Este blog é para você, pai e mãe, que alimentou lindos sonhos com a maternidade e com a paternidade. Que imaginou, que sonhou, que idealizou um filho. Que pensou desde como gostaria que fossem suas características físicas até detalhes do seu comportamento e do seu jeito de ser. E aí vem a realidade, e muito provavelmente, o filho tão idealizado não se concretiza, e, mais do que isto, às vezes as idealizações criadas não nos permitem ver nossos filhos como eles realmente são.
Meu filho não é como eu idealizei é um texto para refletirmos o quanto as nossas expectativas podem interferir nas nossas relações com os nossos filhos. E o quanto temos de desafios quando partimos desta perspectiva da idealização.
Construiremos nossa reflexão passando pelos seguintes tópicos
- Quais eram seus sonhos?
- Quais as implicações de se esperar o filho ideal?
- O que faço agora? Como encarar a realidade?
Quais eram os seus sonhos?
Muito possivelmente, o início da construção dos nossos sonhos nos remete as nossas brincadeiras infantis, com bonecas que atendem aos nossos pedidos, com amigos que dividem conosco o mesmo cenário de brincadeiras de ter filhos.
Na adolescência, já com mais propriedade das relações familiares, pensamos nas nossas próprias dores e no que faríamos diferente com nossos filhos. Mas também avaliamos os acertos dos nossos pais e começamos a pensar também no que faríamos igual com nossos filhos.
Começamos a olhar para as crianças ao nosso redor e passamos a construir mais ainda a nossa própria parentalidade: uma criança que tem alguma crise em público e geralmente pensamos que nossos filhos nunca farão igual. Ou ainda começamos a perceber características de crianças e a delimitar ainda mais nossa idealização: meu filho não vai ser nervoso, não vai ser irritado, não vai ser tímido, não vai ser agitado, vai respeitar tudo que eu disser, mas obedecer nos mínimos detalhes, vai ter boas notas, bom, e por aí vai.
E na gestação, quando o grande sonho está prestes a se tornar realidade, a idealização só aumenta, torcemos que venha muito saudável, que durma a noite toda, que seja calmo.
Os sonhos com certeza são particulares, as características idealizadas são diferentes de pessoa para pessoa, mas o fato é que elas existem. É inegável que sonhamos com um ideal de filhos! E a pergunta principal é: Quais eram os seus sonhos?
Reconhecer isto é um primeiro passo, reconhecer as nossas idealizações é algo bem importante, pois contribui para que possamos localizar o que parte de nós na relação com os filhos. E tendo clareza disto, é um caminho para que possamos também fazer as mudanças necessárias para melhorar a nossa relação com o nosso filho real.
Quais as implicações de se esperar o filho ideal?
Se pensarmos sob a ótica dos pais, a frustração constante é quase que inevitável. Por mais que a criança faça, dificilmente conseguirá atingir estas expectativas tão sonhadas. E a busca deste ideal faz com que façamos um esforço na direção de tentar moldar nossos filhos, fazer com que correspondam aos que esperamos, com que atendam as nossas vontades, que se ajustem à nossa maneira.
As vezes motivados pelas experiências que já vivemos, sejam elas boas ou que nos trouxeram sofrimento, pelo que achamos certo ou errado, pelos padrões sociais e culturais que acabamos tomado como verdade absoluta, transformamos a nossa parentalidade em uma verdadeira saga em busca do filho perfeito. E esta saga em um ambiente familiar, geralmente contribui para conflitos constantes.
E se ficarmos pautados na nossa idealização, que espaço possibilitamos para que nosso filho seja quem ele é?
Além de tudo isto, quando estamos focados em ideais temos a tendência de negar o que a realidade nos traz. Por exemplo, se nosso filho tem algum ponto de atenção no seu desenvolvimento, se tem por exemplo, alguma suspeita de autismo, de problemas de aprendizagem ou sofrimentos emocionais, muitas vezes demoramos para procurar ajuda profissional às vezes por achar que de alguma forma, conseguiremos resolver tudo sozinhos ou ainda que falhamos como pais.
