Quem nunca pensou que a família era a fonte de segurança e de solução para os problemas… E depois descobriu que nas relações familiares estava a âncora que impedia de navegar em águas mais distantes. Também não me surpreenderia se estas compreensões se transformassem mais algumas vezes. Sabe por quê? Porque família é algo tão complexo, que o raciocínio de certo ou errado, isso ou aquilo não dá conta de explicar.
Bem, mesmo quando está tudo embrulhado, vamos precisar começar de algum ponto, não é? Então me acompanhe! Vou puxar um fio desse novelo…
Por que sempre nos organizamos em famílias?
Este é um bom ponto para começar: todo mundo tem uma família, mesmo que esteja representada pela ausência. Mas de onde vem essa organização milenar?
Historicamente a família já foi uma organização social que facilitou a subsistência da espécie. Diferentes funções distribuídas entre os membros, que garantiam melhores condições de sobrevivência e de procriação. Passaram-se alguns milhares de anos e chegamos a períodos nos quais quanto maior a família melhor, porque assim haveria mais mão de obra para a lavoura, por exemplo (ARIÉS, 1978). Até que chegamos aos dias atuais, onde famílias numerosas são sinônimo de condição financeira reduzida ou baixo grau de informação. Quanta transformação, não é? E ainda nem entramos em questões subjetivas.
Hoje uma família é considerada pela OMS como uma estrutura dinâmica que pode ter muitas configurações e está em constante atualização. Alguns especialistas inclusive preferem chamar de famílias, no plural. Uma definição aproximada e momentânea poderia ser: uma unidade social básica, com diversas formações baseadas em laços consanguíneos ou afetivos. Sua finalidade original? É a proteção comum! A união de forças, características e habilidades para garantir a subsistência e o desenvolvimento de todos.
A família é a verdadeira origem daquela expressão: Juntos somos mais fortes!
É onde aprendemos o significado de grupo. E os conflitos, em grande parte, se devem à dificuldade de equalizar as individualidades e o bem comum. Isso leva muitas pessoas a se perguntarem: Qual o segredo de relações duradouras?
A diversidade de formas como uma família pode se estruturar faz com que cada família tenha um jeito próprio de funcionar diante das adversidades da vida. E ainda tem mais: as famílias mudam com as experiências no tempo.
Como funcionam os ciclos de desenvolvimento de uma família?
Não são só as pessoas que passam por fases de desenvolvimento ao longo da vida. As famílias também passam! Existem várias descrições das fases do ciclo vital de uma família. Mas em síntese podemos descrever da seguinte forma:
- A Formação
Tudo começa com a formação, casais se formam, com as mais diversas configurações. Os principais componentes são afeto e desejo mútuo de compartilhar a vida. E os planos e estratégias para concretizá-los começam. Uma verdadeira negociação, regada a longas conversas e apresentação de suas identidades, sonhos, desejos, dificuldades, desafios, até que forme um robusto e complexo projeto comum. E aqui já temos o primeiro desafio: A comunicação e compreensão mútuas estão claras o suficiente? Não é pouco comum que venham já da fase de formação os principais conflitos posteriores. É quando mais tarde ouvimos expressões como: Mas não era isso que eu sonhava; Mas você não me disse que era isso que você queria.
Então se pudesse sugerir algo para essa fase diria: comunique! E se for necessário dar alguns passos atrás para reconhecer com mais precisão o que você deseja, o que é importante para você, faça isso! E crie espaço para retomar esta conversa sempre que necessário, afinal, vocês continuarão mudando com as experiências, não é? Esse contrato, formal ou informal, não está escrito na pedra, precisa ser reformulado sempre que um ou outro se transforme.
- A aquisição
Passada a fase de formação, o amadurecimento, período que chamamos de aquisição. Este é o período em que vamos construindo nosso projeto comum, adquirimos os recursos necessários para a construção da família, de acordo com as condições que temos. É nesse período que geralmente vêm os filhos.
É claro que nem sempre as coisas são como gostaríamos, têm filhos que vêm antes da hora, têm filhos que são uma verdadeira conquista. Têm casais que não desejam ter filhos. Família é uma formação do diverso.
Temos famílias nucleares resumidas a um casal e um filho, assim como temos famílias estendidas com integrantes com meses de idade e idosos experimentando a longevidade após os 80 anos. Cada uma dessas pessoas está em uma fase de vida diferente e ainda pertencem à gerações diversas. Isso leva a pontos de vista e habilidades muito diferentes, que podem levar para o conflito ou para a complementaridade.
Independentemente das formações, esta é a fase em que se concretizam os projetos familiares. O maior desafio dessa fase talvez seja se adaptar constantemente às mudanças e aprender a somar. As diferenças são inevitáveis, as divergências, também. As famílias não precisam que todos sejam iguais para prosperar, mas precisam transformar as diferenças e as individualidades em complementaridade. E assim, em grupo podemos alcançar objetivos e processos de desenvolvimento que não conseguiríamos sozinhos.
- O envelhecimento
E depois de tantos desafios e aprendizagens, chega a fase de envelhecimento. Essas mudanças de fase não são determinadas apenas pelo tempo, mas sim pela complexidade característica de cada família. Esta é a fase em que a família se prepara para o fim de um ciclo. Quando geralmente pode ser reconhecida como uma família de origem e oferece suporte para a construção de outras famílias.
Uma fase de maturidade que representa o resultado de escolhas diárias de permanecer juntos mesmo sendo diferentes. O envelhecimento de uma família deixa um legado que vai da genética à compreensão de mundo e do significado da vida humana para que as próximas gerações se apropriem e reformulem, para se adaptar à nova realidade e contribuir de alguma forma para o desenvolvimento da humanidade.
A família diante das adversidades da vida
E como ser família no contexto atual, onde as concepções mudam com muita intensidade? Segundo o IBGE entre 2007 e 2017, o tempo médio entre a data do casamento e do divórcio caiu de 17 para 14 anos. Esses podem ser usados em apenas algumas configurações familiares, mas indicam que as estruturas não são mais tradicionais. Sabe o que isso quer dizer? Que estamos diante de ciclos de mudança, onde as concepções mudam rapidamente, e que teremos que aprender a gerenciar conforme forem acontecendo.
O que aparentemente está se tornando o caos, pode se transformar em solução. Vocês devem estar se perguntando: como? Quando as pessoas agem individualmente ou focam sua atenção nas dificuldades pessoais ou divergências relacionais, podem entrar em verdadeiros momentos de desespero, desconfiança e rompimento de relações. Assim acabam desperdiçando recursos e se distanciando do potencial familiar.
Então, diria que, se conseguirmos compreender o contexto de cada família e enfatizar a sua potencialidade, independentemente dos desafios que estejam por vir, a família pode se tornar um grupo potente de enfrentamento colaborativo.
Só poderemos enfrentar as adversidades da vida, se estivermos abertos para reconhecer o que podemos aprender com essas transformações incessantes. Neste caso, o que nós, enquanto famílias, podemos aprender e transformar com isso tudo? A soma dos potenciais dos membros de uma família certamente é um processo grupal com maior resiliência e recursos de superação colaborativa.
Talvez o maior desafio das famílias esteja em despertar o potencial das individualidades a serviço da superação e, assim, o produto será de todos. A fonte da potência familiar está no apoio mútuo em prol da proteção e desenvolvimento comum.
Sabemos que transformar diferenças em complementaridade é um desafio. Então, se você precisar de ajuda nesse processo, conte com nossa equipe!
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