Ultimamente tenho me interessado muito sobre comunicação e relações interpessoais de qualidade, por isso tenho lido muito sobre o assunto para aprender sobre o que existe que pode me auxiliar a compreender os impactos das relações interpessoais na vida das pessoas e como podemos melhorá-las.
Em uma de minhas pesquisas, conheci a Disciplina Positiva. A Disciplina Positiva tem esse nome, pois se compreende que os adultos devem auxiliar na instrução das crianças, sendo importante ressaltar que ela nunca é violenta, agressiva ou crítica, não tendo um caráter punitivo. Ela pode ser usada por pais, professores, casais, líderes empresariais e comunitários para aprender a criar relacionamentos responsáveis, respeitosos e cheios de recursos em suas comunidades. Portanto, ela pode auxiliar na qualidade das relações interpessoais entre adultos-crianças.
Para entender o que é a Disciplina Positiva e suas implicações, vamos passar pelos seguintes pontos:
– O que é a Disciplina Positiva
– Princípios das relações positivas
– Benefícios de uma Parentalidade Positiva
– Dicas para praticar a Disciplina Positiva
O que é a Disciplina Positiva
A expressão ‘Disciplina Positiva’ se tornou mais popular na década de 1980, com o lançamento do livro “Positive Discipline” (1982) da Dra. Jane Nelsen. A Disciplina Positiva é uma forma de se estabelecer relações que une filosofia de vida e ferramentas práticas para melhorar relacionamentos entre pais e filhos, professores e alunos, entre casais e colegas de trabalho. Baseando-se em estudos científicos que investigaram as necessidades dos seres humanos em desenvolvimento, a Disciplina Positiva se baseia em três princípios: afeto; respeito; e aprendizado mútuo.
A Disciplina Positiva propõe que para se facilitar o desenvolvimento de crianças e educá-las, se faz necessário se estabelecer uma relação de troca. Desta forma, a criança deve receber amor e ensinamentos, mas o adulto deve estar preparado para aprender com elas. Além disso, é preciso ajudar as crianças a se sentirem como parte da sociedade em que vivem, seja ele uma família, a escola ou um bairro.
A Disciplina Positiva visa a educação por meio de afeto, compreensão e colaboração. Ela se baseia na troca de experiência e no fato da pessoa saber que pertence a uma sociedade e que suas ações a afetam. Por isso, a Disciplina Positiva tem pontos similares com a Abordagem Centrada na Pessoa, em que se compreende que toda criança tem a necessidade de cuidados e zelo, pois não é autônoma e busca pela consideração positiva incondicional, o amor que as pessoas significativas têm por ela.
Por ainda estar em desenvolvimento, as crianças dependem da mediação de outros para sobreviverem, necessitando de cuidados e atenção. É a partir de interações sociais que as crianças vão desenvolvendo habilidades de reconhecerem a si mesmo e a outros. A Disciplina Positiva traz reflexões que podem ajudar aos pais a compreenderem melhor as fases e os desafios presentes ao se educar uma criança, trazendo reflexões e estratégias que auxiliam aos cuidadores principais, aos professores e pessoas que convivem com crianças, para que assim se facilite um desenvolvimento mais saudável e com menos conflitos no dia a dia das famílias e relações.
A Disciplina Positiva é contra os comportamentos de punição de crianças. Quando a criança é castigada, ela pode desenvolver medos, baixa autoestima, dificuldade de se comunicar, problemas para acreditar em si mesmo, vergonha, dúvidas, traumas, culpas, entre outros sentimentos que atrapalham o desenvolvimento saudável e feliz das crianças. Ela considera que as crianças estão em desenvolvimento e precisam do exemplo e facilitação dos adultos para conseguirem aprender a identificar seus sentimentos e desenvolver formas de autorregulação.
Princípios das relações positivas
A premissa deste modelo é auxiliar as pessoas a encontrarem um sentimento de pertencimento e significado seguindo cinco critérios-chave, que se aplicam a relacionamentos adultos e à parentalidade:
– Ajuda as crianças a desenvolverem uma sensação de conexão, se sentirem pertencentes e em relações significativas;
– A relação positiva deve ser mutuamente respeitosa e encorajadora, as relações devem ser embasadas em gentileza e conter limites seguros;
– A parentalidade positiva é eficaz a longo prazo, como comprovado cientificamente. Ela considera o que a criança está pensando, sentindo, aprendendo e decidindo sobre si mesma e seu mundo — e o que fazer no futuro para sobreviver ou prosperar;
– Uma relação que considera os potenciais das pessoas e ensina importantes habilidades sociais e de vida. As relações positivas devem ter como princípio o respeito, a preocupação com os outros, incentivando a resolução de problemas, a comunicação e cooperação nas relações, bem como as habilidades para contribuir com o lar, a escola ou a comunidade em geral;
– O formato da relação positiva convida as crianças a descobrirem como são capazes, pois, encoraja o uso construtivo do poder pessoal e da autonomia. Os adultos são facilitadores destes aprendizados.