Se pensarmos sob a ótica de dos filhos, ser cobrado para ser o filho ideal também gera dificuldades. Imagine o dia a dia de quem recebe críticas e correções em cada ação que faz, que nunca consegue fazer o suficiente para ser valorizado. E aqui podemos ter alguns cenários diferentes, filhos que se afastam de quem realmente são para atender as vontades e desejos dos pais, com o olhar sempre voltado para o outro, ao invés da referência ser interna, quem eu sou e o que quero nesta situação, passa a ser uma referência sempre externa, o que meus pais esperam que eu faça nesta situação?
Outra possibilidade são filhos que compreendem que as idealizações dos pais são inatingíveis e passam a confrontá-los em busca de ser quem realmente são, por vezes, até se afastando ou rompendo relações.
Estas perspectivas que envolvem cobrar um filho para ser o ideal imaginado, de uma forma geral, tendem a causar sofrimentos psicológicos para os envolvidos, estremecendo relações, dificultando uma vida saudável juntos. Na prática clínica nos deparamos constantemente com situações de conflitos nas relações por conta destas diferenças do filho real e do filho idealizado.
O que faço agora? Como encarar a realidade?
A partir destas reflexões que fizemos, a pergunta que fica pode ser justamente esta: o que posso fazer agora? Percebida a situação, temos muitas formas de mudanças, o caminho pode ser construído a partir das seguintes dicas:
- Faça uma reflexão profunda sobre você mesmo, quais as idealizações você foi construindo ao longo dos anos? Revisite sua infância, olhe com carinho para os seus medos, suas dificuldades, suas angústias. Autoconhecimento pode fazer muita diferença neste momento, se reconheça, se descubra, ter clareza do que parte de você na relação com os filhos pode ajudar muito.
- Olhe para seu filho com outros olhos. Que ele é? Quais são as suas características? Tenha foco na realidade, em quem ele já é, no que ele já conquistou, não em quem você gostaria que ele fosse. Tenha certeza de que seu filho tem uma imensa potência já nele, esteja disposto a conhecê-lo.
- No caso de você perceber alguma dificuldade em seu desenvolvimento ou na sua aprendizagem, é preciso ter em mente que um diagnóstico, ou uma dificuldade não reduz seu filho àquilo. Ele sempre vai ser muito mais do que as suas limitações.
- Tente perceber como está a sua relação com seu filho. Construa ou reconstrua a relação que faz sentido para vocês, juntos. E lembre-se de que este movimento pode ser em qualquer tempo. Muitas vezes, ouvimos dos pais que a relação já não tem como dar certo, de que foram anos vividos no mesmo formato. Sempre há tempo de reconstruir uma relação, e é preciso estar disposto a isto.
Enfim, muito provavelmente o seu filho não é exatamente o filho que você idealizou, mas com certeza ele é muito especial, cheio de potência e com um jeito de ser único. É sempre importante pensarmos nas nossas expectativas e idealizações nas relações, especialmente quando se trata da maternidade e paternidade. Mas a gente sabe que este movimento às vezes é muito difícil, que as vezes é difícil saber até por onde começar. Se este for o caso, uma ajuda profissional pode ser importante, conte com nossa equipe de psicólogos, através deste canal aqui.
2 respostas
Olá gostei muito das reflexões do texto. Gostaria de continuar a ler sobre o assunto. Alguma indicação de livros? Obrigada.
Olá, Vanessa, Boa tarde! Que ótimo saber do seu interesse em conhecer mais sobre o assunto. Acho que leituras que apresentem o desenvolvimento infantil, podem te ajudar a compreender um pouco mais sobre quem são seus filhos. E uma consulta psicológica também pode te ajudar a compreender um pouco sobre essas expectativas para que você de novos significados para essas emoções. Se tiver interesse, estaremos por aqui! Um forte abraço