O medo de não ser bom o suficiente ronda diversas pessoas, e se você chegou nesse texto, provavelmente, já se sentiu assim, não é? A autoexigência excessiva é aquela impressão de que não importa o quanto você faça, não alcançará o satisfatório. Vamos conversar sobre como lidar com esse sentimento?
É tão comum essas frases virem ao pensamento: “eu deveria ter conseguido”; “não está bom, dava para ser melhor”; “todo mundo consegue, por que eu não?”; “preciso dar conta disso, senão…” Você já pensou em alguma delas? Devem haver outras que passeiam pelo seu pensamento, não é? Pois é, viver assim é como se estivéssemos numa panela de pressão, em que não importa o que a gente faça, não alivia.
Para refletir sobre como diminuir essa pressão, vamos passear pelos seguintes pontos:
– O que a autoexigência provoca na nossa vida?
– Por que somos assim?
– Reconhecendo como lidar.
Mas antes de mais nada, este texto é para ajudar você a ficar mais perto de você mesmo e não como mais uma cobrança, ok?
Agora sim, podemos começar a entender esse sentimento sufocante e cansativo.
O que a autoexigência provoca na nossa vida?
“Eu me cobro demais/ acho que todo mundo se esforça mais que eu/ e que vou acabar ficando para trás/ porque não trabalho tão rápido/ nem com tanta disposição/ e que é tudo vão
eu não tomo café da manhã com calma/ eu vou comendo no caminho/ eu ligo para a minha mãe quando dá tempo – se não/ qualquer conversa me atrasa
deixo para depois todas as coisas/ que não me ajudem a realizar meus sonhos/ como se o que deixo para depois/ não fossem os meus próprios sonhos”
(Meu corpo, minha casa – Rupi Kaur, 2020)
Como é ser autoexigente? É nunca estar satisfeito consigo mesmo ou quase nunca. Isto quer dizer que mesmo que se faça muito, a autocobrança excessiva foca no fracasso, no que não foi feito, não alcançado, nos erros, falhas e imperfeições. Viver parece um amontoado de coisas para dar conta que nunca diminui, na verdade, com o tempo, parece só aumentar.
Viver sob uma pressão constante nos leva a alguns lugares já conhecidos: culpa presente porque raramente conseguimos chegar aonde achamos que deveríamos, níveis de ansiedade elevados e estresse praticamente constante. Isso quer dizer que, ao final, a chance de acabarmos adoecendo é imensa.
Além disso, faz você de fato perder muito do seu desempenho, sendo contrário ao que você quer atingir, sendo então “inferior” ao que conseguiria se estivesse se sentindo bem. Esse estado pode ser tão intenso que provavelmente você deve perder até a consciência da sua respiração e o foco no que está fazendo.
Comparações, medo do fracasso e não aceitar elogios são pontos muito comuns que acabam por tomar lugar de qualquer autoapreciação que poderíamos ter. Esse jeito de viver acaba por nos excluir de oportunidades e de vivências por não acreditarmos que merecemos, que somos capazes ou deveríamos estar ali. Acabamos nos excluindo da própria vida, acreditando que estamos fazendo o que a vida pede.
Por que somos assim?
Por que diminuir essa exigência excessiva? Porque seguimos uma produtividade que não está vinculada a nossa experiência interna, mas uma exigência externa. Mas como, se sou eu que sinto que tudo isso é importante para mim?
Ao longo do nosso desenvolvimento, aprendemos a seguir algumas convenções, regras, costumes e inclusive o que as pessoas que nos amam esperam de nós. Vamos nos distanciando do que nossos sentidos, percepções e desejos nos dizem para seguir, para dar conta do que aprendemos que precisamos fazer para sermos aceitos e amados. Criamos idealizações de nós, do que vamos fazer, das nossas capacidades… e a superação de nós vira algo quase como uma tortura para, quem sabe, chegar naquele lugar em que vamos merecer a confiança, o amor… mas esse lugar nunca chega.
