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Minha história de recomeços | pela psicóloga Kátia L. Macagnan

Nestes últimos dias a questão “deixar fechar um ciclo para abrir espaço para o novo” esteve em meus pensamentos insistentemente. Bem, se o que há de mais pessoal é o que há de mais humano, espero, com este relato, tocar o que há de particular em vocês também.

A maior jornada que já empreendi foi na busca por sentido, em alguns momentos com serenidade, outros com desespero, alguns períodos à deriva, outros com determinação, também com mudanças de rotas para assim seguir as pistas sentidas sobre qual era o caminho a seguir. Foram algumas mudanças de carreira, de profissão, de posicionamento pessoal, e, em cada uma delas, encontrando a brecha para a seguinte.

Recomeçar pode ser difícil, mas ficar pode ser insuportável!

As pessoas da minha convivência não entendiam e me diziam coisas como: por que começar tudo outra vez? Olha a tua idade! Você não é mais uma criança. Que tipo de mãe você é, como vai ficar a tua filha? Por que não se conforma e simplesmente continua? Como assim, abrir mão de um trabalho tão bom? Você sabe quanto vai gastar com essa história de fazer Psicologia e, no final, você nem conseguirá trabalhar na área? Você é louca, nunca mais terá um emprego como esse! Mas eu não queria acreditar, e continuei.

Tem mais uma coisa, talvez eu tenha dado alguns motivos para as pessoas se preocuparem assim. Meu primeiro vestibular foi para administração, não gostei, entrei em alguns conflitos internos e parei antes de terminar o primeiro ano; o segundo para TI, este conclui meio que na marra; o terceiro foi pedagogia, gostei mas não pude seguir; e, então, o quarto curso, Psicologia. Eu morria de medo que acontecesse o mesmo que com os cursos anteriores, mas o encanto foi aumentando a cada aula e, quando chegou o estágio, tive certeza de que havia encontrado. Bem, acredito que tudo poderia ter acontecido de uma forma mais tranquila se naquela época eu simplesmente tivesse feito terapia e orientação profissional antes dessa bagunça toda.

E sabe, a melhor coisa que fiz depois que comecei a escutar a minha própria voz e relativizar as vozes externas, foi acertar a rota da vida. Bem, você pode estar pensando que agora é fácil dizer, né? Afinal, o período de pôr tudo abaixo para reconstruir já passou! Sobre isso eu diria: Será? Não tenho certeza disso. Um processo sempre pode ter novos capítulos. Mas tenho certeza de que aqueles dias em que me lancei deixando um ciclo acabar e seguir procurando o que fazia sentido foram as sementes que mais floresceram em minha vida. Fui para a TI porque gostava de números, lógica, deduções, mas cheguei à Psicologia, primeiro buscando ajuda para mim mesma, e, depois, pelo desejo de que todos pudessem ter o que eu havia encontrado. E a partir deste momento este passou a ser o meu sentido, passei a ser o que buscava.

a difícil jornada de ser flor

Bem, eu já tinha achado meu sentido, mas antes de termos primavera, temos a difícil jornada de ser flor, não é? E o mais lindo é que a vida sempre surpreende! Vem o vento e semeia novos campos, mais uma vez é chance de recomeçar.

Em 2005, finalmente, consegui fazer o vestibular para Psicologia, quando saiu o resultado meu pai estava internado e eu mal sabia que ele não iria estar comigo no final do primeiro semestre. Mas eu lembro da alegria e do entusiasmo dele, isso até hoje enche o meu coração. Quando cheguei no quarto do hospital ele estava na cama, com seu rádio de pilha azul, e já havia contado a novidade para todas as enfermeiras. Ele compartilhou a alegria que eu estava sentindo de uma forma muito intensa, sem julgamentos ou preocupações, ele simplesmente viveu aquele momento comigo.

Imprevistos do caminho

Logo no começo do curso tive que fazer escolhas pois minha rotina ficou insustentável. Eu estudava de madrugada, via minha filha somente nos finais de semana, eu não conseguia conciliar o trabalho e a faculdade, ambos em tempo integral. Então fiz as contas, achei que conseguiria manter-me com algumas restrições até o final da faculdade e saí do trabalho.

Foi um tempo bom, mergulhei nos estudos, convivi mais com minha filha, mas adivinha? Imprevistos acontecem, né? E o dinheiro acabou! Bem, o que fazer? Os trabalhos que eu tinha em vista não seriam suficientes para pagar uma babá e a faculdade. De qualquer forma, precisava voltar a trabalhar. Então, por coincidência, abriu edital para um concurso nacional com vagas para a cidade em que morava na época. Era uma boa alternativa, estudei muito naqueles meses e consegui passar. Assim, pude terminar a faculdade, mas depois disso, mais uma vez, aquele trabalho deixou de fazer sentido, para mim ele era um meio e não um fim.