Benefícios de uma parentalidade positiva
Não faz parte da Disciplina Positiva o autoritarismo, a permissividade e uma educação sem regras. Pelo contrário, a Disciplina Positiva é uma maneira equilibrada de educar por meio de uma boa relação entre adultos e crianças.
Há evidências empíricas de inúmeros artigos que indicam que a parentalidade baseada na Disciplina Positiva promove um apego seguro entre pais e filhos; uma maior motivação entre os bebês; uma melhor adaptação escolar entre as crianças; o aumento do otimismo entre as crianças; o aumento da autoestima em crianças e adolescentes; redução de problemas de comportamento entre as crianças; o aumento da capacidade de aprendizagens cognitivas e sociais entre crianças em idade pré-escolar; o aumento da resiliência entre crianças e adolescentes.
Os principais benefícios aos adolescentes são um melhor funcionamento psicossocial entre pares, gerando a redução dos sintomas depressivos e o aumento da autoestima, consequentemente há a redução de comportamentos problemáticos e aumentos de comportamentos de enfrentamento, facilitando o sucesso dos objetivos educacionais e as aspirações de trabalho. Já nas famílias, a parentalidade positiva gera a diminuição de conflitos e estresses familiares, aumentando a coesão familiar e melhorando a comunicação e organização entre os membros deste núcleo social.
Dicas para praticar a Disciplina Positiva
Perceberam que a Disciplina Positiva necessita que os adultos saibam se comunicar e se relacionar de forma facilitadora com as crianças? A parentalidade por si só é muito desafiadora, por isso você pode começar refletindo sobre o formato da relação com a sua criança, tentando perceber o que tem obtido sucesso ou atrapalhado.
Aqui vão algumas dicas que podem lhe motivar e lhe auxiliar a colocar em prática a Disciplina Positiva:
Demonstre respeito: trate a criança da mesma forma respeitosa que você gostaria de ser tratado. Muitas vezes tratamos as crianças de forma autoritária e sem considerar que elas possuem sentimentos e necessidades. Reflita como você se relaciona com a sua criança e se questione se tratasse um colega ou amigo da mesma forma, ele iria querer continuar se relacionando com você;
Ofereça alternativas para os comportamentos incompatíveis: proporcione à criança um comportamento ou possibilidade que substitua o comportamento indesejável, como brincar com um jogo ao invés de assistir TV ou ficar no celular. Não precisa sempre dar pronta a alternativa, podendo também pensar junto com a criança alguma nova atividade;
Auxilie a escolha da criança: dê à criança duas opções possíveis para que ela sinta a sensação de poder escolher. Por exemplo, você pode dizer “você prefere tomar banho antes ou após escovar os dentes?”, isso vai facilitar a colaboração da criança;
Conecte-se com a criança: assegure-se de que a criança se sinta amada e cuidada antes que os problemas de comportamento sejam analisados. Ela tem que perceber que independente de seu comportamento você continua a amar;
Valide os sentimentos da criança: compartilhar sua compreensão de seu comportamento vai fazer com que a criança se sinta ouvida, contribuindo para a mudança do comportamento que está gerando algum conflito;
Ajude na construção de pertencimento: certifique-se que sua criança se sinta importante e pertencente na família e sua comunidade. Por exemplo, valide e agradeça a ajuda da criança nas tarefas que ela realiza. Por exemplo: você pode pedir que ela organize a mesa do jantar enquanto termina a refeição, mostrando como sua contribuição é importante na partilha de tarefas da cozinha e que a família precisa dessa ajuda para jantar.
Uma pessoa mais consciente de si e das suas emoções consegue entender melhor os conceitos da Disciplina Positiva e se conectar emocionalmente com sua criança. O objetivo da Disciplina Positiva é normalizar bons hábitos e relações no ambiente familiar e sociedade, não porque são algo que consta em um livro e serve como estímulo para pessoas em desespero, desejando mudar o comportamento de sua criança, mas como algo que faz todo sentido porque simplesmente demonstra que estar mais conectado com o amor como base relacional proporciona um desenvolvimento saudável de pessoas.
Essas são algumas sugestões para ampliar sua consciência de suas relações e iniciar algumas pequenas mudanças em seu cotidiano. Estar em uma relação terapêutica pode potencializar muito suas transformações nesse desafio de educar pessoas com mais saúde psicológica. Se você precisar de ajuda nesse processo, conte com nossa equipe! Clique aqui e converse com uma de nossas psicólogas para conhecer mais e entender o que faz sentido para você.