de harmonia do indivíduo consigo mesmo, onde pensamentos, sentimentos e comportamentos estão em alinhamento com o verdadeiro eu. Ou seja, meu jeito de me perceber e de me expressar precisão ser coerentes. Na psicoterapia, facilita-se a relação para que os clientes se tornem mais congruentes, saindo de uma desorganização emocional para um alinhamento de si.

Qual é a diferença entre Congruência e Incongruência?

Congruência e incongruência são estados opostos e representam diferentes aspectos da experiência psicológica de um indivíduo. A Congruência, como citado, refere-se a um estado de harmonia e alinhamento consigo mesmo e sua expressão. Quando as pessoas estão congruentes, há consistência e concordância entre seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Elas têm uma percepção clara e precisa de suas próprias experiências e são capazes de se expressar autenticamente, no presente das relações. A congruência está associada à autoaceitação, ao crescimento pessoal e ao bem-estar psicológico, ela é considerada a expressão de uma saúde psicológica.

Por outro lado, a Incongruência representa um estado de falta de harmonia ou inconsistência consigo mesmo. Ela ocorre quando há uma discrepância entre o autoconceito de um indivíduo e suas experiências reais ou percepção de si mesmo. Um exemplo disso é que a pessoa incongruente não consegue estar bem consigo próprio, é experiencia estados de tensão e angústia, que gera um estado de desorganização interior, fazendo-a se sentir em sofrimento e com dificuldades interpessoais, dificultando seu crescimento pessoal.  

A incongruência pode se manifestar como uma falta de autenticidade, onde as pessoas podem negar ou distorcer seus verdadeiros pensamentos, sentimentos ou experiências para atender às expectativas sociais ou obter aceitação dos outros. O objetivo da terapia é auxiliar as pessoas a passarem de um estado de incongruência para a congruência. Os terapeutas fornecem um ambiente de apoio e sem julgamentos, onde os clientes podem explorar e expressar seus verdadeiros pensamentos, emoções e experiências sem medo de rejeição. Ao promover a congruência, a terapia visa facilitar o crescimento pessoal, a autoaceitação e o desenvolvimento de um autoconceito mais preciso e integrado.

Como a congruência facilita o desenvolvimento da personalidade?

A congruência desempenha um papel crucial na facilitação do desenvolvimento da personalidade. A congruência permite que as pessoas se expressem de forma autêntica, sem fingimento ou distorção. Quando as pessoas estão em congruência, elas têm uma compreensão clara de seus pensamentos, emoções e experiências, e podem comunicá-los de forma honesta. Essa autêntica autoexpressão promove uma conexão mais profunda com a verdadeira identidade, favorecendo um senso de integridade e autoaceitação.

A congruência encoraja as pessoas a serem mais autoconscientes e reflexivas, pois ao estar sintonizado com suas experiências internas e reconhecê-las sem julgamento, as pessoas podem obter insights valiosos sobre suas motivações, valores e aspirações. Essa autoconsciência serve como base para o crescimento pessoal, permitindo que as pessoas identifiquem áreas para desenvolvimento e façam escolhas alinhadas com seu eu autêntico.

A genuinidade contribui para o bem-estar emocional ao promover a integração e aceitação emocional. Quando as pessoas estão em congruência, elas têm mais probabilidade de reconhecer, aceitar e expressar uma ampla gama de emoções, tanto positivas quanto negativas, de maneira saudável. Essa abertura e aceitação emocional podem levar a uma maior resiliência emocional, habilidades de enfrentamento aprimoradas e bem-estar psicológico.

A congruência está intimamente ligada ao crescimento pessoal e à autorrealização, pois quando as pessoas estão em congruência, elas podem abraçar plenamente seus talentos, interesses e valores únicos. Esse alinhamento com seu eu autêntico permite que elas busquem metas significativas, se envolvam em atividades gratificantes e experimentem um senso de propósito e satisfação em suas vidas.

O ser quem se é também impacta positivamente os relacionamentos interpessoais, porque as pessoas congruentes são mais genuínas e transparentes em suas interações com os outros. Essa autenticidade promove a confiança, aprofunda as conexões e promove uma comunicação saudável. Indivíduos congruentes são mais capazes de formar relacionamentos satisfatórios e significativos, conseguem se relacionar com os outros a partir de um lugar de abertura e autenticidade.

Como a Incongruência dificulta o desenvolvimento da personalidade?

Embora a congruência seja geralmente vista como facilitadora do desenvolvimento da personalidade, a incongruência também pode desempenhar um papel nesse processo.  

A incongruência destaca as discrepâncias entre o autoconceito de um indivíduo e suas experiências reais. Essa consciência pode servir como um catalisador para o crescimento pessoal e a autorreflexão. Reconhecer a incongruência pode motivar os indivíduos a explorar seus verdadeiros pensamentos, emoções e valores e buscar alinhamento com seu eu autêntico.

A inautenticidade pode criar uma sensação de desconforto ou insatisfação com o estado atual de uma pessoa. Esse desconforto pode servir como um motivador poderoso para os indivíduos buscarem o desenvolvimento pessoal e se esforçarem para alcançar a congruência. A incongruência pode levar os indivíduos a explorar novas perspectivas, questionar crenças limitantes e se envolver em experiências transformadoras que promovem a autodescoberta e o crescimento.

A incongruência pode levar os indivíduos a se envolverem em uma autorreflexão mais profunda, podem questionar as razões por trás de sua incongruência e explorar os fatores subjacentes que contribuem para ela. Esse processo introspectivo pode levar a um aumento da autoconsciência, uma melhor compreensão de seus valores e desejos, e a identificação de áreas para o desenvolvimento pessoal.

