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Qual o significado dos sonhos?

Você já ouviu falar que todos nós sonhamos, mesmo aquelas pessoas que acordam com a sensação de que não sonharam? É verdade, em um sono completo todos nós sonhamos! Entenda o que é o sonho e como isso acontece durante nosso sono.

Os sonhos são misteriosos e utilizados em toda nossa história. Já foram interpretados como mensagens dos deuses, previsões do futuro e uma forma de entender nossos desejos mais profundos. É um enigma pensar como imagens e narrativas, muitas vezes aleatórias e inexistentes, se tornam nossa realidade vivenciada ao dormir. São tantos símbolos e conexões formando um cenário tão complexo que nos perguntamos, o que isso tudo quer dizer?

Para explorar por que sonhamos vamos passar pelos seguintes pontos:

— Estágios do sono e em que momento sonhamos;

— O que é o sonho?

— O que o sonho diz sobre nós?

Estágios do sono e em que momento sonhamos

Quando estamos acordados de alguma forma estamos absorvendo o que está acontecendo na realidade, captamos com nossos sentidos os estímulos do ambiente, formamos imagens sobre eles e assim nosso mundo interno está em interação com o externo constantemente para agirmos. Quando dormimos, gradativamente vamos nos desligando dessa captação de estímulos exteriores e passamos a ficar somente com o que já temos em nós. No sono reparador e profundo, a realidade parece se apagar e mal lembramos dessa fase. Parece até uma “pequena morte”.

“Hipnos, o deus grego do sono, é irmão gêmeo de Tânatos, o deus da morte, ambos filhos da deusa Nix, a Noite. Transitório e em geral prazeroso, Hipnos é profundamente necessário à saúde mental e física de qualquer pessoa.” (Sidarta Ribeiro)

Hoje sabemos que o sono é apenas irmão gêmeo da morte, mas não tão idêntico, afinal nosso corpo não para quando dormimos, pelo contrário, trabalha em diversas funções que só são possíveis durante o sono.

Para entender melhor o que acontece quando dormimos vamos passar pelas fases do sono– a primeira fase tem três estágios e a segunda fase é o quarto estágio chamado de sono REM:

Estágio 1 — adormecimento, reduzindo o nível de alerta, saímos do estado de vigília para um estado de relaxamento.

Estágio 2 — sono leve, em que o corpo vai diminuindo a temperatura, os batimentos cardíacos ficam mais suaves, grande parte dos estímulos do ambiente passam a ser ignorados. Entre o estágio 1 e 2 acontecem algumas transitórias alucinações oníricas.

Estágio 3 — transição entre o sono leve e o sono profundo, um momento praticamente sem sonhos, onde estamos em uma quietude.

Estágio 4 — sono profundo, também chamado de sono REM, momento em que descansamos fisicamente de fato, pois nossas atividades motoras são inibidas, porém, acontece a maior atividade cortical do sono (comunicação de diversas áreas do cérebro). É o momento em que diversas funções fundamentais para nossa existência realizam-se, como, por exemplo, as regenerações celulares, as liberações de hormônios, as contrações musculares nesse estágio permitem calibrar gestos e ações muito antes realizadas no mundo real no caso de bebês, a geração de novos neurônios, a desintoxicação do cérebro e diversas outras. Percebe como ao longo do nosso desenvolvimento o sono REM tem papel central no processo de amadurecimento e das modificações no sistema nervoso? É nesse estágio, tão importante para a regulação do nosso organismo, que os sonhos intensos e vívidos acontecem.

Bom, já sabemos qual momento do sono acontecem os sonhos e como nosso corpo está ativo de outra forma enquanto dormimos. Agora estamos prontos para entender um pouco mais o que é o sonho.

O que é o sonho?

No sonho reina Morfeu, que dá forma aos sonhos. Irmão ou filho de Hipnos, “Morfeu leva aos reis as mensagens dos deuses e lidera uma multidão de irmãos, os Oneiros. Esses espíritos de asas escuras emergem a cada noite através de dois portões, um feito de chifre e outro de marfim, como morcegos em revoada. Quando cruzam o portão de chifre — que, quando adelgaçado, é transparente como o véu que recobre a verdade —, geram sonhos proféticos de origem divina. Quando passam pelo portão de marfim — sempre opaco mesmo quando reduzido a espessura mínima —, provocam sonhos enganadores ou desprovidos de sentido.” (Sidarta Ribeiro)

Você lembra dos seus sonhos? É, nem sempre conseguimos lembrar o que sonhamos. No nosso desenvolvimento temos a capacidade de lembrar dos nossos sonhos a partir dos 3 anos, quando estamos desenvolvendo a linguagem. Segundo pesquisas com crianças, os sonhos vão ficando mais complexos, acompanhando o desenvolvimento cognitivo e a expressão deles a partir da linguagem.