É difícil deixar um sonho para trás

Depois da faculdade eu estava me preparando para abrir outras portas. Eu estava apaixonada pela Psicologia e não via a hora de mergulhar mais ainda nela. Mas não foi tão simples. O mais difícil aconteceu em uma semana entre novembro e dezembro de 2012. Eu já havia terminado a faculdade de Psicologia há algum tempo e desde lá buscava uma forma de me manter trabalhando apenas na área. Nessa semana, após tentativas frustradas de remoção para a cidade em que meu marido estava trabalhando, somadas aos efeitos da saudade e distância no rosto da nossa filha, pedi exoneração e, por ironia do destino, no mesmo dia saiu minha nomeação como Psicóloga para uma instituição da qual lembro com muito carinho por tudo que ela representa para mim e por tantas coisas que lá vivi!

mudanças e despedidas

Chorei muito, foi um abrir mão de um sonho que havia gestado desde o ano 2000, estava ali na minha frente e eu deixei ir. Tentei pensar em uma forma de conciliar esta possibilidade, mas não teria como bancar as despesas de viagens e moradia. Então, na mesma semana abri mão de dois concursos para ficar desempregada e morar em um quarto e sala em Porto Alegre, mas com a família unida e, sabe, foram dias muito felizes! Nunca estivemos tão perto uns dos outros como naquele período, literalmente!

Recomeçar novamente

E estar com a família despertou um potencial de vida que me ajudou muito, mais um presente!

Então, nos meses seguintes me dediquei a voltar a estudar e passei em um novo concurso como psicóloga em Florianópolis e, desta vez, chegamos todos juntos à ilha da magia! Não foi fácil para nenhum de nós, mas, com toda a certeza, foi a melhor jornada em que nos lançamos.

E aqui a vida me surpreendeu mais ainda, não pelo melhor concurso que poderia sonhar naquele momento, mas por conhecer o Espaço Viver. E desde então tenho o presente de estar acompanhada em meu processo de crescimento e busca de sentido.

Todas as vezes que deixei algo para trás, porque era o que sentia que precisava ser feito, a vida me surpreendeu com algo muito melhor do que eu poderia pensar. E hoje, ser facilitadora de processos humanos em tempo integral é extremamente gratificante, encontrei o sentido que instintivamente buscava, sinto estar em algum tempo ou lugar que dentro de mim sempre existiu!

Algumas coisas que aprendi

  • Nenhum fim é definitivo, ele é necessário para abrir espaço para o novo. É preciso deixar ir, escolher seguir ou ficar.
  • As pessoas a nossa volta podem estar muito bem intencionadas, realmente querer o melhor para nós, mas elas não têm como saber do que realmente precisamos, esta é uma prerrogativa pessoal!
  • Quando se quer vida, a pergunta não é se o caminho é muito difícil, mas se é isso que você quer? Está disposto a pagar o preço, adiar, esperar, correr, construir, apostar, perder, recomeçar, esperançar? A escolha é pessoal, você está disposto a percorrer o caminho?
  • Sabe, frustrar-me com as pessoas foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Eu acreditava que dependia delas, mas ao quebrar este elo e me ver só, percebi que eu podia fazer por mim e não depender de mais ninguém, muito menos responsabilizar alguém por meus passos.
  • Hoje posso dizer que sou feliz, às vezes alegre, mas com a experiência marcante de que a capacidade de reconstruir nossas histórias está em nós, e somos capazes de, mesmo com pesar, sentindo-se no chão, recomeçar quantas vezes forem necessárias.
  • Tudo o que conquistamos externamente é frágil, pode ser passageiro, mas o que construímos em nós mesmos, o mundo das experiências, é maior e estará disponível até o fim.

Sei que esta parte da minha história poderia ter muitas versões, naqueles momentos estas foram as minhas escolhas. Hoje vejo que poderia ter sido mais tranquilo, mas na época ainda não tinha aprendido isso. E como é bom caminhar tirando as pedras da mochila, sentindo-se mais livre à medida que caminhamos.

Essa foi minha forma de aprender a chegar em mim mesma, em confiar, poderia ser de tantas outras formas, mas aprendi e continuo aprendendo que a vida pode ser leve e transcendente em sentido.

Quero deixar meu até logo com uma frase de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que publicou seu primeiro livro aos 76 anos, assumindo de vez a Cora Coralina que existia nela e com muito a ser dito e vivido ainda

ir com leveza

“Ando cansada de bagagens pesadas. Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração”.

Se quiser ajuda neste caminho, em sua busca de sentido e leveza estamos aqui.

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