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Quando a timidez na infância torna-se um problema?

Quem nunca viu (ou foi) uma criança escondida atrás das pernas dos pais? A timidez é muito comum na infância, mas até que ponto? Como diferenciar se a criança está sentindo timidez momentânea ou se esse sentimento pode prejudicar seu processo de desenvolvimento? Descubra quais são os principais motivos de timidez na infância e o que fazer quando precisamos intervir.

Nesse texto você vai encontrar um caminho de compreensão sobre a timidez e como ela se manifesta na infância, para isso vamos passar pelos seguintes pontos:

  • – O que é e o que não é timidez: as principais dúvidas.
  • – Por que uma criança pode estar sentindo timidez?
  • – Quando a timidez torna-se um problema?
  • – O que fazer para ajudar?

O que é e o que não é timidez: as principais dúvidas

A timidez é uma palavra usada em diversas situações de forma distorcida e confundida com outros conceitos. Vou diferenciar alguns deles para que você possa entender melhor o que sua criança pode estar sentindo.

Timidez é um sentimento e essa compreensão pode nos ajudar a cuidar do primeiro equívoco: chamar uma pessoa de “tímida” é o mesmo quando chamamos uma pessoa de “medrosa” quando alguém está sentindo muito medo ou ainda quando uma pessoa sente tristeza, e a denominamos “pessoa triste”. Por isso precisamos cuidar ao caracterizar as pessoas (principalmente crianças) de forma permanente, a partir dos seus sentimentos, pois podemos cair em um julgamento de valor e gerar sofrimento.

É por isso que a pergunta “Quem é tímido vai ser tímido para sempre?” não combina, pois podemos deixar de nos sentir tímidos, dependerá de como lidaremos com esse sentimento.

Outra confusão bastante comum é sobre a diferença entre timidez e introversão. A origem da palavra timidez vem do medo. O que isso quer dizer? O sentimento de timidez envolve uma sensação de mal estar em situações sociais, em que a exposição de si causa medo, gerando diversas reações nervosas que vão desde vermelhidão e sudorese a dor de barriga e gagueira.

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Enquanto a introversão é uma característica de personalidade de pessoas que preferem que sua expressão de si seja voltada para si mesmas, sentindo-se mais confortáveis sendo pouco expansivas socialmente e por isso mais reservadas e reflexivas. Mas isso não quer dizer que a pessoa tenha medo ou sinta-se ansiosa em situações sociais e que não saiba como lidar, é apenas uma preferência por ficar só. Uma pessoa com um jeito introvertido pode sentir timidez, mas uma pessoa extrovertida também pode! O que geralmente nos confunde é que tanto a pessoa introvertida, quanto a pessoa que está se sentindo tímida podem evitar situações sociais, mas por motivos diferentes, a primeira por cansaço e a segunda por medo.

Por que uma criança pode estar sentindo timidez?

Agora que entendemos melhor o que significa a timidez cabe nos perguntarmos: é normal uma criança sentir-se tímida?

Para responder a esta pergunta precisamos nos lembrar de que momento do desenvolvimento a criança está:

É uma pessoa em formação, que pouco conhece o mundo e como tudo funciona, sejam as coisas, as pessoas ou as relações entre humanos. Isso parece óbvio, mas nem sempre nos lembramos de tentar pensar como uma criança se sente com esses desafios todos.

Por esse motivo é esperado que a criança sinta necessidade de segurança externa em diversos contextos e apresente timidez. Quando bebê, por exemplo, ela sente medo da separação, afinal o mundo desconhecido desperta uma insegurança total, assim como existe a sensação de estranheza com pessoas desconhecidas, buscando também a segurança dos pais.

Quando crescem, por não entenderam como é que o mundo funciona, geralmente precisam reconhecer primeiro a confiança nos pais para daí sim se aventurarem e sair do estado de timidez. Além disso, cada uma pode desenvolver o seu tempo de descoberta do que é confiável e como ficar confortável com um estranho, passando por momentos de timidez inicial.

Então sim, a timidez é comum ao longo do desenvolvimento!

Quando a timidez torna-se um problema?

A timidez também pode aparecer de forma a causar sofrimento e não fazendo parte de um processo desenvolvimento. Essa timidez pode ser classificada de duas formas:

Timidez situacional: quando é sentida em momentos específicos, como apresentar um trabalho escolar.

Timidez crônica: quando é um sentimento presente em todas as relações sociais ou na grande maioria, e quando agravada pode transformar-se em fobia social.

Como havíamos comentado antes, a timidez pode manifestar alguns sinais: vermelhidão, sudorese, tartamudez (gagueira), isolamento, medo, nervosismo, dor de barriga e insônia.

