Falar sobre a percepção de risco dos adolescentes talvez seja uma temática complexa para trazer aqui, mas necessária para contribuir compreensão dos nossos adolescentes. Por muitas vezes são dificilmente interpretados e acabam se sentindo sozinhos na sua realidade. Nós adultos facilmente nos distanciamos da adolescência, enxergando de uma maneira equivocada. E veja, não estou trazendo isso com um julgamento negativo, mas reconhecendo aqui que é difícil enxergar as fases de vida diferentes da nossa. Isso faz parte do nosso processo de amadurecimento, no entanto, temos capacidades de compreender o outro, principalmente quando diminuímos a necessidade de olhar o mundo apenas por uma ótica (no caso a nossa). Por isso estou aqui para mostrar um pouquinho da perspectiva deles e desta forma contribuir para você enxergar de uma maneira mais próxima dos adolescentes. Desse movimento podem surgir encontros produtivos.
A adolescência tem um universo de questões características, mas nesse blog vou me atentar a três pontos que acredito estarem entre os motivos de dificuldade de compreendê-los:
- Intensidade das emoções
- Capacidade de se colocar em situações de risco.
- Percepção de risco dos adolescentes
E por fim, refletir sobre a Importância da nossa aproximação com eles para contribuir na percepção de riscos
Intensidade das emoções
Pensar sobre as sensações e questões emocionais comuns na adolescência não é uma tarefa fácil. Há uma forte presença de uma dificuldade de se sentir compreendido, não saber o que está sentindo ou o motivo de estar com sentimentos tão intensos. Com isso vem a dificuldade de se comunicar e de se expressar. Entender por que os adolescentes passam por tantas inquietações e pensar em formas para dialogar com eles pode ser o primeiro passo para diminuir essa sensação de distância que às vezes sentimos na relação com o adolescente.
É muito comum eles passarem pela sensação de que ninguém mais está passando por essas dificuldades, e ter alguém para ajudá-lo a saber que não está sozinho, nas suas inquietações, pode ser um alívio significativo. Essa fase possui mesmo todas essas intensidades e tons de sentimentos e ainda estão desenvolvendo e amadurecendo a sua capacidade cerebral de lidar com esse monte de coisas… ah, se você tivesse ideia disso, na sua adolescência, como será que se sentiria? Estou compartilhando essas informações, porque saber disso tudo pode ser também uma forma de te ajudar a compreender o adolescente nesse momento.
Capacidade de se colocar em situações de risco
Apesar de eu ter começado a falar de sensações difíceis, essa questão de intensidade não se dá apenas às dificuldades, mas às alegrias e desafios também! Animação, energia, curiosidade, tudo parece mais vivo e mais intenso! É um momento deles explorarem o mundo e o que geralmente acontece é que os adolescentes acabam não medindo muito os riscos e as consequências! O que provavelmente te deixa super preocupado, não é mesmo?! Então, vamos lá conversar sobre esse ponto
Bem, os chamados comportamentos de risco podemos dizer que se referem a formas que podem trazer prejuízos físicos ou emocionais. Mas se eu for apenas por esse significado, pode ser que esse blog fique superficial e passando uma imagem equivocada dos adolescentes. Inclusive é o que eu acredito que acabe acontecendo nas relações. É muito comum associar os adolescentes como imprudentes.
É muito diferente olhar de fora ou de tentar compreender a experiência. E a ideia hoje é identificar aspectos da percepção de risco pela visão deles. Saiba que toda essa questão sobre dificuldade de lidar com as emoções e tomadas de decisão fazem parte de áreas do cérebro ainda em desenvolvimento na faixa etária do adolescente. Eles não enxergam certos riscos e perigos da mesma forma que nós adultos. É, então isso implica em dizer que ele não está fazendo certas coisas necessariamente só para te provocar. Pode ser que não tenha se dado conta mesmo da roubada que acabou se metendo.
Percepção de risco dos adolescentes
A maioria das situações de risco falam de experiências de mundo relacionadas com o testar limites e curiosidade. O que chama para esses comportamentos não são os riscos em si, esses quase que passam despercebidos pela percepção de risco dos adolescentes, mas sim a descoberta de algo novo, de um exercício da autonomia, uma forma de se compreender ou às vezes a busca por um pertencimento de grupo. Além disso, atingir os limites do “proibido” pode entrar numa mistura de buscar conhecer os seus limites e apostar que nada vai dar errado, mesmo que não tenha ainda noção das consequências que podem surgir de certas decisões ou comportamentos.
A intensidade deles pode fazer mergulhar de cabeça nas coisas, pois eles não pensam na possibilidade de adoecer ou do corpo não dar conta. Eles estão no auge na energia e vivacidade, qualquer problema físico ou morte é muito distante da realidade deles. O que acaba dando uma dose de coragem e impulsividade que nós adultos interpretamos como irresponsabilidade! Obviamente não escolhem fazer as coisas pensando no que pode lhes fazer mal, mas no que podem ganhar ou aprender, ou ter prazer com isso.
Ou, por outro lado, podem estar em um momento de intensidade das emoções que sejam difíceis de expressar e acabam também buscando vias intensas (como a automutilação, por exemplo). Nesse caso, além da atenção redobrada dos pais, é muito importante iniciar um acompanhamento com profissionais de saúde.
Importância da nossa aproximação com eles para contribuir na percepção de risco
Bem, a minha ideia de trazer esses pontos para você é no sentido de tentar contribuir para diminuir o julgamento de valor em relação aos adolescentes e não esquecer que eles estão em processo de desenvolvimento! Nosso papel como adultos da relação é estar próximo e possibilitar encontros significativos, com relações que facilitem a compreensão dos sentimentos, proporcionem o acolhimento. Todas essas ações são protetivas, pois em um encontro com segurança e o menor julgamento possível há abertura para se falar sobre as dificuldades, as curiosidades, as dúvidas, o que pode diminuir a vontade de se experimentar em certos contextos, pois a conversa e o encontro já contribuíram de certa forma para compreender melhor os seus impulsos.
A busca por uma conversa realmente com abertura para simplesmente ouvi-los surte efeitos positivos, muitas vezes inesperados.
Pode ser que o que você encontre no convívio com o adolescente sejam questões próprias do desenvolvimento ou outros sinais que necessitam de maior alerta e cuidado. Em todas as formas é possível ter o acompanhamento de um profissional da psicologia para caminhar ao lado, tanto do adolescente, quanto dos pais ou das pessoas que ofertam esse cuidado, por meio de orientações. Caso isso tenha despertado a sua vontade, clique aqui e entre em contato com uma das nossas psicólogas!