É cada vez mais comum que as pessoas vivam diversas mudanças de localidade ao longo de suas vidas, seja por escolha, seja por necessidade externa. Quando isso acontece, os sentimentos são muitos e está longe de ser apenas a troca de uma casa, afinal, são várias as mudanças envolvidas. Mas, e como lidar com as despedidas nesse processo? Vamos descobrir!
Já passamos da época em que a grande maioria das pessoas nascia, mudava-se para a casa do terreno ao lado e passava a vida inteira em uma mesma cidade. Os millennials e a geração Z trazem um perfil de vida globalizado e mais fluido, no qual mudar faz parte, haja vista os nômades digitais. Além disso, dados do Itamaraty de 2020 (Número de brasileiros no exterior cresce e chega a 4,2 milhões | CNN Brasil) anunciaram que o número de brasileiros no exterior chegou a 4,2 milhões, houve um aumento de 16% em comparação com 2018 e, em 10 anos, o aumento foi de 36%.
Nem sempre são mudanças que gostaríamos de fazer, às vezes recebemos notícias que não esperávamos ou acontecimentos e necessidades que nos pegam de surpresa trazendo uma mudança pela frente. Porém, outras vezes, as mudanças partem de processos e possibilidades de escolhas diferentes rumo a um novo projeto. Independentemente de qual seja o seu cenário, você enfrentará despedidas, mesmo que essa mudança seja muito esperada.
Para conversarmos sobre as despedidas no processo de mudança vamos passar pelos seguintes pontos:
– Toda mudança tem despedidas e processos de luto?
– Quais são as despedidas quando nos mudamos?
– Como lidar com estas despedidas?
– O processo continua quando chegamos ao nosso novo lugar.
Toda mudança tem despedidas e processos de luto?
Quando falamos de despedidas e lutos geralmente lembramos da morte de pessoas que amamos, mas não percebemos que passamos por processos de despedidas ao longo da vida: mudança de escola, mudança de fase da vida , amizades que se desfazem, relacionamentos que acabam, mudança de emprego… e mudança de moradia!
Hoje vamos conversar sobre este último processo de mudança: quando mudamos de lugar. Seja sair da casa dos pais, seja apenas mudar de casa para uma melhor, porque se casou, porque se separou, porque mudou de cidade ou ainda de país… Quais mudanças você está vivendo?
A verdade é que a vida é uma eterna mudança e mudar de casa é apenas uma entre tantas que vivemos diariamente, por exemplo, o dia de hoje nunca mais acontecerá da mesma forma. Então, passamos por despedidas constantemente, dentre as quais umas serão processadas de forma mais sutil e outras de forma mais intensa. Tornar conscientes esses processos de mudança podem nos ajudar a reconhecer quando eles emperram e não acontecem naturalmente, além de que, ao vivê-los nos conectamos ainda mais com a preciosidade do presente, com o que temos agora para viver.
Quando não vivemos as despedidas, o que acontece é que mesmo que exista aquela empolgação inicial em que você aproveita a chegada e as novidades, logo sentimentos de tristezas podem aparecer, principalmente quando algo não acontece da forma que gostaríamos ou vivemos alguma frustração. Sabe aquela saudade do que era e a vontade de voltar? Bom, também é uma possibilidade escolher voltar, mas para conseguir distinguir se de fato estamos fazendo uma avaliação de retorno realista, precisamos nos despedir. Se burlamos esses processos parece que não vivemos a mudança por completo, levando pendências internas ou deixando nosso coração no lugar anterior.
A vida é um processo que não para e esse fluxo promove todos os tipos de sentimentos, se não quisermos viver os desagradáveis, também não viveremos com inteireza os agradáveis. Se fizermos algum vínculo, vai doer na despedida. Viver esses processos nos dão a oportunidade de deixar esse novo momento de vida fluido, presente e encaixado com o nosso agora, nos sentimos mais inteiros onde estamos. Por isso, refletir e processar as despedidas faz parte para deixar o novo vir.
Quais são as despedidas quando nos mudamos?
A mudança de moradia vem com muitos processos embutidos que não nos damos conta! Quais despedidas envolvem? Como qualquer caso vai depender do seu cenário, do motivo da sua mudança e para onde você vai, então pense no seu caso e suas particularidades, vai te ajudar a reconhecer esses mais gerais:
Lugar: seja o país, o estado, a cidade, o bairro, a rua ou até mesmo só a casa para o mesmo prédio, todo lugar tem suas características. O clima, nossa forma de chegar até lá, nossos pontos preferidos, o que nos chama atenção, nossos costumes, para onde olhamos, as lembranças do que vivemos, os cheiros… todas as sensações que esse lugar proporciona em nós e fizeram memórias.
Pessoas: parentes, amores, amigos, colegas, vizinhos, conhecidos e até aquelas pessoas que nem mesmo nos conhecem, mas fazemos algum vínculo, como o cara que passeia com o cachorro, a atendente da loja ao lado ou aquela criança fofa que passa para ir na escola. Dos vínculos mais intensos às pessoas que apenas passam por nós, todos fazem parte da nossa história.
Jeito de viver: a cultura, o idioma, o sotaque, jeito de se vestir, os costumes, comidas, rotina, transporte e tantas outras coisas dependendo de cada mudança.
Cada um desses detalhes faz parte de como vivemos e como somos! Fazem parte de nós! Então são todos processos para serem vistos e nos despedirmos de cada um deles, reconhecendo quais são os mais significativos e fortes para nós. E você? Já mapeou o que mudará na sua vida?
Como lidar com essas despedidas?
Cada pessoa terá seu jeito de se despedir de cada elemento dos quais falamos no item anterior, mas algumas dicas podem ajudar:
Autoconhecimento: quanto mais nos conhecemos, mais sabemos quais despedidas serão mais difíceis de processar e precisaremos de mais tempo e um processo com mais etapas. Saber quais são as questões que mais lhe atingem e farão diferença para você, irá ajudá-lo a viver esse processo de mudança sem o desrespeitar.
Não fugir dos sentimentos negativos: não queremos sofrer, não é mesmo? Mas os sentimentos negativos fazem parte da vida e dos processos para se completarem. Ignorar o que acontece dentro de nós, além de não diminuir o sofrimento pode prolongar e ainda deixar uma caixinha de surpresas, afinal ele vai aparecer de alguma forma: sintomas, ansiedade… Então, não tenha medo dos sentimentos desagradáveis e doloridos, eles são necessários e o ajudarão, quanto mais você encará-los, mais verá que eles podem fluir e dar espaço para os sentimentos agradáveis ocuparem seu lugar.
Conversar sobre: falar sobre é um jeito de processar tudo que está acontecendo junto com quem também está vivendo essa mudança com você, seja indo junto, seja ficando. Ajuda-nos a concretizar e compreender nossos sentimentos, além de ser uma parte do processo de despedida, afinal a pessoa com quem você conversa está passando por um processo de despedida também.
Rituais: cada um tem seu jeito de se despedir, encontros, festas de despedidas, passeios, escritos, cartas, doações significativas… Não importa qual seu jeito, siga suas vontades e faça os rituais que forem importantes e permitam que você expresse seus sentimentos.
Você pode estar pensando: “mas eu posso voltar para visitar”, “vou continuar falando com meus familiares e amigos”, “vamos nos ver algumas vezes ainda nessa vida”… Despedidas não significam o rompimento de laços, mas sim despedir-se desta fase, desse momento, da relação como se encontra no presente. E a forma como você vive cada pontinho que citamos antes que mudará. É sobre processar a mudança como um rio que nunca é o mesmo.
De tudo isso, algo fica? Sim, você! E todas essas lembranças, relações e afetos estarão junto para você visitar, já que faz parte da sua história. Mas para que elas possam ser visitadas de uma forma saudável é importante que a gente reconheça o fim.
O processo continua quando chegamos no nosso novo lugar
Você sabia que todo esse processo de despedida é natural? Sim, o processo de luto acontece sem precisarmos racionalizá-lo, mas para isso precisamos deixar nossos sentimentos fluírem. O que nem sempre é fácil, principalmente quando encontramos frustrações e dificuldades pelo caminho.
Então, prepare-se para viver muitos sentimentos mesmo depois de ter se mudado, lá você sentirá momentos de entorpecimento, raiva, vontade de voltar, tristeza, até incorporar o que se passou em você e começar a criar um processo novo de pertencimento.
Pertencimento. Um dos principais sentimentos do ser humano é a sensação de que pertence a algo ou a alguém. Para começar a pertencer a algum lugar você precisará se sentir aberto para isso e para se sentir aberto precisará pertencer a si mesmo. Quando você assume seus processos de despedida, reconhece que é capaz de viver as mudanças, se apropria dos seus sentimentos e dos seus processos, respeitando seu tempo, seu jeito e sua forma de viver. Com essa inteireza fica mais fácil fazer novos vínculos e encarar uma nova vida.
Uma das pessoas da minha vida que está passando por um momento enorme de mudança veio conversar comigo após assistir a última temporada de “La casa de papel” com a seguinte reflexão:
“Dizem que temos um grande amor na vida. O que não nos dizem é que podemos ter várias vidas.”
Somos únicos, mas também podemos ser muitos. Temos uma condição ilimitada de adaptação e criação. Não sabemos até onde podemos chegar. Quanto mais nos sentirmos livres para experimentar essa capacidade, mais vivos nos sentimos. Para estarmos livres, precisamos seguir sem amarras, com sentimentos que podem vir e fluir e assim vivermos o que vier, livre de comparações, de coração aberto.
Você está pronto para se abrir para o novo que está por vir, esse novo momento, de novos cômodos, a novos cenários e novas relações? Lembre-se: nem sempre processos, principalmente de despedidas e adaptações, são fáceis e gostosos de viver, por isso você não precisa passar por isso sozinho, uma Psicoterapia presencial ou a Consulta Psicológica on-line pode ajudá-lo. Caso você esteja passando por um processo de luto saiba que existe um serviço especializado para ajudá-lo: a psicoterapia do luto. Clique aqui e converse com uma de nossas psicólogas para conhecer mais e entender o que faz sentido para você.