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Mas uma das maiores consequências da timidez é que a criança pode deixar de desenvolver suas potencialidades quando esse sentimento é frequente ao longo do seu processo de aprendizagem.

Vamos entender quais são os principais motivos para esse sentimento estar tão frequente:

Medo do julgamento do outro: a criança pode estar se desenvolvendo centrada na avaliação externa de si, e isso pode trazer um sentimento de ser incapaz de corresponder ao que a outra pessoa espera dela ou que ela acredita que a pessoa espera.

Em decorrência dessa avaliação externa podemos reconhecer ainda outras questões:

  • – Medo de não ser aceita;
  • – Autocobrança e busca pela perfeição;
  • – Insegurança extrema e pouca autoconfiança;
  • – Necessidade de receber atenção.

Traumas: a criança pode ter vivido experiências traumáticas em momentos que estava desenvolvendo a sua autoconfiança.

Dificuldade de comunicação e expressão de si: a criança pode ter alguma dificuldade de comunicação ou de fala que a faça sentir insegura ao se expor, como tartamudez, dificuldade de dicção ou ainda dificuldade de organizar seu pensamento e expor para o outro o que tem a intenção de comunicar.

Dificuldade de compreender as interações sociais: quando não compreende situações sociais, a criança pode escolher isolar-se por não entender o que esperar e como reagir ao outro.

Percebem como um sentimento pode dizer muitas coisas? Com certeza não apresentei todas as possibilidades, mas já são noções suficientes para poder apresentar para vocês como podemos ajudar!

O que fazer para ajudar?

Dependendo do motivo da timidez a criança pode precisar de uma ajuda específica que envolva profissionais especializados. Se você tiver alguma dúvida converse com uma de nossas profissionais clicando aqui.

De modo geral, podemos ajudar a criança de diversas formas! Listei algumas dicas que podem te ajudar a refletir sobre como ajudá-la quando estiverem juntos:

Evite rótulos: não categorize a criança como tímida, ela pode deixar de se sentir assim quando superar suas dificuldades.

Não expor: quando a criança estiver se sentindo tímida, não insista para que ela lide com a situação a qualquer custo. Assim ela pode se sentir ainda mais exposta. Acolha seu sentimento e pensem juntos como podem lidar com aquela situação.

Crie espaços de interações seguras e compartilhe vivências suas de superação de timidez: conversas com os pais ficam marcadas e é na relação com você que ela encontrará possibilidades de conversas e expressão dos seus sentimentos.

Use a brincadeira como ferramenta para expressar a timidez e superá-la: a criança se organiza brincando, por isso vocês podem brincar de expressar-se na brincadeira primeiro.

Cuide com a superproteção: passar a responder por ela e tomar atitudes que ela poderia tomar não a ajuda a desenvolver sua autoconfiança.

Acredite no potencial da sua criança, ela precisa dessa aprendizagem: aprender a confiar em si mesma e a sua confiança nela pode ser o começo desse processo.

Ensine comunicação e habilidades sociais: esses dois itens são muito importantes no processo de aprendizagem, não esqueça de ensinar o máximo que pode sobre eles! Exercite dizer a mesma coisa de diferentes formas e estimule a compreensão do outro.

Ajude ela a respeitar seu tempo de confiar nas pessoas: a criança pode desenvolver seu próprio tempo de confiança no outro para se soltar e assim reconhecer seu processo social. Mesmo que demore, o importante é que ela só tome a iniciativa quando sentir que está na hora. Este é um fator de proteção social importante.

Respeite o espaço dela: a criança precisa de um espaço em que fique consigo mesma para que possa se organizar, desenvolver seus próprios raciocínios e percepções, provavelmente ela fará isso brincando.

Não reforce avaliações externas: essa talvez seja a dica mais difícil e mais importante, pois a criança com timidez está com medo do julgamento do outro, isso quer dizer que ela precisa de ajuda para desenvolver sua própria avaliação interna, e para isso não podemos reforçar que ela viva em busca de aprovação ou cuidando com a desaprovação do outro. Acredite na sua capacidade de desenvolver sua própria avaliação de si!

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Pais são como portos seguros! Então para entender sua criança aproxime-se, deixe-a expressar quem é e seus desconfortos para que ela possa recorrer a você sempre que precisar.

Costumo brincar que crianças não vêm com manual. Sabemos o quanto é desafiador participar do processo de desenvolvimento de uma pessoa tão singular, por isso não hesite em buscar ajuda, você não precisa passar pelos desafios do desenvolvimento infantil sozinho. Uma consulta de orientação a pais ou ainda um processo de atendimento psicológico infantil pode ajudar nessa caminhada. Clique aqui e converse com uma das nossas profissionais para entender qual serviço pode te ajudar.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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