Você já se questionou sobre a influência das redes sociais na sua vida? E no rumo da humanidade? Ao assistir documentários como “O Dilema das Redes” e “A era dos dados” podemos ficar entre dois movimentos: é uma teoria da conspiração e deixamos de lado essas reflexões seguindo a vida ou lidamos como um aspecto da realidade e cogitamos excluir nossas redes sociais! Que tal um terceiro movimento? Venha com a gente!
Para começar, vamos nos localizar brevemente sobre esses documentários lançados na Netflix neste ano:
“O dilema das redes” é um documentário que expõe a consequência individual e coletiva da produção de dados pessoais nas redes sociais e como eles podem ser usados para a manipulação de consumo, trazendo o ser humano para o lugar de produto. Ex-funcionários das redes sociais mais usadas no mundo expõem a lógica: quanto mais conectados nas redes sociais, mais dados produzimos e mais expostos à manipulação da publicidade estaremos.
Já a série documental “A era dos dados” traz o quanto estamos todos conectados com tudo que existe no mundo! Na série, um jornalista científico investiga as conexões que existem entre as pessoas, o mundo e o universo, e nos mostra como estamos mais ligados uns aos outros do que imaginávamos. Esta conexão natural, somada à conexão digital, eleva as pesquisas científicas a outro patamar e nos faz, inclusive, conhecer essas conexões complexas das quais fazemos parte. Mas a série também traz questionamentos sobre sermos cada vez mais vigiados e controlados remotamente, como, por exemplo, a quantidade de dados que um único aplicativo pode ter sobre nós.
Para refletir sobre os questionamentos que surgem provocados por esses documentários vamos passar por três pontos:
– Evolução da Humanidade e a aceleração das informações
– Será que me tornei um avatar?
– Quando nos apropriamos da pessoa que somos.
Evolução da Humanidade e a aceleração das informações
Não temos a dimensão de como tudo que estamos construindo afetará nosso processo de desenvolvimento humano e a sociedade, mas algumas questões já podemos observar e uma delas é sobre mudanças conceituais e, consequentemente, de rumo.
Desde a globalização, tem aumentado a velocidade com que as informações são transmitidas. Hoje as redes sociais são mais rápidas do que sites de notícias, logo os movimentos e repercussões possíveis sobre algum assunto podem acontecer em minutos e mais: no mundo inteiro!
Isso quer dizer que temos a possibilidade de causar mudanças conceituais rápidas, não sendo mais necessário esperar gerações viverem aquele conceito para que ele seja absorvido pela humanidade. Uma informação pode ser lançada no Twitter em qualquer país e, em minutos, viralizar e chegar à maior parte das pessoas no mundo. Claro, isso pode acontecer com qualquer informação: de fake news a transformações significativas no nosso jeito de entender o mundo.
Para compreendermos os diferentes tipos de movimentos dos quais participamos nas redes atualmente, talvez algumas perguntas sejam necessárias: que tipo de informações consumimos? Quais dados geramos com nossos interesses e postagens? O que de fato são notícias ou fake news? Quais conceitos estamos transformando e que tipo de novos conhecimentos estamos produzindo?
A falta de respostas para estas perguntas pode nos levar ao desejo de isolamento. Mas acreditar que podemos viver individualmente é uma ilusão. O raciocínio humano hoje funciona em rede. Saímos de uma comunicação por meio de sucessões, na qual a transferência de informações acontecia de um para um, para uma simultaneidade, na qual não temos noção do alcance das nossas ideias. Estamos indo além do raciocínio lógico linear? Piaget, corre aqui! Hahaha! Brincadeiras à parte, nossa forma de raciocinar pode estar se expandindo.
Isso tudo para reconhecermos que hoje podemos mudar o mundo com rapidez e todos nós fazemos parte disso. Não estamos fadados a cairmos em um poço sem fundo e acharmos que não vamos sair dali como diz Viviane Mosé (2020), mas podemos acreditar que nossa capacidade de mudança está cada vez mais dinâmica e fluida. Com a contribuição dos nativos digitais da geração Z e alpha, aprendemos a lidar de forma mais ágil com o erro, criando saídas cada vez mais criativas e disruptivas para resolver uma questão presente. E aí chegamos a um ponto importante: precisamos nos localizar no que estamos vivendo para identificarmos o que queremos mudar.
Yuri Harari, no seu livro “Homo Deus” (2016) apresenta que:
“Conhecimento que não muda o comportamento é inútil. Mas aquele que muda o comportamento perde rapidamente a relevância. Quanto mais dados tivermos e quão melhor compreendermos a história, mais rapidamente a história alterará seu curso, e mais rapidamente nosso conhecimento se tornará obsoleto.”
O conhecimento cresce vertiginosamente! Na era da rapidez na distribuição dos dados, quanto mais compreendemos, mais ações são possíveis, novos cenários se formam e mais perguntas aparecerão.
Como viver com essa era dos dados considerando o dilema das redes? Como não se sentir perdido no meio de tanta informação e novos conhecimentos? Talvez a questão seja: se estamos conectados com todos e tudo que existe, será que estamos conectados com nós mesmos?
Será que me tornei um avatar?
Você sabe o que significa avatar?
Originalmente é um termo da religião Hindu, em sânscrito “Avatãra”, e significa “descida de Deus”, ou seja, a manifestação corporal de um ser divino. Ele começou a ser utilizado para meios digitais em 1986, no jogo de videogame Habitat, para representar corpos virtuais e popularizou-se com o filme Snow Crash, em 1992. É uma imagem eletrônica que nos representa em jogos ou chats, por exemplo, uma transcendência da imagem da pessoa para um corpo virtual.
