A separação conjugal é algo difícil de viver para todos os envolvidos, mas, quando o casal tem filhos, a preocupação com a maneira como eles irão encarar essa situação é sempre presente. Apesar de ser cada vez mais comum para as crianças a ideia de ter pais separados, ainda assim os sentimentos envolvidos podem ser desafiadores. Vamos entender um pouco sobre como as crianças processam essa informação e saber o que podemos fazer enquanto pais para facilitar esse momento.
A separação é um marco na vida da família. Tomar essa decisão é difícil por si só e é ainda mais difícil quando envolve filhos. Muitas dúvidas tocam o coração e influenciam na dificuldade de decidir: Como ele vai reagir? É melhor para ele ficarmos juntos? Como vai lidar com o fato de não conviver com os pais morando na mesma casa? Será que sofrerá?
Fizemos este texto para ajudá-lo a pensar sobre como as crianças processam essa informação e o que podemos fazer para facilitar a vivência desse momento. Entendemos que esse assunto envolve muitos sentimentos, então, se ao longo do texto reconhecer que precisa de ajuda para processar o que está vivendo, uma consulta psicológica pode ser um caminho. Caso tenha dúvidas sobre como funciona, você pode conversar com uma das nossas profissionais clicando aqui.
Para ajudá-lo a entender as crianças nesse cenário vou passar por 6 pontos e em cada um deles auxiliá-lo a reconhecer o que podemos fazer:
- – Despedida e abertura para o novo;
- – Casal conjugal x casal parental;
- – Entender na prática;
- – Noção de tempo;
- – Como se comunicar com a criança;
- – Criança x decisões.
Despedida e abertura para o novo
A criança sempre passará por sofrimento numa separação de pais? Talvez essa seja uma das perguntas que nem fazemos porque consideramos que sim. Porém, muitas vezes, inclusive a criança fica aliviada com a mudança familiar caso ela também sinta que a situação está tensa em casa. A intenção da separação, na verdade, é de que seja melhor para todos, não é mesmo? Então, só precisamos, nesses casos, ajudar a criança a reconhecer isso, o quanto é uma mudança que cuida de todos nessa história.
De todo o modo, mesmo que seja um processo positivo, num sentido de ir em direção a uma saúde relacional para todos, ainda assim envolve uma despedida. Mesmo que seja uma despedida de algo que já não era tão bom de ser vivido. Por isso, é importante que aconteça de forma processual, sincera e com passos bem marcados e esclarecidos para a criança. Assim, ela pode ir sentindo cada etapa desse processo, como: a notícia, entender o que isso significa, as mudanças na casa ou de casa, nova rotina…Cada passo de que ela participa é importante que esteja ciente, dando lugar para se organizar.
Muitas vezes, além de se despedir do cenário em que vivia, a criança também precisa abandonar idealizações futuras com os pais e a família unida. Por isso é muito importante que ela tenha espaço para expressar e reorganizar esse cenário de várias formas através da imaginação, brincando.
Junto com o processo de despedida da realidade anterior, também acontece uma abertura para o novo. O significado desse novo para nós adultos é diferente do que é para criança, sabem por quê? Enquanto adultos nós já passamos por alguns processos de mudança na estrutura familiar, mesmo que tenha sido apenas sair da casa dos pais para casar-se. Já a criança, provavelmente, viverá sua primeira mudança dessa estrutura, um novo que ela nunca viveu: uma vida em que seus pais não estão mais casados. Isso nos ajuda a reconhecer o quanto essa mudança pode gerar insegurança e dúvidas. Com toda essa consciência muda completamente nossa empatia pela criança, não é mesmo?
Isso tudo quer dizer que mesmo que seja uma mudança para melhor, envolverá sentimentos diversos e possivelmente estressantes. É um momento sensível, delicado e que merece muita atenção para que todos possam ser cuidados.
Casal conjugal x casal parental
Agora que já reconhecemos um pouco mais sobre as despedidas e o novo nesse momento para as crianças, podemos entender algumas questões pontuais. Uma questão muito importante é ajudar a criança a reconhecer que o casal conjugal se separou, mas o parental não. O que isso quer dizer? Que como marido e mulher os pais não estarão mais juntos, mas sempre serão o casal de pais dela. A mãe nunca deixará de ser mãe e o pai nunca deixará de ser pai.
Para nós, questões como essa podem parecer óbvias, mas para a criança que ainda não entende como o mundo e as relações humanas funcionam por completo, pode causar uma insegurança muito grande. Por isso é tão importante que a criança compreenda que quem está se separando é o casal, não os pais.
Entender na prática
Falando em insegurança, a dúvida sobre o que vai acontecer é uma das maiores angústias! “O que de fato vou perder?” “O que vai mudar?”
