O que é essa tal vulnerabilidade tão falada nos últimos anos? Como uma palavra que é sinônimo de fraqueza tem se mostrado tão importante nas discussões do novo mundo do trabalho e das relações humanas? Vou te contar agora mesmo!
Há 10 anos explodiu na internet o Ted Talk da Brené Brown, pesquisadora que trouxe a importância da vulnerabilidade para as relações humanas. Seus livros viraram best sellers e hoje discutimos sobre a relevância dessa palavra em diversas áreas humanas.
Nessa era tecnológica e globalizada, na qual as exigências e busca por perfeição ultrapassam a realidade em filtros de vídeos e fotos pela internet, também vemos o quanto temos explorado a sinceridade de sermos quem somos, humanos, imperfeitos. As críticas à nossa história, nossos preconceitos e nossas atitudes nunca foram tão explícitas.
É verdade que com tudo isso a intolerância está também dando as caras e muitas pessoas estão com dificuldades de lidar com tantas diferenças aparecendo, mas a exposição está aí, e num momento histórico em que estamos nos livrando de relacionamentos por obrigação, as conexões que ficarão serão as que suportarão a vulnerabilidade.
Para entender melhor esse conceito vamos passar por alguns pontos:
– Entendendo sobre qual vulnerabilidade estamos falando;
– O que geralmente acreditamos que é ser vulnerável?
– Vulnerabilidade e o desenvolvimento humano;
– Como se permitir ser vulnerável?
Entendendo sobre qual vulnerabilidade estamos falando
Antes de mergulharmos no assunto, é importante definirmos ele. O termo que vamos tratar aqui envolve um aspecto psicológico que tem grande impacto nas nossas emoções e em como nos portamos na vida.
De acordo com o Dicionário Silveira Bueno, vulnerável é o “que se pode vulnerar ou penetrar; designativo do lado fraco de um assunto ou questão e do ponto por onde alguém pode ser atacado ou ferido.”
Não é à toa que a maioria das pessoas quando pensa em vulnerabilidade remete imediatamente à fraqueza e à uma ameaça de ser atingido. Vamos explorar melhor isso no próximo tópico, mas pensem comigo, estar vivo é um sinônimo de estar disponível para feridas, não é? Se ficarmos com medo de machucarmos nosso corpo, por exemplo, que é super frágil comparado com tudo que pode nos machucar no mundo, não sairíamos de casa. Nos machucamos para aprender a andar, tropeçamos e caímos a vida inteira.
Ao longo do texto vamos conversar sobre a vulnerabilidade como um risco emocional decorrente da exposição à vida. Significa que permitimos que os outros nos vejam e consequentemente nos vemos.
Escrever este texto para você é um exemplo de vulnerabilidade, me expor e colocar meu conhecimento adquirido através de estudos, vivências profissionais e pessoais organizados aqui, é um desafio de exposição, afinal, não tenho ideia do que você achará disso. Envolve reconhecimento da vergonha, coragem para passar por ela e abertura para o que isso irá gerar na vida.
O que geralmente acreditamos que é ser vulnerável?
A palavra que vem mais rápido quando falamos de vulnerabilidade, geralmente, é a fraqueza, não é? Também é associada à fragilidade, sensibilidade, delicadeza, desproteção, indefensibilidade, destrutibilidade.
Na verdade, a sensação de estar vulnerável nos remete a parecermos em desvantagem, com a sensação que o outro ou a vida está no controle e não estamos em nossas próprias mãos. Sim, é uma palavra que conversa diretamente com a sensação de controle.
Mas o controle, na verdade, é uma fantasia. Quando de fato tivemos controle da realidade? Estamos em um planetinha, num universo de possibilidades que podem acontecer. Neste planeta existem sistemas sobre os quais estamos apenas começando a entender suas conexões, nossas relações são compostas por tantas pessoas diferentes entre si que mal entendemos o que elas podem estar pensando sobre um mesmo assunto. A realidade está longe de ser possível de ser controlada, não é? Percebe que ser vulnerável é uma condição humana? Acabamos assim por negar algo que é uma realidade: somos vulneráveis e, mais, somos imperfeitos, somos errantes.
Não conseguimos acertar sempre, na verdade, a probabilidade de errarmos tentando é maior do que acertarmos, principalmente se estivermos fazendo algo que ainda não fizemos ou mais complexo ainda, que ainda ninguém fez. E aqui percebemos que movimentar é errar e, portanto, estar vulnerável. Por isso essa palavra é tão falada hoje no mundo do trabalho, porque para inovar e deixarmos nossa criatividade fluir, precisamos nos perceber vulneráveis ao erro e à exposição das nossas imperfeições.
Isso tudo nos traz o risco que falamos antes: nos machucarmos ao longo da vida. O risco de nos ferirmos é inerente a estar vivo, se isso é verdade para nosso corpo, não seria diferente com nossos sentimentos.
