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Virei adulto e agora?

Falamos bastante sobre a fase da infância e a virada para a adolescência, mas e a mudança para a fase da vida adulta? É tão importante e cheia de desafios quanto todas as outras fases das nossas vidas, trazendo suas inseguranças e ansiedades. Vamos entender o que acontece quando viramos adultos e como passar por esse momento?

Conhecem a frase do filósofo Heráclito: “Não há nada permanente, exceto a mudança”? A nossa vida é assim, um conjunto de fases, composto pela infância, adolescência, vida adulta e velhice, que chamamos de ciclo vital. Ao longo da nossa história, com a mudança de idade, concretizam-se novos desafios e vivências.

Hoje vamos conversar sobre um motivo que traz diversas pessoas para a clínica psicológica por ser cheio desses desafios: a virada da fase da adolescência para a vida adulta! Para isso vamos passear pelos seguintes pontos:

· Ser adulto, o que é isso?

· Quais as consequências de não viver a fase em que se está?

· Sou adulto e agora? Dicas do que fazer.

Ser adulto, o que é isso?

Não sei quantos anos você tem, se for adulto vai concordar comigo, se não for, vou te contar:

A vida adulta não significa ser seguro e saber sobre tudo como achamos que seria quando crianças e adolescentes. Não, com 30 anos você não deixará de achar graça de coisas bobas, de ter medos que te envergonham ou, ainda, inseguranças de como dar conta da vida.

É bem verdade que a maturidade vem e, sim, desenvolvemos diversos recursos para lidar com tantas e tantas situações que na infância e adolescência não tínhamos ideia do que fazer. Mas o desenvolvimento é um eterno fluxo de contínuas aprendizagens. Então, não chega a hora em que sabemos de tudo e de fato temos total segurança de como viver. Afinal, grandes perguntas humanas seguem sem respostas, por exemplo, o que somos e para onde vamos?

Apesar de já termos aprendido e maturado muitos aspectos, sabemos hoje que a fase adulta não é sinônimo de estabilidade e ausência de mudanças importantes. Vivemos diversas transformações como, por exemplo, construir uma família, ter um trabalho, aprender e aprofundar conhecimentos sobre diversas áreas da nossa existência, ter projetos individuais e coletivos…enfim, contribuir ativamente para a construção do mundo em que vivemos de diversas maneiras, ou seja, cheio de mudanças e possibilidades de transformações.

Estas transformações viram necessidades internas ao longo do nosso desenvolvimento: a hora de parar de brincar para sair e conversar com amigos; escolher uma faculdade ou ainda ter um emprego e ganhar seu próprio dinheiro; a necessidade de ter uma casa para chamar de nossa, para viver do nosso jeito.

Bom, mas para que a vida tome o rumo que queremos, as relações familiares precisam se transformar. Um rompimento é necessário. Não um rompimento da relação, mas do vínculo de necessidade e de dependência que construímos desde que nascemos. Só assim poderemos ensaiar aqueles voos solos que nos transformarão em visita na casa dos pais.

Pois é, mas hoje estamos vendo acontecer um fenômeno chamado de “filhos cangurus”, aqueles que mesmo na idade adulta permanecem na casa dos pais. Na verdade, isso tem inclusive feito repensarmos a idade da adolescência, que já está sendo considerada até os 30 anos por alguns. Segundo o IBGE, nos últimos 10 anos, o número de jovens entre 25 e 30 anos que vivem com os pais aumentou em mais de 40%: 1 em cada 4 adultos entre 25 e 34 anos ainda mora com os pais.

É um efeito social complexo que envolve diversas áreas de discussões e estudos que ainda estamos entendendo: insegurança política; agravada com a consciência dos perigos; relações menos rígidas entre pais e filhos; cenário de trabalho mudando – não temos mais um caminho reto e certo sobre o que fazer, afinal crianças tiktokers podem ser milionárias e adultos de meia idade com doutorado, desempregados. Enfim, um vasto cenário para análise, o fato é que: Estar na fase adulta tem seus grandes desafios!

Considerando as contextualizações sociais, virar adulto significa aprender a gerenciar a própria vida e isso engloba diversas questões:

Aprender a cozinhar ou se virar com a comida; Gerenciar seus gastos porque o dinheiro vira uma questão constante e permanente; Cuidar da sua saúde física e mental, afinal a saúde deixa de ser futuro; Relacionamentos são mais complexos e menos contos de fadas; Você sabe menos do que achava que saberia.

Na verdade, a vida adulta é uma caixinha de surpresas, não é à toa que as dificuldades de assumir essa fase traz tantas pessoas para a psicoterapia.

Quais as consequências de não viver a fase em que se está?

A mudança para nos vermos adultos, apesar de esperada (“como serei quando tiver minha vida independente?”), não acontece assim do dia para a noite e é uma mudança gradual, que, na verdade, vamos percebendo com o tempo do “quão adultos estamos nos tornando”.