Essas questões são geradoras de angústia porque a criança não tem a noção abstrata suficiente para compreender através do pensamento o que não conhece. Ela precisa visualizar na prática o que de fato vai acontecer. Por isso, use exemplos concretos, ajudando-a a visualizar as mudanças. A imaginação e os pontos fortes que você conhece da sua criança são bons aliados: desenhos, encenação com brinquedos, encenação com você, demonstração das mudanças na casa, exemplos do dia a dia e, principalmente, o desenho da nova rotina.
Noção de tempo
Falando em rotina, chegamos à noção de tempo. Essa é outra característica que demoramos para desenvolver por completo, o que nos faz perceber que para criança não se sentir perdida na nova rotina precisamos ajudá-la. A principal ajuda nesse ponto é quando ela verá o pai ou a mãe, quanto tempo falta, quanto tempo ficarão juntos…
Então use todos os recursos visuais que vocês podem adaptar: relógios, calendários, quadro de rotinas, contagem… O que for necessário para que sua criança possa se sentir segura de uma organização. A intenção é causar uma sensação interna de que “não precisa se preocupar com isso”, afinal ela pode recorrer a um recurso fora para visualizar quanto tempo falta para ver um ou outro.
É importante também fazer um processo de transição, pois no início, cada vez que a criança deixar o pai ou a mãe, será um processo de despedida. Então preparem a criança para encontrar o próximo responsável, usando recursos lúdicos como brinquedos, encenações, contagem do tempo para ela ir se preparando e, principalmente, passe a segurança de que vocês se verão novamente com os recursos concretos que comentamos antes.
Como se comunicar com a criança?
Tudo o que conversamos até agora é muito importante, mas esse ponto talvez seja a base para todos: como deve ser a comunicação com a criança? Para isso lembre-se: a criança não tem o raciocínio formado como o nosso (apesar de muitas parecerem que sim, não é?). Seguem algumas dicas para você se guiar:
– Contem quando tiver certeza da decisão: contem sobre a separação quando decidirem de fato e, se possível, comuniquem juntos.
– Conversa pontual, objetiva e direta: longas explicações e histórias não ajudam a criança a concretizar o que está acontecendo e você pode perder a noção do que ela está entendendo.
– Firmeza com amor: a criança precisa sentir-se segura com a comunicação, mas também acolhida e percebendo que tem espaço para conversar sobre os sentimentos.
– Detalhes e brigas não precisam ser comunicados: a criança precisa saber o essencial e, principalmente, o que a afeta, como por exemplo, deixar claro que ela não é responsável pela separação, o porquê está acontecendo de forma pontual, como será a rotina de agora em diante, quais as mudanças…Detalhes dos conflitos e dúvidas que acontecem na relação conjugal não ajudam a criança a lidar com a situação.
Lembrem-se: as crianças sentem vocês, mais do que entendem o que vocês falam, por isso quando estiver comunicando algo para a criança foque no sentimento que você tem por ela, que envolve ela, e não no sentimento do casal. Isso a ajuda a se sentir segura de que ela não precisa se preocupar com o sentimento que os pais têm por ela e nem mesmo que precisa cuidar de vocês. A criança não apresenta condições de ser suporte emocional para um adulto, por isso é importante que vocês tenham seu espaço de cuidado e ajuda para não sobrecarregar a criança.
Crianças x decisões
A dúvida do que devemos deixar a criança decidir aparece com frequência. Para ela é importante, nesse momento de mudança, que ela sinta a segurança da responsabilidade dos pais claramente. O que isso quer dizer? Não significa que os pais precisam estar 100% seguros das suas decisões, mas trazer para a criança a segurança de que vocês irão fazer as melhores escolhas diante de tudo que conseguem. Busquem resolver as questões entre vocês, a decisão de ficarem juntos ou não é de vocês, e as outras decorrentes disso também precisam ser.
Esse ponto é importante porque recebemos muitas crianças no consultório sentindo-se responsáveis por cuidar de algo ou ainda escolher uma parte, como se pudessem tomar decisões para os pais. A criança não precisa tomar parte, cuidar para que ela não se sinta responsável por isso, é fundamental.
Puxa, passamos por pontos complicados de serem vividos, não é? A verdade é que a separação dos pais pode ser um momento de grande aprendizagem para as crianças, seja de aprendizagem relacional, sobre mudanças, sobre lidar com suas emoções e reconhecimento de que vínculos podem mudar, despedidas podem acontecer e ela poderá lidar com tudo isso, desenvolvendo a sua resiliência.
Quanto mais conectados com os sentimentos e com a relação que vocês estão construindo juntos como pais e filhos, mais perceberão que é uma caminhada para a vida toda e esse é só mais um momento que vocês passarão juntos, aprendendo juntos.
Mesmo assim, sabemos que esse momento não é fácil e essas dicas são gerais. Cada família e cada criança têm uma história e um jeito particular de viver toda essa situação.
Você pode buscar orientação a pais, caso precise de ajuda para compreender o cenário da sua família e o jeito do seu filho, e qual a melhor maneira de lidar com tudo isso, bem como a criança pode precisar de um local organizador das emoções e facilitador do processo de organização psicológico como um processo de atendimento psicológico infantil.
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