O sentimento de culpa é um sentimento presente na vida de todas as pessoas, inevitavelmente em algum momento é um sentimento que vai nos acompanhar. No entanto, a maternidade é sabidamente um momento em que o sentimento de culpa se faz presente de forma muito intensa e frequente.
Se você é mãe e sente a culpa materna, vem conosco refletir como encarar este momento:
- O que é o sentimento de culpa?
- A culpa e a sua relação com a maternidade.
- 4 dicas para encarar a culpa materna.
O que é o sentimento de culpa?
Para fins de definição, podemos compreender o sentimento de culpa como uma ação ou omissão que gera um sentimento de responsabilidade por danos ou prejuízos que podem ter sidos causados. Em outras palavras, é um sentimento que aparece quando nossas ações, ou ainda a falta de ações, nos leva a acreditar que prejudicamos alguém ou até a nós mesmos.
Os sentimentos, por si só, não são bons ou ruins, eles nos ajudam para que nos aproximemos de nós mesmos. O sentimento de culpa, neste caso, nos ajuda a refletir sobre as nossas próprias ações e a nos responsabilizarmos por elas. Este sentimento nos faz perceber se fizemos algo que reprovamos nas nossas atitudes.
A culpa nos faz perceber que somos responsáveis pelas nossas ações e que conseguimos julgá-las, se são corretas ou não, se prejudicam a nós mesmos ou a outras pessoas, trazendo coerência para nossas atitudes.
Esta noção do que é correto é, de certa forma, subjetiva, ela é construída pela forma com a qual nos relacionamos com os outros, é construída socialmente e culturalmente. Por isto, apesar de a culpa ser um sentimento que pode nos ajudar em nosso crescimento, por vezes estamos com percepções distorcidas, incompletas do que vivenciamos. Isto pode fazer com que entremos em ciclo de ansiedade, angústia, um sentimento de culpa tão imenso e desproporcional que nos paralisa e causa prejuízos emocionais significativos.
Quais as relações entre a culpa e a maternidade?
Já refletimos sobre o sentimento de culpa mais geral, no entanto, quando se trata da maternidade, este sentimento pode aumentar de intensidade e frequência, afinal de contas, um ser humano indefeso e com grandes demandas está sob total responsabilidade da mãe.
As mães, desde a gestação, iniciam em um processo de transformação e de busca pela perfeição: precisam cuidar muito da sua alimentação e bem-estar porque influencia decisivamente na formação do bebê; precisam pensar no parto, no que é mais saudável para si e para o bebê e ainda tem a amamentação, encarada como se fosse um processo muito natural e que, geralmente, não acontece muito tranquilamente. As mães são bombardeadas de informações de qual o caminho devem percorrer para se tornarem mães perfeitas.
A pesquisadora Valeska Zanello e outros autores, em um artigo sobre a Maternidade na pandemia, traz um resgate histórico do papel da maternidade. Ela diz que a maternidade nem sempre foi assim como a conhecemos. Cuidar é uma habilidade humana que pode ser exercida por qualquer pessoa, independente de idade, sexo, condição social, entre outros, mas que acabou sendo naturalizada como algo instintivo das mulheres mães.
A pesquisadora localiza um dos pontos, onde a culpa materna foi historicamente produzida: “Primeiramente, mulheres foram demandadas a amamentarem seus filhos. Em um segundo momento, a educá-los. Por fim, a partir do início do século XX, foi construída a ‘maternidade científica’, através dos discursos da pediatria e dos campos da psicanálise e das psicologias, que defendiam a ideia de que a mãe seria a grande responsável pela personalidade ou estrutura emocional dos filhos”.
Em outras palavras, sabemos que as cobranças relacionadas a maternidade são cada vez mais altas, estamos vivendo um período de construção de um ideal de maternidade inatingível. As mães são cobradas e se cobram por uma perfeição impossível de ser vivenciada. Sentimentos de culpa, de inadequação, de incapacidade fazem parte da rotina da maternidade.
E o que realizar diante desta situação? Seguimos com algumas dicas que podem nos ajudar a encarar com mais leveza a maternidade e os sentimentos de culpa gerados por ela.
Dicas para encarar a Culpa Materna
São muitos os caminhos que podem ajudar a lidar com a culpa materna e a maternidade de forma geral, aqui temos algumas dicas:
- Reconhecer a realidade da maternidade: quando encaramos de forma mais realista a maternidade, tendemos a reconhecer que a maternidade perfeita não existe, começamos perceber a realidade como ela é de fato. Um processo difícil, desafiador, mas que não é uma competição pela melhor mãe, tampouco há necessidade de romantizar a maternidade;
- Ter uma rede de apoio: por vezes, as mães sentem-se na obrigação de dar conta de tudo sozinhas, estão sobrecarregadas e exaustas, como se aguentar tudo fosse sinônimo de força. Não podem demonstrar cansaço ou impaciência, tendo que dar conta de todas as exigências que envolvem educar uma criança. Ter uma rede de apoio ajuda a perceber que existe além da mãe, uma mulher, que também precisa de cuidados;
- Compartilhar os desafios da maternidade: às vezes compartilhar com pessoas de confiança os sentimentos gerados pela maternidade, quais são as situações e contextos onde o sentimento de culpa aparece, pode ajudar a perceber a realidade com mais clareza e perceber se o sentimento de culpa tem algum fundamento nesta situação;
- Tenha autocompaixão: uma pesquisa realizada pela psicóloga Adriana Drulla, constatou que a autocompaixão materna foi diretamente relacionada a autocompaixão dos adolescentes. Ou seja, quando mais as mães estavam atentas as suas dificuldades e limitações, sabendo que os erros fazem parte do processo de aprendizagem, mas transmitiram isto para seus filhos. Um olhar mais gentil e acolhedor para si mesma, faz toda a diferença na maternidade.
Em resumo, o sentimento de culpa é algo que existe em nós mesmos, que faz parte da nossa vida, mas que na maternidade ganham contornos ainda mais complexos e desafiadores. É preciso que estejamos atentos a estes sentimentos, para não sermos tomadas pelo sentimento de culpa, de incapacidade e menos valia na nossa forma materna. Se todo este processo estiver muito difícil ou confuso, uma consulta com um psicólogo também pode ajudar, fique a vontade clicando aqui.