O desconforta causado pela incongruência pode motivar os indivíduos a buscar suporte e orientação de outras pessoas. Reconhecendo o descompasso entre seu autoconceito e suas experiências reais, os indivíduos podem recorrer a psicoterapeutas em busca de ajuda. Esse suporte externo pode fornecer insights, perspectivas alternativas e ferramentas para lidar com a incongruência e promover o crescimento pessoal. Esse processo geralmente envolve a exploração do eu, a autoaceitação e a tomada de decisões que estejam alinhadas com o eu autêntico. Ao abordar a incongruência e buscar a congruência, os indivíduos podem promover o desenvolvimento pessoal, melhorar a autoaceitação e cultivar um senso de si mesmo mais integrado e gratificante.

É importante ressaltar que, embora a incongruência possa servir como um catalisador para o crescimento pessoal, é geralmente vista como um estado do qual os indivíduos se esforçam para se afastar. A incongruência, embora possa ser potencialmente motivadora, também pode levar a angústia emocional, conflito interno e dificultar o desenvolvimento pessoal se não for abordada e resolvida.

Como a psicoterapia ajuda no desenvolvimento da congruência?

A psicoterapia pode ajudar significativamente no desenvolvimento da congruência. Ela cria um espaço terapêutico onde os indivíduos se sentem seguros, respeitados e aceitos. Nesse ambiente não julgador, os clientes são encorajados a explorar e expressar seus verdadeiros pensamentos, emoções e experiências sem medo de rejeição ou críticas. Essa atmosfera de apoio ajuda os indivíduos a desenvolverem um senso de confiança e abertura, facilitando o surgimento da congruência.

Através do diálogo terapêutico, os clientes podem obter uma compreensão mais profunda de seus valores, crenças, motivações e desejos. Eles podem examinar suas experiências, relacionamentos e padrões de comportamento, levando a um aumento da autoconsciência e percepção. Essa auto-exploração é um passo crucial para alinhar o autoconceito com o eu autêntico.

A psicoterapia encoraja os indivíduos a explorar e expressar suas emoções livremente. O terapeuta cria um espaço onde os clientes podem explorar com segurança suas experiências emocionais, incluindo sentimentos positivos e negativos. Ao abraçar e reconhecer suas emoções sem julgamento, os indivíduos podem desenvolver inteligência emocional, aprender a gerenciar suas emoções de forma eficaz e integrar suas experiências emocionais em seu eu geral.

O terapeuta apoia os clientes na identificação e busca de metas significativas, na exploração de suas paixões e interesses, e na tomada de decisões que estejam alinhadas com seu eu autêntico. Através desse processo, os clientes podem experimentar um maior senso de realização, propósito e congruência em suas vidas.

No geral, a psicoterapia oferece uma relação terapêutica e um processo estruturado que apoia os indivíduos no desenvolvimento da congruência. Através dessa jornada colaborativa entre cliente e psicoterapeuta, os indivíduos podem cultivar a congruência, resultando em crescimento pessoal, autoaceitação e alinhamento entre seu autoconceito e eu autêntico.

Dicas para se tornar mais congruente

Tornar-se mais congruente envolve alinhar seus pensamentos, emoções e comportamentos com seu eu autêntico. Aqui estão algumas dicas para ajudá-lo a promover a congruência:

Auto-reflexão: reserve um tempo para refletir sobre seus valores, crenças e desejos. Explore o que realmente importa para você e o que lhe traz uma sensação de realização. Envolva-se em práticas introspectivas para aprofundar sua autoconsciência.

Dedique-se a autenticidade: esforce-se para ser autêntico e genuíno em suas interações com os outros. Evite usar máscaras ou fingir ser alguém que não é. Permita-se ser vulnerável e expressar seus verdadeiros pensamentos, sentimentos e opiniões.

Seja honesto consigo mesmo: pratique uma autocompreensão honesta. Reconheça e aceite seus pontos fortes, fracos e áreas de crescimento. Seja honesto sobre suas emoções, mesmo que sejam desconfortáveis ou desafiadoras. Acolha a sua verdade, tanto positiva quanto negativa, é essencial para a congruência.

Pratique a autoaceitação e a autocompaixão: celebre todo o seu eu, incluindo suas imperfeições e erros do passado. Reconheça que você merece amor, compreensão e crescimento. Desenvolva uma consideração positiva incondicional por si!

Estabeleça e mantenha limites saudáveis em seus relacionamentos; tente se comunicar claramente suas necessidades, desejos e limites. Respeitar seus próprios limites ajuda você a valorizar seu eu autêntico e promove interações congruentes com os outros.

Envolva-se em atividades que combine com o seu eu autêntico, elas podem proporcionar uma sensação de realização e contribuir para a congruência.

Entenda seu crescimento pessoal como um processo contínuo: esteja aberto para aprender, evoluir e abraçar novas perspectivas. Esforce-se para alinhar seus comportamentos e escolhas com seu senso de identidade em evolução! Lembre-se, desenvolver a congruência é uma jornada e requer tempo e esforço. Seja paciente e gentil consigo mesmo enquanto navega neste processo de autodescoberta e alinhamento.

Considere procurar apoio de um psicoterapeuta, um profissional pode fornecer orientação, facilitar a autodescoberta e oferecer insights que ajudem em sua jornada em direção à congruência. a Psicoterapia presencial ou a Consulta Psicológica online podem ser o caminho!

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Referências utilizadas:

ROGERS, C. R. A way of being. New York: Houghton Mifflin Harcourt Publishing Company, 1980.

ROGERS, C. R. Um jeito de ser. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1983.

Juliana Fitaroni

Juliana Fitaroni

Psicóloga, CRP 18/02964

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