Você já viveu um trauma? Para responder a esta pergunta você deve estar recapitulando na sua história, os episódios, situações, vivências que foram impactantes e que te causaram tamanho desconforto emocional que você não soube lidar. De fato estas experiências podem ser consideradas traumas, mas há muitas formas de um trauma impactar a vida das pessoas. Então, vamos entender com mais detalhes:
- O que é trauma?
- Quais os efeitos do trauma na vida das pessoas?
- Como lidar com o trauma?
- Acompanhem comigo estas reflexões:
- O que é trauma?
“Trauma não é o que aconteceu com você, é o que aconteceu dentro de você” (Gabor Maté). Esta frase, aparentemente simples, pode conseguir inverter suas lógicas de compreensão sobre o trauma e eu vou te explicar porquê!
Gabor Maté é considerado um dos principais especialistas sobre trauma e, com esta frase, nos convida a refletir que o trauma não é a situação traumática, mas sim todo o processo que acontece no seu organismo a partir de uma experiência. Portanto, a experiência de trauma pode ser uma catástrofe, violência, agressão, acidente entre outros eventos considerados situações extremas, assim como pode ser uma experiência que passaria despercebida para alguns, no entanto, tornou-se extremamente estressante para outros.
Trauma é, então, o que experienciamos em nosso organismo como uma reação aguda ao estresse em momentos em que somos pegos de surpresa por uma situação com a qual não sabemos lidar, ou seja, que não desenvolvemos recursos e estratégias para enfrentar. Nestes momentos sentimos as reações do estresse em nosso organismo que alteram nosso sistema metabólico de forma abrupta. Sentimos o impacto de forma generalizada afetando desde a frequência cardíaca até a cognição.
Se você quiser ler mais sobre esta reação de estresse, que também é comum em crises de ansiedade, clique aqui. Esta reação a uma situação estressora é uma reposta orgânica natural e bem-vinda para nos ajudar a lidar com situações de perigo. No entanto, tornam-se um prejuízo quando sentimos este processo em situações que apenas lembram a situação traumática, como gatilhos, por exemplo.
- Quais os efeitos do trauma na vida das pessoas?
Ediane Ribeiro, em seu texto trauma X traumatização define que a traumatização é a sustentação desta resposta ao estresse por longos períodos, levando o organismo, muitas vezes, à exaustão. Trauma, desta forma, difere de traumatização, percebem?
A traumatização pode levar a diversas características clínicas que nem sempre são associadas ao trauma como:
- Hipervigilância
- Isolamento social
- Sintomas orgânicos sem causa aparente

Além disso, observamos impactos importantes na forma como a pessoa percebe a si mesma, como percebe o mundo, como se movimenta nele. Maté afirma que pessoas que viveram traumas, geralmente vivem experiências de desconexão consigo mesmas, na tentativa de evitar sofrimentos por entrar em contato com suas histórias e com quem pensam que se tornaram a partir daquela experiência. Estas tentativas de desconexão, passam por processos de autossabotagem em projetos de vida e podem chegar a vícios como uso de álcool e outras drogas.
Impactante não é? Sempre que converso com as pessoas sobre traumas e estudo mais e mais sobre o tema chego a conclusão que todos nós vivemos experiências de trauma em algum momento. Alguns com impactos na autopercepção, autoestima e outras pessoas com a vida amplamente devastada pela traumatização. Diante da importância para a saúde integral e desenvolvimento humano, vamos passar por algumas reflexões que podem nos ajudar a lidar com o trauma.
- Como lidar com o trauma?
Eu diria que um dos primeiros passos para lidar com um trauma é tornar consciente, tanto quanto for possível, que sua experiência de sofrimento emocional pode ser decorrente de um trauma. É claro que não estou afirmando que todas as dores emocionais vêm de traumas e traumatizações, mas muitas vezes os traumas impactam a vida das pessoas por décadas sem que elas saibam do que se trata.
Muitos dos traumas que as pessoas vivenciam nem são decorrentes de acidentes ou catástrofes climáticas, são decorrentes de desigualdades raciais, de gênero e de classes sociais e outros são traumas de relacionamentos, aqueles decorrentes das nossas relações de origem familiar durante o desenvolvimento. Um exemplo destes últimos são as construções de vínculos afetivos que podem nos ensinar, distorcidamente, que afeto sempre implica em sofrimentos emocionais. Ou ainda os traumas de relacionamentos amorosos marcados por conflitos, dentre tantos outros.
Se retomarmos a frase de Maté que fala que o trauma é o acontece dentro de nós e não a situação traumática em si, temos aqui um horizonte para olhar sobre como lidar com o trauma. Observem que as situações não podem ser mudadas, mas o trauma está no nosso processo de significação da experiência e, estes sentidos e significados podem ser elaborados, transformados e, principalmente, nossa percepção sobre quem nós somos diante das situações vividas também.
Se você ainda estiver na dúvida sobre se está vivenciando uma experiência de trauma de alguma forma, atente-se a estas 4 dimensões que segundo Ribeiro podem sofrer forte impacto do trauma:
- Regulação emocional: quando você sente que suas emoções estão flutuantes, oscilantes ou desconexas.
- Controle de impulsos: quando seus comportamentos parecem estar excessivos ou pouco refletidos em alguma área da sua vida.
- Funções executivas: quando você sente que sua organização para a realização de tarefas não se concretiza, seja por distração ou falta de memória, por exemplo.
- Habilidade de criar vínculos: quando suas relações ficam em uma margem de segurança, sem entrega e construção de laços afetivos.

Faço mais uma vez a ressalva: nem tudo é trauma. Mas se você sente impacto em alguma destas dimensões, vale procurar a ajuda de um(a) psicólogo(a) para ampliar sua consciência e ressignificar experiências. Este processo pode ser transformador para suas relações e sua saúde mental.
Se desejar falar com uma das psicólogas da nossa equipe para entender como a psicoterapia pode ajudar clique aqui. E obrigada por acompanhar a leitura até aqui! Nos encontramos no próximo blog.