Você já percebeu que quando o assunto é memória, o que mais falamos, na verdade, é sobre a falta dela? Isso acontece porque a falta de memória é profundamente desconfortável e costuma dificultar muito o nosso dia a dia. Você já tentou lembrar de algo e não conseguiu? Esqueceu onde deixou a chave? Não lembrou de um compromisso ou algum episódio importante da sua vida? Então você sabe do que estou falando.
Neste artigo vamos apresentar:
– Como a memória funciona?
– Quais são os principais tipos de memória?
– Por que a memória pode falhar?
– E o que pode ajudar a melhorar a memória?
Antes de tudo, afinal, o que é memória? Sem dúvida a memória é uma das funções neuropsicológicas mais complexas que existem, porque envolve processos bioquímicos e usa muitas conexões neuronais entre diferentes regiões do cérebro. Mas de uma maneira sintética, a memória é a capacidade de aquisição de informações e também de conservação e evocação de informações, sejam elas sensoriais ou subjetivas, internas ou externas.
Como a memória funciona?
Atenção para esta informação: tão importante quando consolidar uma memória é esquecer muitos elementos do que vivemos. Já pensou nisso? Se lembrássemos de tudo o que nossos órgãos dos sentidos captam? Cada som, cada imagem, cada cheiro, gosto ou toque, nosso cérebro não daria conta de gerenciar tantos processos ao mesmo tempo. Então esta informação já nos ajuda a ressignificar o esquecimento. Podemos afirmar que você certamente não quer lembrar de TUDO, então, nem todo esquecimento é ruim.
Um renomado neurocientista estudioso da memória chamado Ivan Izquierdo diz que “nós somos o que escolhemos esquecer”. Se quiserem assistir ele falando sobre isso é só clicar aqui. Mas continuando essa reflexão, isso quer dizer que a memória que selecionamos registrar para depois recordar é o que nos faz reconhecer quem nós somos, nossas características, o que nos pertence e as relações que construímos. E aí está uma das maiores fontes de medo de perder a memória, esquecer quem se é.
Mas o que faz a memória ficar registrada? Você já deve ter ouvido falar que as memórias que envolvem emoção são as que mais ficam registradas. E, sim, isso é verdade! Por exemplo, dependendo da sua idade, é muito provável que você se lembre com detalhes de eventos marcantes como a morte de Ayrton Senna, o ataque às torres gêmeas e também das copas do mundo. Isso sem contar aquelas memórias que fazem parte apenas da sua vida e que foram muito importantes como o nascimento de um filho, uma formatura, um casamento, uma viagem dos sonhos, uma experiência traumática, entre outras.
Quais são os principais tipos de memória?
Então, vamos aos tipos de memória. São muitas as classificações, mas a que se perde mais rápido é a memória de trabalho, que geralmente dura alguns segundos. Isso porque ela tem uma função muito específica e, assim que cumpre sua missão, já pode ser descartada. Por exemplo, quando você lê uma frase, você guarda a primeira, a segunda e depois a terceira palavra apenas até entender o sentido da frase. Assim que você entende, logo esquece as palavras exatas e passa a guardar só o sentido geral da frase.
Mas há aquelas memórias que precisam ser registradas por alguns minutos ou poucas horas, como lembrar de pequenos mapas e caminhos, por exemplo. Minutos ou horas depois, você vai fazendo edições nas recordações e lembrando apenas de alguns elementos mais marcantes do caminho, lembra que tinha uma ponte, talvez uma igreja, até que não lembre mais. Estas são as memórias de média duração.
As memórias de longa duração, por sua vez, permanecem por 6 horas ou mais. As que melhor conservamos tem conteúdo emocional forte e podemos lembrar até de cheiros, gostos, imagens, sons e sensações. Mas vale salientar que dificilmente nossas memórias correspondem ao que de fato aconteceu. Geralmente criamos novas conexões entre as lacunas, de uma forma que as nossas memórias nunca são exatas, elas sempre correspondem às nossas leituras ou edições da realidade. É por isso que as pessoas às vezes dizem: “eu não sei se eu vivi isso ou se sonhei”.
Agora que você já entendeu como a memória funciona e quais são os tipos de memória, vamos então entender o que pode comprometer a memória, seja na aquisição, na conservação ou na evocação.
Por que a memória pode falhar?
Existem diversas causas para a perda de memória: a natural e esperada é aquela fruto do envelhecimento e da degeneração ou morte dos neurônios e consequente perda de conexões entre as regiões do cérebro. Esse processo pode ser acelerado por demências como Alzheimer, por exemplo, ou podem acontecer gradualmente e naturalmente ao longo do envelhecimento. Sobre este tipo de perda de memória, tem um vídeo no nosso canal do YouTube, se interessar clique aqui.
Um outro fator que é muito comum e bastante prejudicial é o estresse e a ansiedade. Esses processos alteram a atenção e prejudicam tanto a captação de informações quanto a conservação e a evocação. Há também os fatores de saúde mental como a depressão por exemplo, que podem afetar a dinâmica bioquímica cerebral, causando falhas de memória. E aquelas alterações químicas orgânicas desencadeadas por adoecimentos, por fatores genéticos ou por ingestão de substâncias, que não podem ser desconsideradas no processo de compreensão do que pode estar acontecendo.
Outros fatores que eu não deixaria de citar são: sono irregular ou insuficiente, alimentação disfuncional, com falta de nutrientes ou excesso de substâncias tóxicas, além da falta de exercício físico regular. Estes fatores geralmente são subestimados popularmente, mas as pessoas podem não estar se dando conta do imenso prejuízo para a preservação da memória que maus hábitos podem causar.
O que pode ajudar a melhorar a memória?
Então, se você quer ter uma memória com qualidade, e com uma eficiência duradoura, saiba que a maior parte desses fatores são evitáveis ou tratáveis. Atente-se a estes pontos:
1. Desenvolva hábitos saudáveis de vida. Você já sabe, mas não custa lembrar: seu organismo é um complexo de processos bioquímicos e funcionais que precisa de nutrientes e cuidados para que funcione com toda a sua potência. Isso quer dizer que funcionar em exaustão vai gerar falhas em alguns processos, dentre eles pode estar a memória. Assim como ausência de movimento ou tentativas excessivas de controle do fluxo da vida, também podem trazer mal estar para seu organismo. Então, manter-se atento à sensação de movimento na vida e às necessidades de autocuidado podem ser dois elementos importantes para sua memória.
2. Aprenda a reconhecer, evitar e, quando necessário, solucionar situações estressantes e ansiogênicas. Para isso, sua comunicação com suas sensações e sentimentos é a maior fonte de informações. Reconheça, interaja e busque compreender o que você sente, assim suas atitudes podem se tornar mais resolutivas. Sabemos que nossas sensações, sentimentos e emoções são território desconhecido para muitas pessoas, então podemos ir compreendendo seus significados aos poucos, mas não podemos ignorá-las. Lembre-se que as emoções são excelentes condutores da sua memória, então aproxime-se delas.
3. Para finalizar, uma dica mais concreta: LEIA MAIS. O próprio Ivan Izquierdo diz que a leitura é o processo que mais ativa nossas capacidades cerebrais. Seu organismo é um processador complexo e, na maioria das vezes, ele sabe como se autorregular, ele só precisa de condições para isso. E a leitura ativa conexões neuronais, além de ser um estimulante da síntese de novos neurônios. É claro que, sim, os jogos e exercícios de memória podem ajudar também, mas nenhum deles alcança a complexidade do processamento cerebral envolvido na função de ler.
Desejamos que este artigo tenha ajudado de alguma forma a entender melhor sua memória. E se você sentir que está precisando de ajuda de alguma forma com a sua memória, seja para identificar o que pode estar acontecendo, ou para aprender a gerenciar seus sentimentos e hábitos de vida, consultas psicológicas podem ajudar. Clique aqui para conversar com uma das psicólogas da nossa equipe e entender melhor como os serviços psicológicos funcionam.