Como falamos antes, apesar de ter um estereótipo sobre a seriedade do adulto que está sendo cada vez mais quebrado, junto com o senso de responsabilidade, seguimos com os nossos gostos e diversas inseguranças, umas superadas e outras novas. Li em algum lugar que a vida adulta é como andar na corda bamba, mas sem saber onde vai cair se algo der errado.

Porém, crescer é prazeroso, é uma necessidade, na verdade, uma condição, pois o ciclo vital vai acontecer. Mas crescer requer coragem, e se manter na adolescência, quando na verdade a vida adulta já bateu na porta, demonstra uma sensação de estar despreparado para as responsabilidades e uma imaturidade quanto ao manejo social, a capacidade de lidar com adversidades e o autogerenciamento das próprias necessidades.

O perigo de travar o desenvolvimento envolve diminuir mudanças e não enfrentar os desafios que a vida apresenta. E quando falamos sobre isso, estamos nos referindo, não a um desenvolvimento esperado externamente, mas, sim, àquela necessidade interna que nós percebemos nas nossas sensações. Sabe quando sentimos que está na hora de mudar? Essa sensação precisa ser escutada.

Muitas pessoas chegam na clínica com relações familiares em crise, ansiedade elevada, uma dificuldade de reconhecerem seus objetivos e o que querem na sua vida, por medo de verem que precisam mudar. Desaceleram seus passos a ponto de desenvolver um medo cada vez maior de não darem conta das suas próprias vidas. Acabam se distanciando da sua potência.

Vamos combinar que entrar na vida adulta e fingir que esse medo não existe também não é uma boa ideia, não é? Encher a vida de trabalho e ocupações para esconder o medo de perceber que é responsável por sua vida e suas escolhas também pode causar problemas. Então vamos conversar sobre como encarar essa nova fase?

Sou adulto e agora? Dicas que podem ajudar

“Não é fácil viver uma vida adulta. Tal como na infância, cada passo implica, não apenas novas tarefas do desenvolvimento, mas exige um abandono de técnicas que funcionaram anteriormente. A cada passagem, é preciso renunciar a alguma magia, é preciso lançar fora alguma cara ilusão de segurança e algum sentido confortavelmente familiar de identidade, é preciso levar em conta a dilatação de nossa própria individualidade”

(trecho do livro “Passagens”,de Gail Sheehy)

Esse trecho pode ser duro de ser lido, mas é bastante real e, por isso, viver essa fase é desafiador. Bem, mas qual fase não é? Apesar destes desafios todos é assim que crescemos, nos superando, reconhecendo que a cada ano somos pessoas diferentes e mais capazes de vivermos o que a vida vem nos trazendo e isso é satisfatório, não é? Nos vemos lidando e nos divertindo com o fato de viver.

Vamos então às dicas que separei para encarar a vida adulta?

Autoconhecimento: afinal começamos de onde, senão de nós mesmos? Busque acessar seu referencial, suas avaliações, seus gostos, suas opiniões e desejos, suas potencialidades e dificuldades.

Aprenda a lidar com as despedidas: como comentamos, as despedidas de pessoas, de fases, de coisas, de jeitos de uma relação fazem parte da passagem de uma fase para a outra, é importante saber deixar ir e viver os sentimentos todos que nos provoca.

Encare seus medos: você precisará fazer diversas coisas que nunca fez na vida e muitas vezes sem apoio, por isso sem ter certeza ou segurança de como fazer e encarar, e você pode ir mesmo assim.

Lide com os erros: você vai errar, esta é uma certeza. E mesmo que nem sempre seja divertido, você pode sentar, chorar e depois de consertar, ter uma história de superação para contar com as aprendizagens que teve.

Seja aquela parceria que você sempre quis para vida toda: você será sua companhia constante! Seja aquele melhor amigo para encarar tudo, isso será necessário.

Seja responsável também por suas relações: as relações interpessoais são suas e serão preciosas nesse caminho, você também as faz acontecer e constrói junto a sua história.

Conecte-se com a paixão por suas constantes mudanças, elas significam crescimento: já que as mudanças vão acontecer, é um fato, abrace-as! Elas vão fazer você dar passos que nunca pensou em dar.

Como contei para vocês, estas mudanças de fases são momentos em que muitas vezes precisamos de ajuda para nos conectarmos com a nossa potência para ter coragem de enfrentar o que vem de novo. Relações facilitadoras que consigam nos ajudar a nos reconhecer e estar conosco podem ser bem vindas. Uma consulta psicológica ou um processo de psicoterapia pode ajudá-lo neste processo. Se quiser conversar com uma das nossas profissionais, clique aqui e descubra se faz sentido para você uma ajuda psicológica nesse momento.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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