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Como os adolescentes entendem a morte 

Morte é uma palavra pouco presente na realidade dos adolescentes. No auge das suas vidas, da percepção de crescimento e potência do próprio corpo, a morte se apresenta como um elemento distante e improvável. O que quero dizer com isso? Que, apesar deles saberem do seu significado, ela se encontra emocionalmente longe, o que faz com que os lutos vividos por eles tenham um desafio diferente. Por isso hoje vamos buscar compreender como os adolescentes entendem a morte e algumas maneiras de contribuir para o seu processo de luto. Para isso, vamos caminhar pelos seguintes pontos:

Contextualizando a adolescência

A visão de morte para o adolescente

Maneiras de contribuir para a elaboração do luto

Contextualizando a adolescência

Ah, a adolescência é uma fase cheia de potência, intensidade de emoções, de crescimento e aventuras! Na busca pela própria identidade é um momento que o adolescente sente necessidade de se autoafirmar e encontrar grupos que se identifique. A saída da infância vem demarcada pela vontade de fazer as coisas por si mesmo e se desbravar nesse mundão como se não precisasse de mais ninguém! 

Sabemos também que é um momento de testar limites! Na adolescência viver na intensidade e extremos é uma forma de descobrir o que gosta ou o que não gosta, ou ainda os prazeres que pode apreciar. Apesar disso, há também muitos medos e inseguranças que dificilmente eles expressam, geralmente tentando se mostrarem fortes. Inclusive o medo da morte se faz presente, mas geralmente não a ponto de impedi-los de viver suas experiências.

Bem, estou relembrando as características da adolescência, pois é compreendendo esse momento cheio de vida e energia que vai nos ajudar a perceber a dificuldade que eles têm de se aproximar da morte, ou ainda de pensar que ela pode existir para qualquer pessoa.

A visão de morte para o adolescente

A ideia de morte vai sendo compreendida ao longo do nosso desenvolvimento desde a infância e vamos passando por diferentes etapas. Para o humano, mesmo no adulto, é muito comum conviver com a sensação de imortalidade, apesar de racionalmente a gente saber que vai morrer um dia! 

No período da adolescência essa sensação está no seu auge! Ainda que o adolescente possa conviver concretamente com as perdas e mortes (de amigos, familiares, etc.), a forma que ele enxerga as causas desses acontecimentos é por algum descuido que colocou a pessoa em risco, por falta de habilidade ou experiência.  

Ele não consegue pensar que a morte pode ocorrer por doença ou causas orgânicas, por exemplo, pois ele experiencia o seu corpo na maior potência que ele já teve! Faz sentido mesmo não é? Com todo esse pique e energia é difícil imaginar um corpo adoecido. Então é nesse mesmo sentido que o significado de morte para os adolescentes vem acompanhado com a sensação de derrota. De todo modo, em nenhum desses momentos ele imagina que isso vá acontecer com ele.

Outro ponto importante é que a percepção de risco é pouco desenvolvida ainda pelo cérebro adolescente. Desta forma fica muito difícil para eles compreenderem e medirem os riscos acabando por se colocarem em situações perigosas. Então, isso também reforça a sensação de que a morte é distante para eles, pois também não percebem os riscos que podem estar correndo.

Parece um pouco diferente pensar dessa forma, não é mesmo? Mas, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento psicoemocional tem uma relevância. O Adolescente que passa a ter uma presença forte do medo de morrer nessa fase, pode, assim, parar de se descobrir e de viver as suas experiências. Além disso, na adolescência é comum aquela sensação de “tudo ou nada” e muitas vezes quando a possibilidade de plano que ele gostaria não se concretiza, ele pode ir para o outro extremo que é não ver saídas. Essas vivências são sinais importantes para prestar atenção na saúde emocional do adolescente.

Maneiras de contribuir para a elaboração do luto

Bem, quando acontece a morte de alguém próximo e querido do adolescente, o adolescente vai se aproximar emocionalmente de um contexto que até então para ele estava muito distante. Conseguem imaginar o impacto que pode ser isso?

Veja bem, poder ajudar até mesmo no dia a dia a elaborar as diferentes perdas, que são próprias do desenvolvimento, é um fator contribuinte para a elaboração do luto. O adolescente pode estar emocionalmente distante da morte, mas vive o tempo todo encerramentos de ciclos, afastamentos, mudanças intensas. Todas essas experiências, quando possuem abertura para viver a perda, a conexão e expressão dos sentimentos e a readaptação, são bagagens importantes para o luto. São os diversos lutos que vivemos que nos ajudam a fechar uma etapa, uma fase de vida e até mesmo nos despedir de alguém.

Outro ponto importante é a abertura para ajudar o adolescente a compreender o que está vivendo. Conversar sobre a perda é uma forma de ajudá-lo a entender o que aconteceu. Quanto mais a família conseguir incluir a participação do adolescente no processo, é possível auxilia-lo a lidar com a ansiedade do desconhecido ou da imaginação que às vezes eles precisam fazer para compreender os fatos.

A abertura para a expressão dos sentimentos é poderosa e significativa. E aqui não falo apenas para o adolescente, mas para todos os membros da família. Ajudar a compreender os sentimentos que nos invadem com o processo de perda, como a raiva, culpa que são muito comuns, pode ser muito aliviante. No geral nos sentimos sozinhos com essas emoções, pois não sabemos o quão comum é senti-las.

É importante lembrar que, boa parte das vezes que o adolescente está de luto, é possível que toda a família esteja, sendo assim um momento difícil para todos. Fique sabendo que em nenhuma etapa do processo você ou o adolescente precisa viver isso sozinho. Entre em contato com profissionais da nossa equipe para saber mais das possibilidades de serviços que temos a oferecer, basta clicar aqui.

Um forte abraço, espero poder ter contribuído para compreender um pouco mais sobre os adolescentes que convivem contigo! 

Referência:
KOVÁCS, M. J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

Ana Luísa Remor

Ana Luísa Remor

Psicóloga, CRP 12/11646

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