Blog do Espaço

Perfeccionismo: é ou não é uma doença?

A Associação Americana de Psicologia (APA) define o perfeccionismo como a “tendência a exigir dos outros ou de si mesmo um nível de desempenho extremamente alto, ou mesmo impecável, além do que é exigido pela situação”. Ressalta ainda que ele está associado às diversas formas de sofrimento psíquico, como a depressão, ansiedade, os distúrbios alimentares e outros problemas de saúde mental.

Para entender o perfeccionismo, vamos passar pelos seguintes pontos:

  • O que é o perfeccionismo
  • Tipos de perfeccionismo
  • Indicadores de que o perfeccionismo pode nos adoecer
  • Dicas para lidar com o perfeccionismo

O que é o perfeccionismo?

O perfeccionismo é um jeito de ser e se expressar que se baseia em uma cobrança em realizar as tarefas de modo perfeito, não sendo admitidos erros ou resultados pouco satisfatórios para o seu padrão. A pessoa perfeccionista normalmente possui alto padrão de cobrança sobre si e sobre os outros. O foco de atenção de um perfeccionista está nos erros, dificultando as aprendizagens, aumentando sua sensação de frustração e descontrole diante das atividades e realidade.

O perfeccionismo é usualmente associado à vulnerabilidade, para evitar a sensação de desamparo, e à falta de resiliência, a pessoa pode não se perceber com condições necessárias para lidar com questões inesperadas. Essas características podem causar problemas nos relacionamentos interpessoais, já que a exigência da perfeição cria expectativas, e os perfeccionistas, se não conscientes de si, podem se tornar críticos dos parceiros e dos demais com quem se relacionam.

O perfeccionismo só é percebido como um problema quando o ele se torna uma obsessão e causador de frustração, sentimentos de incapacidade e fraqueza. Neste caso, é importante procurar a ajuda de um profissional para avaliar a intensidade e prejuízos trazidos ao cotidiano e evitar que esse sentimento se transforme em um gatilho para transtornos como ansiedade e depressão.

Tipos de perfeccionismo

Existem alguns tipos de perfeccionismo, que podem ser compreendidos a partir dos fatores que influenciam o seu desenvolvimento. Eles são o perfeccionismo pessoal, o social e o relacionado a outros.

O perfeccionismo pessoal, é aquele em que a pessoa se cobra muito com uma preocupação e uma exigência excessiva pelo perfeito. Desta forma, ela se enxerga de modo muito crítico e tenta controlar o que lhe é possível, para nada sair do esperado.

O perfeccionismo social é o que a pessoa tem muito medo do que os outros interpretarão seus comportamentos e julgamentos dela, está geralmente relacionado a uma necessidade de afeto e valoração das pessoas. O medo de falhar e ser julgado é muito grande, com isso os relacionamentos interpessoais são permeados pela insegurança.

O perfeccionismo relacionado a outros, é o que a pessoa cria expectativas também a outros, a cobrança é grande e dificulta o trabalho em equipe e causa sofrimento com as decepções vivenciadas.

Os tipos de perfeccionismos podem ser únicos ou associados, mas sempre trazem sofrimento emocional às pessoas e seus relacionamentos.

Indicadores de que o perfeccionismo pode nos adoecer

  • 1. Perfeccionistas geralmente têm diálogos internos depreciativos (negativos) e com julgamentos severos de si e seu comportamento

A pessoa perfeccionista tem um senso crítico interior muito ativo, e isso pode sabotar ações e gerar sensações de muita angústia. A falta de autocompaixão e um reconhecimento saudável de nossas próprias habilidades fazem com que nossa vida psíquica se torne um grande estressor, podemos nos transformar em um gatilho constante de ansiedade e juízos de valor negativos, sem contar na autoestima muito baixa.

  • 2. Os perfeccionistas não buscam apenas o alto desempenho, mas também têm uma relação negativa com os erros.

Geralmente, os perfeccionistas não veem os erros como uma oportunidade de aprendizado, mas experienciam o medo constante e angustiante do fracasso e das avaliações negativas dos outros sobre as imperfeições percebidas. Esse pavor pode ser tão forte o perfeccionista pode desenvolver comportamentos de evitação, trazendo prejuízos relacionais muito grandes.

  • 3. Os perfeccionistas também tendem a se preocupar muito sobre o trabalho.

Para os perfeccionistas, é muito difícil se desligar de tarefas, principalmente as do trabalho. É socialmente exigido e admirado as pessoas que se dedicam muito ao trabalho, então os perfeccionistas se agarram a isso, porém gera um desequilíbrio entre vida profissional e pessoal, nossa saúde e nosso bem-estar.

  • 4. Os perfeccionistas vivenciam um risco muito grande de esgotamento emocional.

O perfeccionismo leva as pessoas a se esforçarem, se cobrarem e trabalharem mais, tentando controlar os resultados dos comportamentos e evitar possíveis falhas. Desta forma, pode levar à exaustão física e emocional, uma autoestima baixa e descrença em seu potencial de desenvolvimento.

Se aprofundarmos e explorarmos as origens do perfeccionismo, provavelmente descobriremos que o perfeccionismo tem suas raízes na infância, na necessidade humana de receber afeto. A maioria dos perfeccionistas teve pais ou cuidadores com exigências rígidas, se sentindo insuficiente bom ou viveram relações de amor que era condicional e dependente de suas conquistas. É preciso reconhecer se isso aconteceu e desenvolver formas de superar os relacionamentos primários, construindo relações construtivas e ampliando a visão de si, acolhendo seus esforços e seu processo como aprendiz na vida.

Outro ponto crítico ao perfeccionismo é que ele também resultado de uma sociedade baseada em competições e valorização da exploração individual para se alcançar um sucesso em alguma área da vida, nos esquecendo que os limites e o equilíbrio são necessários para um bem-estar.

Dicas para lidar com o perfeccionismo

O perfeccionismo é consolidado por um jeito contínuo de se perceber e executar as tarefas com níveis de exigência elevados, ou seja, não se inicia do dia para a noite. Para desconstruí-lo é necessário um processo de revisão e reconstrução dos valores pessoais e da autoestima, por isso a psicoterapia é indicada para facilitar essas mudanças.

Porém, alguns questionamentos podem ajudar no iniciar um questionamento dos padrões de pensamentos e comportamentos que o perfeccionismo traz.

  • Acolha seus pensamentos de autocobrança pela perfeição, mas tente também compreender seu processo de percepção e execução de um comportamento, tentando sair do pensamento automático julgador e aprender a valorizar seus esforços e não somente os resultados deles.
  • Perceba seu vocabulário interno e externo: evite se exigir demais, troque o “tenho que” ou “preciso” por uma compreensão de escolha e também se valorize por suas habilidades. Se desafie a elogiar outros e a si mesmo.
  • Experimente algo novo: tente se colocar em situações que possa se ver como aprendiz, acolhendo seu processo de aprendizagem, com erros, acertos, adaptações e o lidar com as frustrações.

Essas são algumas sugestões para ampliar sua consciência do seu grau elevado de cobrança e iniciar algumas pequenas mudanças em seu cotidiano. Estar em uma relação terapêutica pode potencializar muito suas transformações nesse desafio de fazer a vida mais leve e com mais saúde psicológica. Se você precisar de ajuda nesse processo, conte com nossa equipe! Clique aqui e converse com uma de nossas psicólogas para conhecer mais e entender o que faz sentido para você.

Juliana Fitaroni

Juliana Fitaroni

Psicóloga, CRP 18/02964

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados:
Assine a Newsletter do Espaço!

Compartilhe: