Nascemos e logo nosso caminho está traçado: alguns bons anos de escola pela frente. Nestes anos é quando, geralmente, descobrimos nossas dificuldades de aprendizagem, mas, na verdade, elas estão presentes em diversos momentos da nossa vida! Por isso a importância de identificarmos essas dificuldades vai além dos desafios escolares. Vamos entender o que as dificuldades de aprendizagem significam?
É encantador perceber as mais diversas formas de aprender do ser humano, e junto com isso também é encantador descobrir as singularidades que esse processo tem para cada um. Sabemos que ele não é feito só de flores (bem longe disso para a maioria das pessoas), mas o que as dificuldades de aprendizagem são? Para responder isso vamos passar pelos seguintes pontos:
- – O que é dificuldade de aprendizagem?
- – O que são os transtornos de aprendizagem?
- – Quais os tipos mais conhecidos de transtornos de aprendizagem?
- – O que fazer quando reconhecer uma dificuldade no processo de aprender?
O que é dificuldade de aprendizagem?
De acordo com Newra Tellechea Rotta, uma das autoras do livro “Transtornos da aprendizagem”, o “ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (experiência).” Então as dificuldades de aprendizagem provêm de alguma falha intrínseca, ou extrínseca, ou ainda de ambas. Vamos entender melhor as dificuldades referentes à experiência!
As dificuldades de aprendizagem aparecem onde começamos muitas das nossas aprendizagens: na escola. É lá que acompanhamos uma turma com nossa idade, tarefas e avaliações são feitas e temos um profissional que acompanha tudo que estamos aprendendo. Assim, quando a criança tem dificuldade de acompanhar a turma, aprender a ler, escrever, calcular, os professores e os pais ligam o sinal de alerta.
É bem verdade que todas as pessoas tem seu jeito de aprender e seu tempo: uns mais rápidos, outros mais lentos, com facilidades em algumas disciplinas, com dificuldades em outras áreas… Somos únicos e a composição da nossa vida também é! Sabe por que estou dizendo isto? Porque é para essa composição que precisamos olhar quando encontramos dificuldades de aprendizagem. Os estímulos externos e como a criança reage a eles estão relacionados diretamente com os aspectos afetivo-emocionais do processo de aprendizagem.
O processo de aprender nos envolve como um todo: nossos processos mentais, nossa disposição física, nossos sentimentos, nossas relações. Por isso, quando aparecem as dificuldades nesse processo, precisamos entender o que está acontecendo nesse todo.
Chamamos de dificuldades de aprendizagem aquelas que estão relacionadas a questões passageiras, que podem ser modificadas ou ainda mudar a forma de lidar com elas. Para entender o que pode estar dificultando o processo de aprender para a criança ou adolescente podemos levantar alguns pontos de influência como:
- – Contexto Social: condições que ela e sua família vivem e estão passando onde moram, financeiros;
- – Contexto Familiar: mudanças, perdas e lutos, processos de separação;
- – Contexto Relacional: bullying, dificuldade de interação social, conflitos, despedida de amigos.
- – Contexto Afetivo: sentimentos de medo, insegurança, ansiedade, traumas.
- – Cenário Escolar: método escolar, professores, relações com colegas, condições da escola.
- – Saúde: condições de saúde das mais diversas, como dificuldade de visão de audição, problemas motores, composição bioquímica, sono desregulado, cansaço.
Essas são apenas algumas das muitas possibilidades para serem levantadas e compreendidas no contexto que a criança está vivendo e pode estar afetando seus processos de aprender. Mas isso não é tudo, então vamos compreender um ponto intrínseco: os transtornos de aprendizagem.
O que são os transtornos de aprendizagem?
Uma outra questão a ser investigada e compreendida é o funcionamento neuropsicológico, ou seja, como seu organismo funciona nos processos de aprendizagem de modo geral: captação e processamento dos estímulos, processos cerebrais e todos os outros sistemas integrados do nosso corpo que envolvem o aprender. Nesta esfera podemos encontrar funcionamentos neuropsicológicos que se caracterizam pelos transtornos de aprendizagem.
Neste caso eles são uma condição, ou seja, faz parte de quem a pessoa é, por isso não é passageiro, mas é possível desenvolverem-se diversos recursos para lidar com isto e ampliar seu repertório de habilidades.
Eles também são geralmente percebidos no período escolar quando a criança passa pelo processo de alfabetização, mas, como comentamos, é um jeito de funcionar que, ao ser investigado, reconhecemos suas diversas características ao longo de todo seu desenvolvimento, ajudando os pais e a própria criança (adolescente ou adulto também) a compreender seu funcionamento e suas limitações.
O diagnóstico desses transtornos pode ser realizado apenas por profissionais especializados e com instrumentos de avaliação que também possam verificar e descartar as dificuldades de aprendizagem que consideramos anteriormente.
Quais os tipos mais conhecidos de transtornos de aprendizagem?
Os transtornos de aprendizagem afetam a evolução de diversas facetas da aprendizagem: leitura, escrita, fala, lidar com números, orientação espacial e temporal, permanecer atento nos momentos de estudo, entre outras. Assim, sabemos que são vários os tipos, então vamos te apresentar resumidamente os mais conhecidos:
- – Dislexia: esse transtorno relaciona-se principalmente à leitura e à escrita. Envolve dificuldades, por exemplo, na fluência da leitura, na decodificação e soletração, déficit no componente fonológico da linguagem. Leia mais em: Decifrando a dislexia.
- – Discalculia: envolve uma dificuldade quanto aos números, cálculos e símbolos referentes a eles, como conceitos matemáticos, conceitos de valor, quantidade, sequenciar eventos, lidar com dinheiro, usar todos os passos envolvidos nas operações matemáticas, entender conceitos relacionados a tempo.
- – Disgrafia: está relacionado à dificuldade quanto à grafia, ou seja, na escrita. Esse transtorno tem relação a habilidades psicomotoras afetando a qualidade da caligrafia, legibilidade da escrita, da sua organização na página, como tamanho da letra e espaçamento das palavras.
– Dislalia: é um transtorno relacionado à dificuldade quanto à emissão da fala, tanto em pronúncias das palavras, como também trocas de fonemas. Um exemplo bastante conhecido é o personagem Cebolinha da turma da Mônica.
– Déficit de atenção e hiperatividade: esse transtorno é complexo e envolve três subtipos, mas suas características principais estão relacionadas à agitação psicomotora, impulsividade, dificuldade de manter a atenção. Leia mais em: TDAH: saiba as principais características e o que fazer.
Esses são os transtornos mais comuns da aprendizagem, mas vale lembrar que outras condições do desenvolvimento neurobiológico também apresentam dificuldades de aprendizagem, como o autismo, sendo que é um espectro complexo de características que influenciam seu desenvolvimento global, leia mais em: Sobre um mesmo mundo e seus vários tons.
Apesar de todas essas dificuldades aparecerem na escola, também usamos essas habilidades na nossa vida diária, não é mesmo? Sim, os transtornos de aprendizagem, na verdade, envolvem toda nossa vida, vamos entender as consequências deles e o que fazer!
O que fazer quando reconhecer uma dificuldade no processo de aprender?
Tanto as dificuldades referentes a fatores extrínsecos como as referentes a fatores intrínsecos envolvem consequências significativas na vida das pessoas que passam ou vivem com elas.
Pode ser bastante sofrido passar por dificuldades de aprendizagem que não são vistas ou entendidas. As pessoas passam por pressões externas e internas e se sentem impotentes, deixando de reconhecer suas habilidades por não conseguirem desenvolver processos de aprendizagens que se esperam delas e que de fato são importantes para o dia a dia.
Essas consequências têm alcance em todo o desenvolvimento da criança, do adolescente e possivelmente do adulto que será. As consequências podem ser as mais variadas, mas já conhecemos algumas como: dificuldade no sono, preocupação e tensão constantes, afeta diretamente sua relação consigo mesmo, interfere em atividades de vida diária, dificuldades profissionais futuras, desencadeamento de outros processos ansiosos e depressivos, abuso de substâncias como fuga da incompreensão de si mesmo e sensação de fracasso, dificuldades relacionais interpessoais e afetivas.
Exigir de uma criança mais do que ela consegue fazer sem compreender sua forma de funcionar pode provocar muita vergonha, diminuindo sua autoestima e causando isolamento. Ela passa a desacreditar de si mesma, pode ter grande dificuldade para se relacionar com os amigos e o mundo, acreditando que ela mesma é o problema. Portanto, é importante que alguns passos possam ser dados quando os pais reconhecem que alguma dificuldade de aprendizagem pode estar se apresentando:
- – Acolha a criança e suas dificuldades: as exigências podem trazer baixa autoestima e aumentar as dificuldades ao invés de motivá-la a fazer melhor. Por isso é importante proporcionar lugar de escuta compreensiva sobre o que a criança está percebendo, passando e sentindo no seu processo de aprender.
- – Seja um investigador junto com ela: entenda como ela aprende melhor e o que funciona nesse processo, no que ela tem facilidade e onde encontra as dificuldades. Também é importante escutar o que as pessoas ao seu redor sentem e percebem, como professores, colegas de sala e outras pessoas que convivem com a criança, nem sempre é fácil escutar o que eles têm a dizer, mas pode ajudar a compor tudo o que vocês estão percebendo.
- – Procure um profissional especializado na área: para realizar uma avaliação completa e para trazer a compreensão que vocês já estão construindo juntos. É preciso um profissional que entenda de desenvolvimento humano, processos de aprendizagem e caso envolva transtornos de aprendizagem também neuropsicologia.
- – Comecem a desenvolver suas dificuldades a partir das suas potencialidades junto com esse profissional: depois da investigação chega a hora de trabalharem juntos no desenvolvimento das habilidades e encontrar formas de lidar com seu jeito de ser e aprender.
Pessoas com transtorno de aprendizagem podem ter processos criativos potencializados, exatamente pelo fato de processarem o pensamento de outra forma. É comum, por exemplo, reconhecermos artistas com algum dos transtornos que citamos. Isso não é uma regra, mas é uma chamada para olharmos para todas as potencialidades que a pessoa possa ter!
Muitas vezes costumamos querer que as pessoas se encaixem nos padrões e esquecemos de olhar quem elas são, suas condições, o que vivem e se dão conta. Reconhecer nossos limites sem julgamentos nos dá condições de superá-los e usar o que somos da melhor forma possível.
Sabemos que esse processo envolve diversos fatores como conversamos e você não precisa passar por isso sozinho, conte conosco e converse com uma das nossas profissionais clicando aqui. O serviço de orientação a pais ou a avaliação psicopedagógica podem te ajudar nesse processo.