Porém, ter condições de lembrar não quer dizer que você esteja atento a isso na sua vida, então, se você não lembra dos seus sonhos vou te contar como é: geralmente é um conjunto de fragmentos de memórias que formam um enredo sem início definido, com duração variável e, apesar de sermos protagonistas, é imprevisível, além de vivermos as emoções como se fosse uma simulação da vida real.

Com essa descrição já reconhecemos que as possibilidades do que vamos sonhar são infinitas, não é? Além de os sonhos podem ser caóticos e irreais, as junções de imagens são ilimitadas, já que não precisam seguir nenhuma lei da física.

Se você não lembra dos seus sonhos, essa definição não ajudou muito a imaginar como são os seus, não é mesmo? Porque é isso, eles são imprevisíveis e podem ter os simbolismos mais diversos de pessoa para pessoa e inclusive para uma mesma pessoa de uma noite para a outra. Não é à toa que é um mistério e um encanto para a humanidade até hoje.

Apesar dessa imprevisibilidade existem sonhos bastante comuns, principalmente os angustiantes, por exemplo: sonhar que está sendo perseguido, que os dentes caem, que está atrasado, nu em algum lugar inapropriado ou perdido das pessoas que conhece.

E percebe que interessante, a palavra sonho é utilizada para aspectos bons da nossa vida: “realize seu sonho”; “isso é o meu sonho”; não deixe de sonhar”. O sonho, nesse sentido da palavra, é entendido como um ideal, um desejo que queremos atingir.

Quando o sonho acontece no sono “é nossa imaginação sem freio nem controle, solta para temer, criar, perder e achar” (Sidarta Ribeiro). Realmente é uma liberdade imensa para irmos onde queremos, acontece que nossos sentimentos são muitos, não existem só desejos, mas medos e angústias que aparecem quando nossa racionalidade afrouxa, no caso, quando sonhamos.

Hoje temos condições de explorar cientificamente os sonhos e a interação bioquímica do nosso organismo, pesquisas que trazem a ação de cada neurotransmissor nas características do sonho como as emoções intensas, o conteúdo ilógico e aceitação acrítica. Não reduzindo os nossos sonhos a uma interação estritamente química, mas demonstrando como tudo que acontece em nós tem a dimensão desses componentes, nos fazendo avaliar as substâncias que produzimos ou ingerimos e a interação com nossos sonhos. Mas o que os sonhos dizem sobre nós mesmos psicologicamente falando?

O que o sonho diz sobre nós?

Uma coisa é certa, os sonhos dizem muito sobre nós, afinal, é o nosso interno se manifestando em um momento do sono que nosso organismo está em plena atividade de reorganização, treino, limpeza e regulação. Como nosso estado de consciência está alterado no sono profundo, é válido observarmos como as aprendizagens das experiências são transformadas em símbolos mais profundos do que processamos racionalmente. Por isso, saber e processar o que acontece internamente nos ajuda a nos conectar conosco.

E como usar seus sonhos como conexão consigo mesmo?

Anotar os sonhos: para começo de história podemos fazer um exercício de anotar os sonhos. Já sabemos que quando nos esforçamos para lembrar dos sonhos imediatamente na hora que acordamos, anotando o que lembramos, passamos a lembrar com mais frequência com o passar do tempo. É um treino de memória e resgate do que sonhamos diário.

É sobre você: lembrar de que mesmo sem pé nem cabeça, com um enredo todo aleatório e umas imagens que não fazem sentido, é você que está sonhando, então o sonho é sobre você. Resgatar essa aleatoriedade pode fazer você conhecer muito sobre você mesmo. Por isso, observar os sonhos é estar curioso sobre si mesmo ampliando seu autoconhecimento.

Reflexões sobre sentimentos que ficam de pano de fundo: muitas vezes não sabemos identificar nossos sentimentos no dia a dia, nem percebemos o quanto certos acontecimentos estão nos afetando, seja com medo, ansiedade, expectativa ou até felicidade. E como nos sonhos estamos organizando tudo dentro de nós, isso vai aparecer de alguma forma, nos ajudando a trazer para frente, sentimentos para processarmos e fazer algo eles na vida real.

Trazer os sonhos para o dia: para conhecer mais sobre você e identificar os sentimentos na vida real, vale deixar a lembrança do sonho disponível para usar como recurso de compreensão da sua forma de experimentar o presente. Gradualmente você pode reconhecer como é mais sensível do que imagina e pode ter praticamente a sensação de prever acontecimentos por meio da sua sensibilidade e processamento da realidade através das suas sensações.

Muitas pessoas utilizam os sonhos em psicoterapia para ajudar a compreender-se, outras procuram por dificuldade de lidar com os pesadelos, os quais deixam evidente que estão passando por alguma ansiedade ou angústia. Se você estiver angustiado com seus sonhos ou ainda quer compreender melhor, uma consulta psicológica pode te ajudar, clique aqui e converse com uma pessoa da nossa equipe.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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