Você tem ideia do que seu psicólogo precisa saber para poder te ajudar de forma efetiva? Muitas pessoas acreditam que para atendermos na clínica precisamos apenas entender de processos psicoterapêuticos e dinâmicas de personalidade. O processo de ajudar uma pessoa psicologicamente envolve a pessoa por inteiro e tudo que pode afetar a sua existência.
– Lá se vão anos desde que quebramos um paradigma, mas ainda não o superamos completamente, sabe qual é? Vou lhe dizer: para compreender o ser humano, o separamos por partes. O que isso quer dizer? Vamos começar o texto conversando sobre a Compreensão do organismo total.
– Hoje reconhecemos que não é possível estudar apenas os aspectos anatômicos e fisiológicos para nos tornarmos médicos, nem somente os processos psicológicos para nos tornarmos psicólogos. O mundo 4.0 traz pesquisas atrás de pesquisas e descobertas a que temos acesso por todos os lados: documentários, vídeos, notícias, artigos, eventos… Mas como dar conta de entendermos tanto sobre o humano e ainda colocar em prática na nossa atuação? Para responder a este questionamento o segundo ponto do texto será a Afinidade com o mundo 4.0 e alguns conceitos importantes.
Compreensão do organismo total
René Descartes, filósofo e matemático em 1596, cunhou o termo “mecanicista”, o qual foi incorporado por diversas áreas científicas, inclusive para a compreensão do ser humano. Segundo ele, a natureza funcionaria como um relógio, uma máquina, que para ser compreendida seria preciso separar suas peças, entendê-las e ao juntarmos esses conhecimentos compreenderíamos o todo. Ao longo dos anos até hoje, essa visão mecanicista nos trouxe diversas descobertas. Foi a partir dela que aprendemos a pesquisar as regiões do cérebro e a função que cada uma exerce em nosso organismo.
Essa percepção foi se tornando insuficiente e muitas foram as contribuições de teóricos e cientistas, um deles foi o neurocientista Kurt Goldstein. Entre 1959 e 1971, Goldstein apresentou pesquisas sobre o funcionamento organísmico total e uma forma holística de compreender o ser humano. Em suas pesquisas com soldados da Primeira Guerra Mundial com lesões cerebrais, reconheceu que cada organismo podia responder de uma forma diferente à mesma lesão. A partir das pesquisas, levantou que para compreender o que estava acontecendo em um organismo era necessário considerar o presente, o passado e o futuro da pessoa, considerando-a como um sistema integrado.
Hoje, mais de 50 anos depois, as pesquisas e as práticas clínicas apresentam cada vez mais essa interconexão do funcionamento do corpo humano. De lá pra cá, recebemos o Best-seller de Antônio Damásio “O erro de Descartes” e cientistas do mundo inteiro em seus laboratórios nos provam que as conexões entre partes tornam o todo absolutamente mais complexo do que a soma delas.
Trazendo para um contexto prático, sabemos hoje que a causa das questões clínicas são relativas. Uma depressão pode ser causada por uma degeneração cerebral (Alzheimer) e não apenas de um funcionamento psicológico de dinâmica de personalidade. Sabemos também que o déficit de vitaminas no organismo pode causar sensações e comportamentos similares a um transtorno psiquiátrico. E também sabemos que cada organismo se manifesta e se autorregula de um jeito mesmo que ambos tenham o mesmo diagnóstico. Podemos escrever páginas e páginas de correlações entre áreas e a singularidade de cada ser. Esses são alguns exemplos dos mais simples, afinal mal alcançamos a compreensão das inúmeras possibilidades da integração dos sistemas e suas variáveis.
O que esta realidade presente na prática clínica quer nos dizer?
Que somos um todo que funciona de forma conectada, e não partida. Não podemos focar apenas em questões psicológicas e emocionais quando, para sermos compreendidos, precisamos considerar todas as temáticas que envolvem o ser humano. É preciso perceber o todo para compreender como ele se apresenta.
Afinidade com o mundo 4.0 e alguns conceitos importantes
Skills
Você já ouviu falar do conceito de skills?
As hard skills são as habilidades adquiridas através dos conhecimentos acadêmicos e certificados, aquelas habilidades tangíveis e facilmente quantificáveis, como as aprendizagens que adquirimos nas graduações , em cursos, novas línguas…
E as soft skills, são as competências voltadas aos comportamentos e inteligência emocional, mais subjetivas e menos quantificáveis, como, por exemplo, empatia, criatividade, capacidade de resolução de conflitos…
Hoje se chamam Essential Skills a junção das duas.
Por que estamos falando sobre isso? Em todas as áreas e todos os lugares o que vemos é esta comunicação multi sobre o ser humano, não lidamos mais com pessoas setorizadas nem mesmo nos seus saberes. Um profissional do futuro (que já é presente), precisa apresentar diversas skills, e essa junção considera esta abertura para lidar com o complexo.
Como daremos conta de tantas informações que envolvem o ser humano e suas interconexões? Quais skills podem nos ajudar?
Bom, com o tamanho de desenvolvimento que temos hoje, existem alguns conhecimentos e experiências que nos ajudam a visualizar como funciona na prática esse complexo (afinal, sabe-se lá quais outras respostas podemos encontrar com as inovações no futuro!).
Geração Alpha e lifelong learning
Quem pode nos ajudar a responder a estes questionamentos é a geração Alpha. Isto mesmo, os nascidos a partir de 2010, chamados nativos digitais. Essa geração nasceu num ambiente com estímulos constantes! Inseridos num mundo tecnológico, o bombardeio de estímulos gera uma aceleração no estabelecimento de conexões. Além disso, a liberdade para fazer questionamentos traz uma quebra de barreiras e uma curiosidade sem fim.
Essa geração de curiosos têm menos medo de errar, sem amarras de conhecimento e mais, sem resistência à mudança. As informações estão aí: é digitar no Google e você fica sabendo o que quiser.
Hoje, não damos conta de sermos especialistas em tudo, mas precisamos saber que um mundo de conhecimentos coexiste, nos posicionarmos enquanto curiosos e nos interessarmos sobre como essa consciência do todo pode influenciar o ser humano. Isso significa assumir uma postura de lifelong learning, certo de que nunca chegaremos a ter o conhecimento suficiente, pois somos eternos aprendizes.
Vivemos em rede
Bom, se você chegou até aqui já deve estar entendendo que o organismo humano funciona como um sistema complexo total, no mundo 4.0 as habilidades e competências estão interligadas na atuação profissional e o conhecimento é interconectado e infinito. O que falta dizer? Se tudo funciona em rede, não faz sentido trabalharmos sozinhos!
Isso mesmo, trabalhar em conjunto, numa rede complexa, funciona com muito mais potência do que partes separadas. Para compreender como isto acontece na prática veja estes conceitos e skills:
– Interdisciplinaridade: inter (entre) disciplinas. Este conceito considera que o conhecimento não é um conjunto de dados estáveis, mas, sim, uma relação entre os ramos de conhecimento. Trazendo à tona que a relação entre especialidades é fundamental para a compreensão da realidade.
– Transversalidade: transversal que significa “linha que corta ou que atravessa outra linha ou um plano” (Dicionário Aurélio). Na prática profissional isso quer dizer que os conhecimentos se “atravessam” nos mais diversos ramos de conhecimento (interdisciplinaridade) e ainda entre conhecimento teórico e prático. Trata de colocar em prática esse “atravessar” entre conhecimentos. A transdisciplinaridade nos coloca como seres críticos e ativos no conhecimento adquirido, tornando a percepção da realidade mais ampla, tornando-se mais efetivo quando em conjunto. Acontece com a comunicação sem hierarquia com o objetivo de chegar a uma percepção mais complexa, “problematizando os saberes técnico-científicos e os saberes populares, negociando práticas de cuidado considerando as diferenças entre os sujeitos, tensionando, na gestão, os saberes especialistas e ampliando a produção de conhecimento.” (Pedroso & Vieira, 2009)
– Cooperação: é uma ação conjunta para um objetivo em comum. A cooperação, colaboração e a cocriação dizem respeito ao trabalho em equipe, uma das soft skills fundamentais para “pensar fora da caixa”. Buscar e aceitar outras percepções, trocar visões e olhar por diferentes perspectivas traz a possibilidade de um trabalho interdisciplinar e transversal. E o limite de áreas para explorarmos nossas comunicações não existe: Fonoaudiologia, Nutrição, Psiquiatria, Neurologia, Psicopedagogia, Neuropsicologia, Educação física, Fisioterapia, Pedagogia (e todas as matérias aprendidas na escola), Mundo virtual, Arquitetura…
– Relação, conexão e presença: De tudo isto, o mais importante: interagir com estas áreas em respeito ao humano. O que isso quer dizer? Que mesmo que você encontre um profissional qualificado em seus estudos constantes, ainda assim, é outro humano. A essência do todo será o encontro entre duas pessoas que possuem em comum essa condição humana de ser. O respeito, a disponibilidade, a compreensão empática e a autenticidade são fundamentais para que se estabeleça uma relação verdadeira de ajuda.
A relação livre de julgamentos, de pessoa para pessoa, onde por meio da presença se estabelece uma conexão verdadeira continua sendo a base para que toda a ação profissional de um psicólogo seja efetiva. De nada adianta todo esse mergulho nos conhecimentos e abertura para um trabalho integrado se esquecermos que somos todos humanos buscando por um contato verdadeiro conosco e com o outro.
Sabemos que apesar de exponencial esse movimento é, ainda, escasso dentro da Psicologia. Então, se você quiser encontrar profissionais dispostos a trabalhar desta forma ou ainda se quiser ajuda para se localizar enquanto profissional nesse jeito complexo de viver em rede, contem conosco.
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