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Como lidar com a morte de um filho

Temos internalizado e é compartilhado socialmente que o processo de desenvolvimento humano se dá nas seguintes etapas: nascemos, crescemos, reproduzimos (se desejarmos!), envelhecemos e morremos. É inimaginável concebermos, como natural, pais enterrarem seus filhos, isso nos faz sentir que a lógica da vida está errada. Porém, por mais despreparados que possamos estar, infelizmente isso acontece diariamente.

A morte de um filho é uma das experiências mais dolorosas que uma pessoa pode ter. É uma situação para a qual não estamos preparados em nenhum nível e por isso é tão difícil. Diante de uma perda, cada pessoa tem sua reação, sofre e lida no seu tempo com seu luto, lembrando que não existe maneira certa ou errada em como lidar com ela. Neste texto, refletiremos sobre como lidar com a morte de um filho, para tanto, passaremos pelos seguintes pontos:

– Não estamos preparados para a morte;

– Reações mais comuns à morte de um filho;

– Como viver a perda;

– Como ajudar a outros;

– A importância da empatia no processo de luto;

– O passar do tempo;

– Ajuda psicológica;

Não estamos preparados para a morte

A morte de um ente querido é sempre difícil. Isso nos força a encarar o fato de que não veremos essa pessoa novamente, nem falaremos mais com ela. Devemos nos despedir de uma vida com a presença de nossa pessoa amada, todavia, enfrentar o luto não quer dizer esquecer a quem perdemos, significa somente o aprender a viver nossas vidas sem ver e tocá-la, pois as experiências, as lembranças e o amor permanecem para sempre.

A existência dos rituais de despedida, como os velórios e enterros, sendo socialmente importantes é, de certa forma, útil, pois nos deparamos constantemente com a morte de outros, percebendo a finitude da vida. E, por mais que tentemos nos afastar da presença da morte de nossas vidas, sabemos que mais cedo ou mais tarde teremos que enfrentar essa realidade.

Quando nos deparamos com a morte de um filho, essa realidade se agrava porque não estamos preparados para algo assim. Embora sejamos afetados pela perda de alguém, até certo ponto aceitamos como normal enterrar aqueles que são mais velhos do que nós. Mas enterrar um filho e/ou uma criança perturba o que percebemos como a ordem natural das coisas, por isso temos a tendência de considerar isso injusto.

Muitas pessoas que vivenciaram a morte de um filho, descrevem-na como a experiência mais dolorosa de sua vida. É comum em nossa cultura que a maioria dos pais dê significado à sua vida a partir de seus filhos, pois o nascimento de um filho muda a realidade familiar e traz novos papéis e responsabilidades a todos os familiares. O fato de os filhos terem crescido, de estarem bem e de serem felizes é o que dá sentido às suas vidas, demonstrando que a perda de um filho os muda para sempre.

Reações mais comuns à morte de um filho

O luto é uma etapa necessária para se adaptar à mudança ocasionada por qualquer perda, ou pela morte de um ente querido, neste caso, a de um filho. O luto não é uma doença, mas sim um processo natural que necessitamos passar para lidar com as perdas. Este processo não tem duração ou intensidade consideradas normais, sabe-se que o enfrentamento é singular e se relaciona com a qualidade do vínculo estabelecido com aquele que perdemos, portanto, a ajuda profissional não é necessária a todos os enlutados.

O luto deve ser vivenciado como mais uma fase da história pessoal, mesmo que seja difícil. O enfrentamento do luto pode ser feito com a ajuda de familiares e amigos e de profissionais quando for considerado adequado, porém uma ajuda psicológica pode facilitar esse processo tão doloroso.

Cada pessoa sofre e lida com as perdas à sua maneira. Existem aqueles que se esforçam para recuperar a vida normal o mais rápido possível, outros precisam de mais tempo. Em geral, a dor da perda tende a se atenuar gradativamente, embora em alguns momentos possamos perceber um retrocesso, como se estivéssemos dando um passo para trás.

A experiência do luto também é particular: algumas pessoas precisam ir ao cemitério todos os dias, outros podem querer continuar colocando um prato na mesa para seus filhos, deixam seu quarto intacto ou guardam tudo em caixas para não os ver. Às vezes, isso pode levar a desentendimentos com o parceiro ou familiares, por isso é aconselhável manter uma boa comunicação para tomar decisões juntos.

Como viver a perda

Para lidar com a morte de um filho é importante que a pessoa se dê permissão para sentir o que sente o tempo todo. E sem pressa. Pode haver momentos em que você queira chorar, gritar, ir ao cinema, jantar com amigos, estar com seu parceiro ou ficar sozinho. E essas necessidades podem mudar. É conveniente aproveitar o tempo necessário e vivê-lo de acordo com as prioridades. Permita-se sentir a dor da ausência de sua pessoa amada!