Um trecho do filme “Pequeno Príncipe” diz assim: “a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar.” Quanto mais amamos, mais dolorido é o luto da perda dessa pessoa, mas vamos deixar de viver a delícia de amar, de sermos felizes e tantos sentimentos incríveis quando estamos numa relação de entrega, porque podemos chorar de dor? Seria o mesmo que não aprender a andar, porque podemos cair.
Cuidamos para não vivermos sentimentos negativos, mas também não vivemos os positivos, ficamos envoltos em uma capa de proteção em que não é possível selecionarmos o que queremos sentir, acabamos ficando dormentes.
Percebe que tentar ignorar nossa vulnerabilidade traz consequências? Seguem algumas delas:
- Não saber agir sem planejamento: tentar estar sempre protegido de tudo requer um planejamento de tantas possibilidades possíveis. Quando a pessoa é pega desprevenida, geralmente não sabe o que fazer com a situação, ficando, assim, sempre amarrada a uma previsibilidade planejada.
- Somatizar sentimentos não expressos e não vistos por si mesmo: quando negamos a vulnerabilidade deixamos de escutar nossos sentimentos que, como um todo integrado que somos, serão expressos de alguma forma em nosso corpo, muitas vezes, por meio de somatizações.
- Cria-se uma imagem irreal de si que mais cedo ou mais tarde não será sustentada: ficará difícil nos conhecermos com medo de vermos o quão vulnerável somos. Vamos apresentando nossas contradições ao longo do caminho, com dificuldade de sustentar esse ideal quando a realidade nos confronta.
- Impedirá de viver diversos momentos cheios de sentimentos e relações profundas: quando tentamos negar nossa vulnerabilidade, assim como pouco nos entendemos, pouco deixamos outras pessoas se aproximarem das nossas verdades, mantendo relações mais superficiais com os outros e conosco mesmos.
- Não se mostrar disponível para lidar com as imperfeições: isso significa criar resistências em perceber o que é imperfeito em si, causando ansiedade, sofrimento e fuga cada vez que uma imperfeição possa aparecer.
Vulnerabilidade e o desenvolvimento humano
Você já percebeu que muito do que você faz na vida é para gerar algum sentimento positivo nas pessoas a respeito de você? Enquanto seres humanos, crescemos desejando a consideração positiva das pessoas que amamos a respeito de nós. É a partir dessas relações centrais de afeto que desenvolvemos o valor sobre nós mesmos.
Acontece que muitas vezes aprendemos que o nosso valor está no que fazemos e não no que somos. Somos elogiados por nossas ações e também criticados por elas. É assim que vamos perdendo o contato com nossa capacidade criativa. Se estivermos focados na avaliação externa de nós, do que fazemos, quando vamos ter coragem de mostrar nossas ideias e o que sairá delas, se dependendo do que sair podemos perder nosso valor?
E assim, fugimos da vulnerabilidade de apresentarmos o que somos e o que criaríamos de atitude espontânea a partir da experiência. Vivemos com medo de não recebermos a consideração positiva e acabamos por não darmos a nós mesmos essa consideração. A abertura para a experiência requer coragem de nos vermos e de estar com o que o outro irá ver de mim. Essa abertura é possível quando lidamos com a nossa vulnerabilidade.
“’Não importa o que eu fizer hoje ou o que eu deixar de fazer, eu tenho meu valor’ (…) ‘Sim, eu sou imperfeito, vulnerável e às vezes tenho medo, mas isso não muda a verdade de que também sou corajoso e merecedor de amor e aceitação’”. (Brené Brown)
Como se permitir ser vulnerável?
Afinal, como se permitir ser vulnerável, então? Fiz uma lista que pode dar uma noção de como visualizar essa condição na nossa vida:
- Aceitar-se imperfeito;
- Permitir sentir o que vier e ser independente de comparações e do que as pessoas pensarão a respeito;
- Amar mesmo que não haja garantia;
- Respeitar suas fases, momentos, ciclos, limites e potências;
- Estar consciente de si, das suas verdades a partir dos sentimentos e percepções;
- Saber proteger-se a partir da inteligência emocional, aprendendo a cada dia como lidar com o que sente e como expressar para o outro;
- Dar limite para o outro, para não limitarmos quem somos;
- Estimular a criatividade com abertura para potência de criação;
- Perceber que mesmo imperfeitos somos suficientes
Lidar com a vulnerabilidade abre a possibilidade da inovação, de relacionamentos verdadeiros, com conexões profundas, uma comunicação não violenta com menos defesas e ataques e mais expressões de si.
Quando sabemos lidar com nós mesmos nos tornamos fortes ao apresentarmos quem realmente somos – cheios de imperfeições, vulneráveis – mas sabendo que estamos na vida para isso, superamos nossos desafios, sabendo que o que somos basta para encararmos essa jornada.
O processo de psicoterapia é um caminho muito significativo quando não conseguimos lidar com a vulnerabilidade por nós mesmos. É um espaço em que nos compreendemos e desenvolvemos a condição de sermos nós mesmos. Se quiser conversar com uma de nossas profissionais para saber se esse serviço pode te ajudar é só clicar aqui. Estamos juntos!