E assim, nos distanciamos de nós. Porque, sim, desde pequenos podemos construir o que queremos, o reconhecimento do que damos conta e onde queremos superar. Os desafios escolhidos a partir da nossa própria experiência são para ser satisfatórios, para trazer processos de realização. Reconhecem que com a autocobrança a realização mal é sentida? Esse processo de realização não acontece porque criamos as idealizações e vamos ficando com vergonha de apresentarmos o que de fato queremos e somos, nos distanciamos das nossas verdades.
Quando somos sinceros com nós mesmos conseguimos reconhecer o quanto nos guiamos por esse externo e fazemos praticamente um contrato de corresponder a ele. No livro “Frida Kahlo e as cores da vida” tem um trecho que diz assim:
“Doía, mas ela precisou entender que tinha se apoiado numa falsa segurança. Que não existia. Ela só estava segura quando dependia apenas de si mesma.
[…]
‘Nunca mais vou fechar meus olhos às coisas que me desagradam. Serei fiel a mim mesma, à minha verdade, pois é melhor saber a verdade, mesmo que doa, do que mentir para si’” (Caroline Bernard, 2020)
Esse trecho é tão poderoso e forte, não é? Além de trazer que de fato é dolorido enxergamos a verdade da realidade e sobre nós, porque não é o que gostaríamos que fosse, também emana uma percepção de que somos confiáveis. E quando somos confiáveis para nós, podemos ser generosos conosco, nos tratarmos bem e, inclusive, chegar no tão sonhado amor próprio.
Reconhecendo como lidar
Como ao longo de todo texto, é importante lembrar aqui também que: não se cobre para ser diferente do que é, reconheça tudo que estamos refletindo e veja esses próximos pontos na sua vida para poder aumentar sua compreensão sobre si.
– Então, como falamos antes, para nos aproximarmos das nossas verdades, é importante reconhecermos nossas idealizações e assim nos aproximarmos de quem realmente somos.
– Para sair do sufoco da pressão, é bem verdade que precisamos nos arriscar e nos experimentarmos numa nova perspectiva e, para isso, vamos considerar abrir mão de diversas tarefas e responsabilidades que assumimos e que, na verdade, só alimentam uma imagem externa, e com isso considerar que você não agradará todo mundo.
– O externo serve para aumentar nossa percepção e não substituir, por isso comparações e cobranças avaliadas pelo outro precisam de cuidado. Quanto mais conhecer a si mesmo e assumir suas habilidades e imperfeições, mais conseguirá lidar com suas próprias exigências.
– Pessoas que têm uma autocobrança excessiva, deixam de perceber o quanto sua vontade de viver e conquistar é imensa e quanto se difere da idealização. Quando nos aproximamos de nós com realidade podemos nos aproximar dessa vontade de superar nossos limites, de nos experimentarmos e dar para o mundo o que já temos para dar. Lidar com quem se é, significa lidar com a vulnerabilidade de aparecer por aí, com seu jeito, o que dá conta e o que não dá. Como você usa a vida que existe em você?
No fim, a questão é: resgatarmos a confiança no nosso próprio potencial.
“nossas versões mais plenas não estão no futuro
estão aqui mesmo
no único momento que existe
eu não preciso de conserto
eu vou procurar respostas para o resto da vida
não porque eu vim com defeito
mas porque tenho a sabedoria de continuar crescendo
tudo que eu preciso para levar uma vida intensa
já existe aqui dentro
– eu sou completa justamente por ser imperfeita”
(Meu corpo, minha casa – Rupi Kaur, 2020)
Pessoas auto exigentes muitas vezes têm dificuldade de pedir ajuda, acreditam que deveriam conseguir sozinhas. Bom, por isso estou aqui nesse final falando que viver esses processos de reconhecimento de si, perceber e abandonar idealizações e encontrar nossa referência interna, precisará de relações facilitadoras que consigam te ajudar a se reconhecer e estar contigo. Uma consulta psicológica ou um processo de psicoterapia pode te ajudar nesse processo. Se quiser conversar com uma das nossas profissionais, clique aqui e descubra se faz sentido para você uma ajuda psicológica nesse momento.