Blog do Espaço

Por que mantemos verdades secretas? O impacto dos segredos na nossa saúde mental.

Quantos segredos você mantém? Existem questões que você não compartilha com ninguém? Você já percebeu como muitos desses segredos podem influenciar seu dia, suas relações, sua saúde mental? Entenda melhor por que guardamos segredos e qual o impacto deles na nossa vida.

Nós não contamos tudo para todo mundo, não é mesmo? E isso faz parte das nossas relações sociais, familiares, amorosas, profissionais… Então, quando algo se torna um segredo? E quando devemos ligar o sinal de alerta e considerar que esse segredo está nos fazendo mal? Para entendermos o impacto dos segredos na nossa vida, vamos passear pelos seguintes pontos:

– O que é um segredo?

– Entendendo por que guardamos segredos.

– Como os segredos impactam nossa saúde mental?

– Como lidar com as nossas verdades secretas?

O que é um segredo?

De acordo com os pesquisadores Michael Slepian, Jinseok S. Chun e Malia F. Mason, o segredo caracteriza-se pela intenção de manter um sigilo e, de forma ativa, ocultar, seja por omissão ou engano, alguma informação de alguém. Mas percebam que não basta que apenas não falemos algumas informações, por exemplo, em diversas conversas não falamos sobre absolutamente tudo, seja por adequação da situação social, normas de polidez ou um direcionamento da nossa autoapresentação, nesses casos não configura um segredo.

A definição de segredo mais ampla envolve a intenção de ocultar informações de um ou mais indivíduos. Assim, a intenção de manter as informações secretas existe mesmo quando a pessoa de quem o segredo está sendo mantido não é fisicamente presente, sendo possível viver o segredo sozinho, não apenas na relação com alguém. Isso quer dizer que podemos pensar sobre o segredo mesmo quando não estamos na relação interpessoal, nos ocupando com aquela questão não compartilhada dentro de nós.

Outro esclarecimento importante antes de continuarmos é a diferença entre segredo pessoal e sigilo profissional: diversas profissões envolvem um dever legal de manter em sigilo informações envolvidas no trabalho, como por exemplo, na Psicologia. Como está no artigo do Código de ética profissional da psicóloga (o): “Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.”

Então, os segredos tratados aqui no artigo são aqueles que dizem respeito a você e te influenciam diretamente, os segredos pessoais.

Entendendo por que guardamos segredos

Imagino que você esteja pensando nos seus segredos. Você deve ter diversas justificativas para que eles se mantenham aí, escondidos com você, não é? Esses motivos podem passar por se sentir ameaçado, inseguro, ou ainda pelo sentimento de vergonha, mas também por envolver pessoas, valores familiares e culturais ou até o medo da rejeição por acreditar que os outros não estão preparados para saber e podem não te acolher e lidar com a informação.

Bom, nem sempre conseguimos lidar com nossas ações e com situações em que vivemos. Desde crianças buscamos avaliação das nossas condutas nas nossas relações de afeto, tentando compreender o que faz com que as pessoas nos considerem e nos aceitem. Geralmente aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento que muitas das nossas ações são vistas pelo que provocam e pouco somos escutados a partir do que sentimos, das nossas intenções. Então, não aprendemos a lidar com a sinceridade dos nossos sentimentos e intenções, acabamos envergonhados ou inseguros em apresentarmos sem defesas o que vivenciamos. Assim nascem os pequenos segredos sobre nós, que podem se transformar em grandes!

Muitas vezes, nem mesmo nós sabemos nos explicar e nos compreender, o que dificulta ainda mais que algumas de nossas questões sejam expostas para outras pessoas, mesmo quando confiamos nelas. Conforme os segredos passam a se instalar e fazer morada dentro de nós, podem ir tomando uma maior dimensão, como “monstros” que crescem porque não falamos sobre, aumentando a expectativa de que algo ruim pode acontecer caso o segredo seja revelado.

Os segredos, muitas vezes, existem como uma forma de manter uma imagem ideal de nós mesmos, ou seja, uma imagem que não é real, mas que acreditamos que as pessoas aceitem melhor, ampliando a dificuldade de se assumir perante as pessoas, conversar sobre assuntos difíceis e lidar com a vulnerabilidade.

Mas nem todos os segredos são prejudiciais, afinal nem tudo se abre para as pessoas, existem questões que são vividas por nós e não desejamos compartilhar, e esses segredos não estão carregados de sentimentos prejudiciais, apenas de escolha por discrição. É importante fazermos essa avaliação do que está se tornando algo prejudicial e o que só não temos o interesse de compartilhar. Vamos partir desse ponto para entendermos como os segredos impactam nossa saúde mental.

Como os segredos impactam nossa saúde mental?

Para começar a compreender como um segredo pode estar interferindo no seu bem estar, algumas perguntas podem ser importantes:

– Quanto o segredo lhe incomoda?

– Esse segredo lhe causa preocupação?

– Que sentimentos aparecem quando você pensa nele?

– Como você avalia as consequências caso ele seja revelado?

Além destas perguntas, as duas situações são importantes de serem avaliadas:

– As sociais, quando estamos com pessoas: muitas vezes a sensação de não poder estar inteiro nas situações é perturbadora, como se estivesse sempre escondendo algo.

– Quando estamos sozinhos: o que parece mais afetar as pessoas de maneira significativa é quantas vezes elas pensam sobre o segredo que mantêm: você pensa neles quando está sozinho? O fardo de carregar um segredo pode ser percebido quando ele aparece constantemente quando estamos fazendo qualquer coisa sozinhos, como ações cotidianas da casa.