O luto não é fácil, nem se tem uma fórmula ou técnica que o faça ser. Contudo, podemos vivenciá-lo com companhia. O apoio social é muito importante nesses momentos, especialmente após as cerimônias fúnebres, quando uma sensação de solidão perceptível geralmente começa. Ajuda ser capaz de falar abertamente sobre dor, memórias e preocupação com pessoas em quem você confia.

Como ajudar a outros

É importante que todas as pessoas que desejarem possam participar dos rituais de despedida. Até mesmo crianças, a quem geralmente tentamos “proteger” da dor, devem ter a oportunidade de se despedir e até de escolher como querem fazê-lo. Responder às dúvidas das crianças com honestidade ajudará a evitar que respondam a si mesmas com fantasias. Também é importante que eles possam expressar a dor de sua própria maneira e pelo tempo necessário. Ao falar de uma morte a crianças, deve-se ter em mente que, dependendo da idade, terão o conceito de morte mais ou menos elaborado, por isso é indicado que um adulto de sua confiança lhes conte a realidade da morte e acolha seus questionamentos e sentimentos.

Ainda pensando em como ajudar um enlutado, evite frases prontas que levam a pessoa a sentir-se mal por estar sofrendo como “você tem que ser forte”, “seu filho não gostaria de ver você chorar” ou “com o tempo essa dor passará”. Mesmo que eles tenham a intenção sincera de ajudar, o que fazem é adicionar uma grande pressão ao sofrimento que os pais já têm.

A importância da empatia no processo de luto

Poder falar sobre a morte do filho ajudará aos pais a compartilhar emoções e a fazer com que os outros participem de seu sofrimento sem se isolar do meio, o que fará com que se sintam compreendidos e apoiados com mais facilidade.

É natural que, com o passar dos dias e das semanas, os familiares e amigos mais próximos e preocupados em estar por perto, tenham que retomar sua rotina de vida e parecer menos disponíveis e presentes, mesmo quando os pais sentem que ainda precisam de apoio, companheirismo e contenção.

Para os pais, nada mudou e é muito difícil ver como todos os outros voltam às suas atividades. Muitas vezes, sentirão que as pessoas não querem mais falar sobre o assunto. Mesmo evitando-os, alguns recomendarão que sigam em frente, que a vida continue. É possível que os pais reajam escondendo a dor ou tentando superá-la, mesmo que sintam que este não é o momento e que ainda precisam conversar com alguém sobre isso.

Por isso, é saudável procurar pessoas com quem se sinta ouvido e compreendido, se necessário um especialista que possa acompanhar e esclarecer algumas partes do processo. Nem todos podem cumprir este papel e isso não significa que sejam pessoas más ou que não se preocupem com o que estão passando, apenas que cada um tem o seu tempo e prazo e a sua forma de tentar ajudar e acompanhar os outros.

O passar do tempo

Com o tempo, a dor é vivenciada de outra perspectiva, o que a torna muito mais suportável e é possível aprender a desenvolver uma “relação” diferenciada com a criança que a deixou, o que ajuda a transformar sua memória em uma presença positiva e construtiva na vida deles.

É fundamental que os pais não pensem que estão traindo a memória do filho, cada vez menos tristes ou recuperando seus hábitos. Pelo contrário, onde quer que esteja o seu filho, o que deseja é que os seus pais e outros familiares sejam felizes e continuem com a sua vida. Superar a dor não significa esquecer os entes queridos. Os entes queridos estarão sempre em nossos corações e há outras pessoas que também precisam deles.

Ajuda psicológica

A morte de um filho obriga os pais a se adaptarem a uma nova realidade cruel e irracional. Portanto, o processo de luto é um trabalho emocionalmente forte devido às características da dor, uma dor intensa e inesperada. Os pais devem enfrentar um novo desafio que se enquadra na capacidade de se reencontrar e aceitar-se diante de uma nova identidade, permitindo-lhes alcançar o equilíbrio pessoal e familiar que se espera para que o funcionamento da família continue de forma saudável.

Da mesma forma, ninguém é dono da vida de ninguém, por mais injusta que seja a morte de um filho. É importante que os pais entendam que não é culpa deles que o filho tenha ido embora. A maioria dos pais, se pudessem, teriam feito algo para evitá-lo, eles teriam dado suas vidas para seu filho viver, mas na vida não podemos controlar ou impedir tudo. Se você está passando por um momento de luto e precisa de apoio psicológico, não hesite em nos contatar. A Psicoterapia presencial ou a Consulta Psicológica on-line pode ajudá-lo a encontrar a melhor forma de lidar com sua perda Clique aqui e converse com uma de nossas psicólogas para conhecer mais e entender o que faz sentido para você.

Juliana Fitaroni

Juliana Fitaroni

Psicóloga, CRP 18/02964

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