Será que podemos ser controlados através do nosso avatar como o personagem do documentário “O dilema das redes”?
Bom, é fato que hoje a grande maioria das pessoas faz parte das redes sociais. Uma pesquisa com adolescentes nos Estados Unidos (2015) aponta que:
– Além de fazer novos amigos, a mídia social é a principal forma de os adolescentes interagirem com seus amigos existentes. 94% dizem que passam tempo com amigos nas redes sociais.
– 83% adolescentes que usam a mídia social dizem que a mídia social os torna mais conectados às informações sobre o que está acontecendo na vida de seus amigos.
– 68% receberam suporte nas redes sociais durante desafios ou momentos difíceis.
Esses são apenas alguns dados de cinco anos atrás, de uma das muitas pesquisas que vêm sendo realizadas pelo mundo, imaginem hoje pós-pandemia!
Sabendo que é uma verdade que a vida atual é perpassada por um mundo digital, e imaginar que isso tudo deixe de existir não parece ser realista. Vale pensarmos como a noção que as pessoas têm de si mesmas está sendo construída.
Segundo Carl Rogers (1977), construímos a noção de eu a partir da interação com a forma como percebemos a realidade. Diante disto, como estamos processando a realidade virtual?
Para refletirmos sobre isso precisamos considerar alguns outros aspectos provenientes da interação com a realidade virtual: autoestima baseada em respostas às publicações, isolamento social por dificuldade de desenvolver habilidades sociais presenciais e corresponder ao mundo virtual e comparação ilimitada com outros perfis. Esses são alguns pontos que nos fazem pensar: dos valores que atribuímos a nós mesmos, quais deles se baseiam nas respostas que recebemos nas redes sociais?
A possibilidade de companhia virtual imediata, diminuição da carência através da aprovação em curtidas e comentários, sem contar as liberações bioquímicas de dopamina ao ter essas recompensas, e ainda o baixo limiar de tolerância à frustração, são todos aspectos que contribuem para nossa vulnerabilidade emocional e uso prejudicial das redes. Então, como experimentamos as redes sociais?
A espera de uma novidade, de uma mensagem, de algo que nos faça rir, que nos faça querer comprar, que se conecte conosco pode parecer uma saída alternativa para muitas dificuldades da vida comum. É por isso que é importante lembrar: Antes de sermos avatares, somos humanos com sentimentos e desejos reais. Mas estamos nos percebendo com sinceridade e proximidade para nos reconhecermos como pessoas reais e com necessidades emocionais?
Quando nos apropriamos da pessoa que somos
O perigo dessa conexão virtual geradora de dados é de nos tornarmos alienados sobre como nós estamos sentindo, percebendo e processando nossa realidade. Acabamos nem percebendo que somos agentes ativos desse cenário virtual que nos aliena de nós mesmos.
Nada substitui a intuição e a sensação humana. E como você reagirá pode, sim, definir novos caminhos e desenhos da realidade, afinal funcionamos em rede! Podemos muitas vezes ser previsíveis mas, com certeza, também surpreendentes.
Para isso, é importante que saibamos por quais processos estamos passando. Por exemplo, posso querer ativamente que o algorítimo das redes sociais me mostre novas promoções de tênis de corrida, mas será que sei quando estou escondendo meu processo de compulsão por compras ou descontrole financeiro de mim mesmo?
Será que sabemos o suficiente sobre nossas ações, sentimentos e intenções? Precisaremos sim estar mais conscientes.
Para nos tornarmos uma humanidade que usa dos recursos que cria e não se torna refém deles, o desenvolvimento do nosso poder de presença, de escolha e consciência é fundamental. Como seres únicos, criativos e potentes em si mesmos, chegou a hora, mais do que nunca, de despertarmos nosso poder humano de transformação ativa e consciente do contexto em que vivemos
Algumas perguntas podem nos ajudar neste processo:
· Quais suas necessidades? Elas mudam o tempo inteiro, fique atento!
· Quais seus limites? Esses são difíceis de aceitar, mas se os reconhecermos podemos ampliá-los.
· O que te causa ansiedade? Muitas vezes nem percebemos que ações pequenas podem estar causando aceleração e preocupações desnecessárias.
· Quais os seus sentimentos suscetíveis a gatilhos? Alguns estímulos podem servir de gatilhos para os nossos processos emocionais, quais são os seus?
· O que lhe causa bem-estar? Atualizar constantemente nossa percepção do que nos faz bem nos ajuda a ampliar nosso campo de autocuidado.
· Onde estão suas autorrealizações? O que o realiza e faz você sentir-se feliz consigo mesmo?
· Você baseia seu valor em quê? Muitas vezes nem percebemos que estamos baseando nosso valor em comparações ou ainda respostas superficiais.
· De quais mudanças conceituais você vê sentido em participar? Lembre-se: você é participante ativo do que acontece, encontre sentido nas suas ações.
E para finalizar, a busca por viver estas respostas de forma real e lidarmos com nossos sentimentos e desejos com transparência é essencial para construirmos o rumo da nossa história enquanto humanos. Sabemos que construir a noção de nós mesmos é desafiador, o processo de Psicoterapia presencial ou Consultas psicológicas on-line podem te ajudar!
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