Na pesquisa de Michael Slepian, da Columbia Business School, identificou-se que os segredos são propensos a aparecer espontaneamente à consciência quando as pessoas estão sozinhas, mais do que quando estão acompanhadas, o que demonstra que gastamos energia refletindo sobre, do que de fato cuidando para resolvê-lo.

Agora que refletimos sobre estes pontos, vamos reconhecer os impactos possíveis na saúde mental:

– Dificulta a comunicação interpessoal, considerando que você precisa cuidar para não falar algo, dificultando uma comunicação fluida e sem defesas;

Isolamento e sensação de solidão: por consequência pode escolher não estar próximo de pessoas;

– Esgotamento emocional fazendo a pessoa focar mais em si mesma e não se disponibilizar para estar com o outro, aumentando a dificuldade empática;

– Sentimento de rancor e mágoas e consequentes mudanças de humor;

– Gatilho de estresse;

– Sentimentos guardados podem ser somatizados, afetando a saúde física: a pesquisadora Anita Kelly identificou em um estudo que pessoas que guardam segredos são mais propensas a problemas digestivos, dores de cabeça e nas costas e a gravidade desses problemas de saúde é proporcional à importância do segredo guardado;

Ansiedade: vigilância constante durante as interações e ao pensar sobre o assunto;

– Diminui o foco, atenção e concentração;

– Interfere na imagem de si: aumento das autoavaliações negativas, considerando que pensar sobre pode levar a sentimentos de inautenticidade. Como você se percebe com a sensação de que precisa esconder algo sobre você?

Afeta o funcionamento do cérebro: algumas regiões cerebrais importantes para a aprendizagem, por exemplo, são ativadas quando compartilhamos informações emocionais, e quando guardamos segredos essas funções ficam comprometidas.

– Podem desencadear comportamentos prejudiciais para lidar com todos esses itens anteriores, como forma de escape, por exemplo, abuso de substâncias, vícios, comportamentos punitivos.

Michael Slepian também descobriu que pessoas que guardam segredos eram menos eficazes e se sentem mais cansadas para realizar atividades que exigiam algum tipo de esforço, inclusive avaliando as ações antes de fazê-las como mais dificultosas, que pessoas que não guardavam segredos. “Descobrimos que, quando as pessoas pensavam sobre seus segredos, elas realmente agiram como se estivessem sobrecarregadas pelo peso físico”, disse Slepian.

O esforço mental de não descortinar o que você esconde, influencia não só nos esforços de qualquer outra ação sua, mas também na maneira como você percebe as situações da vida, ampliando suas dificuldades, tornando as situações mais desafiadoras e interferindo na autoestima.

Vale citar também a glamourização da nossa sociedade em termos segredos: filmes, novelas e séries falam muito sobre isso. Ter um segredo pode envolver a sensação de poder, já que saber algo sobre outra pessoa te coloca em uma posição vantajosa e não contar os seus pode causar a falsa sensação de que está sob controle. O que sabemos, depois de todos os pontos listados acima, não é verdade.

Imagino que estas reflexões podem ser incômodas caso você esteja identificando segredos que não estão te fazendo bem, então vamos entender como lidar com suas verdades secretas?

Como lidar com as nossas verdades secretas?

A primeira etapa para lidarmos com nossos segredos começa por nós mesmos. A partir do autoconhecimento compreendemos se o segredo está nos fazendo mal ou não, se de fato é algo que precisamos mexer.

Depois disso, vamos precisar de um mergulho de autocompreensão nas respostas que estão em você. Sim, a conversa inicial precisa ser com você mesmo:

– Entenda por que você está guardando esse segredo;

– Identifique seus sentimentos sobre isso, a primeira pessoa a se acolher precisa ser você.

A segunda etapa envolve falar sobre. Pesquisadores identificaram que quando compartilhamos um segredo percebemos o apoio social aumentando nossa capacidade de lidar com aquela questão, além de representar um primeiro passo de enfrentamento mais efetivo, diminuindo os pensamentos sobre ele, diminuindo os devaneios repetitivos e aumentando nossa capacidade de lidar.

Podemos começar falando esse segredo escrevendo ou em voz alta sozinhos e depois identificando quais pessoas são as que podemos confiar. Nosso cérebro é um órgão social projetado para estabelecer relações para garantir, assim, a nossa sobrevivência. Por isso, identificar quem pode te acompanhar nesse processo de desvelamento é fundamental! Muitas vezes ficamos tão apavorados com nossos segredos que nem percebemos que existem pessoas ao nosso redor que nos querem bem e podem nos acolher nessas situações.

Sabe a frase: “Onde não puderes amar não te demores” da Frida Kahlo? Então, aqui vale fazermos uma adaptação: onde não puder ser você, não se demore. O alívio de sermos nós mesmos traz benefícios impagáveis para nossa vida, para nosso bem-estar e saúde mental.

Todas essas etapas podem ser difíceis de fazermos sozinhos, seja identificar se de fato um segredo está nos fazendo mal, seja identificar com quem podemos nos desvelar, seja inclusive lidar com o segredo. Por isso, você pode buscar profissionais especializados para ajudá-lo nesta jornada e lidar com seus segredos, uma Psicoterapia presencial ou a Consulta Psicológica on-line pode ajudá-lo! Clique aqui e converse com uma de nossas psicólogas para conhecer mais e entender o que faz sentido para você.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados:
Assine a Newsletter do Espaço!

Compartilhe: