“E viveram felizes para sempre…” Quem nunca sonhou em viver um relacionamento de contos de fada, não é? Mas, depois de alguns sacolejos de realidade, colocamos os dois pés no chão e começamos a reconhecer que viver a dois é um desafio. Um relacionamento amoroso pode se tornar tão complexo, a ponto de não conseguirmos compreender um ao outro e vivermos em estado de guerra, com sofrimento emocional intenso.
Mas como chegamos a este ponto, se no início tudo eram flores? Existem tantas formas de ser casal, tantos jeitos de se relacionar, tantos combinados explícitos e implícitos, não é? Isso quer dizer que se você está em um relacionamento conflituoso, é muito provável que você não esteja compreendendo algo. São mesmo muitas variáveis e muitos pontos de vista diferentes, e podemos passar anos tentando mapear nossa realidade de casal. Mas você e seu parceiro ou parceira não precisam fazer isso sozinhos, podem contar com a ajuda dos serviços da psicoterapia de casal.
Quando o assunto é psicoterapia de casal, surgem algumas dúvidas: Como funciona? Quando devemos procurá-la? Vamos passar por esses pontos ao longo do texto, mas antes temos uma questão para entender: O que define um casal? Que tipos de problemas um casal pode ter?
Vamos às respostas!
Quando nos tornamos um casal?
Há algumas décadas, quando as relações afetivas caminhavam para um relacionamento amoroso, geralmente víamos um contínuo de um namoro, seguido de noivado e enfim o casamento. Mas, atualmente, esse processo apresenta muita diversidade. Um casal pode ir do namoro direto para a experiência de morar junto, pode viver uma união afetiva, mesmo estando distante fisicamente, pode estar em um relacionamento aberto entre outras configurações. As mudanças nos hábitos relacionais são tantas que, inclusive, se tornou mais comum constituir uma união estável do que formalizar um casamento.
Mas afinal, em qual desses formatos ou momentos da relação amorosa podemos dizer que se constituiu um casal?
O casal se constitui quando há um vínculo afetivo amoroso e algum contrato explícito ou implícito sobre o funcionamento da relação. Então, sim, um namoro constitui um casal, assim como qualquer uma das composições que apresentamos como possibilidade.
Um outro aspecto fundamental a reconhecer é que viver sozinho nem sempre foi uma possibilidade socialmente desejada. Mas hoje está cada vez mais natural a ideia de que nem todos formarão casais ao longo da vida. A liberdade da existência humana e a complexidade de construção da vida podem chegar a diversas histórias pessoais, com identidades particulares e igualmente realizadoras.
Esta pode ser uma questão angustiante para as pessoas que não conseguem se imaginar sozinhas, sem uma relação amorosa ao longo da vida. Por outro lado, pode ser uma alternativa confortável para pessoas que não desejam compartilhar a vida por inabilidades relacionais ou mesmo por uma preferência pessoal.
Mas o fato é que a motivação para formar um casal está, cada vez mais, atribuída a um desejo e não a uma obrigação social. É por isso que estamos nos questionando mais do que nunca se queremos continuar em uma relação ou não.
Por que os relacionamento acabam?
Esta mudança de perspectiva é um dos fatores que está levando milhares de casais a decidirem se separar quando a relação não anda bem, antes que traga prejuízos maiores a ambos. A cada ano o número de casamentos diminui e o de divórcios aumenta. Em 2017, no Brasil, o IBGE publicou uma pesquisa onde a cada três casamentos temos um divórcio.
Sobre esse assunto há dois principais argumentos dos especialistas: um grupo atribui esta realidade a que Zygmunt Bauman (Sociólogo polonês) chamou de amor líquido, uma compreensão de que os laços humanos estão se tornando frágeis, descartáveis, substituíveis. Um outro argumento relaciona essa realidade ao aumento da liberdade das pessoas para não se prenderem a obrigações sociais ou relações onde haja subjugação e ausência de amor.
Em um primeiro olhar, podem parecer argumentos contrários, mas, observando melhor, são complementares, já que mostram dois aspectos importantes da transformação na nossa forma de nos relacionarmos: estamos com dificuldade de formar laços humanos. Por outro lado, como propunha Frida Kahlo (Pintora surrealista mexicana), não estamos mais nos demorando onde não podemos mais amar.
Daí vem a questão: Quando surgem os conflitos relacionais é porque a relação não faz sentido ou é porque não sabemos fortalecer nossos vínculos? Essa é uma daquelas questões que não têm respostas a priori, mas é uma boa questão para refletirmos!
E ainda tem o fato de uma relação amorosa ser composta de duas pessoas, com constituições diferentes e compreensões de mundo distintas. Isso traz para ambos o desafio de reconhecer seu próprio jeito de ser, assim como abrir-se para compreender o jeito de ser do outro. Além do desafio de desenvolver habilidades de comunicação que ajudem a harmonizar ideias, opiniões, projetos de vida, sonhos expectativas. Ufa, quanta coisa não é?
Nenhum de nós cresceu aprendendo o suficiente sobre si, ou sobre formas efetivas de ouvir e de se comunicar. Já viu onde isso tudo resulta, não é? Desentendimentos, decepções, frustrações e conflitos que podem até levar ao fim do relacionamento. É por isso que digo com tranquilidade que um casal pode precisar de ajuda para desenvolver seus recursos de compreensão e de comunicação desde o namoro, se for necessário.
Quais são os motivos para procurar a psicoterapia de casal?
Você já percebeu que escolher viver a dois já é bastante complexo e, por isso, são muitas as questões que podem surgir neste processo. Vamos começar pelas questões do processo de construção de uma relação:
- – O relacionamento vai ser aberto ou fechado?
- – Quando é o melhor momento para morar juntos? Em casa ou apartamento?
- – Como vamos distribuir as responsabilidades domésticas? E a vida financeira?
- – Vamos ter filhos? Biológicos ou adotados?
- – O que é indispensável para cada um?
- – Como interagir com o que não gostamos dos hábitos do outro?
E agora algumas questões do processo de compartilhar a vida:
- – O que fazer quando surgem ciúmes?
- – O que vai ser considerado uma traição nesta relação?
- – E se o interesse sexual diminuir?
- – E quando os projetos profissionais implicam em mudanças para ambos?
- – E quando um dos dois mudou muito?
Viu? Não param de surgir questões na vida a dois. Se vocês estiverem conseguindo conversar com uma comunicação transparente que leve a uma compreensão mútua e a escolhas que contemplem as necessidades de ambos, então a relação provavelmente vai bem. Mas se vocês não estão conseguindo conversar e se compreender, talvez seja a hora de procurar uma psicoterapia de casal.
Observe esse ponto: em meio à angústia dos conflitos é comum atribuirmos a responsabilidade dos problemas relacionais ao outro. Isso se intensifica a ponto de transformarmos a relação em uma acusação seguida de outra. Esse processo pode ficar crônico a ponto de risco de violência inclusive. Você vai concordar comigo que, em uma circunstância como essa, é obvio que o casal precisa de ajuda. Mas o que muitas pessoas não sabem é que o casal não precisa estar em conflito para procurar uma psicoterapia de casal.
A forma como o casal interage com as discordâncias e desentendimentos diz muito sobre a saúde da relação. Casais que compreendem conflitos como uma oportunidade de crescimento pessoal e como uma possibilidade de fortalecer laços afetivos, geralmente encontram saídas mais criativas para as adversidades.
E assim encerramos por aqui o mito de que os casais vão para a psicoterapia de casal para separarem-se! Muitos casais separam-se, inclusive, porque não buscaram ajuda a tempo. Salvo circunstâncias em que ambos desejam ou concluem que a separação é uma boa alternativa, as relações podem se desenvolver rumo à cumplicidade e à compreensão mútua.
Como funciona a psicoterapia de casal?
A psicoterapia de casal é um processo complexo que envolve uma escuta ativa para as questões do casal. Busca-se compreender junto com o casal seu jeito de se relacionar, trazendo à tona aqueles assuntos que cada um pensa que o outro compreende, mas, na verdade, nunca conversaram abertamente sobre.
O psicoterapeuta é um facilitador da comunicação e da compreensão mútua, que busca garantir, durante as consultas, um clima compreensivo, empático e transparente entre todos, sem privilegiar os posicionamentos de um em detrimento do outro. Um facilitador de um verdadeiro encontro entre humanos, com suas fragilidades, medos e expectativas.
O somatório entre um ambiente acolhedor, um clima relacional facilitador e o desejo de mútua compreensão pode levar a encontrar saídas para as adversidades que ambos não conseguiriam encontrar sozinhos.
Em uma perspectiva mais prática, como diria Rogério Buys (Psicólogo Centrado na Pessoa brasileiro), psicoterapia de casal é sobre a relação de casal e não uma psicoterapia individual acompanhada. Isso quer dizer que, não faz sentido que as individualidades sejam ouvidas em separado. Na nossa perspectiva de compreensão, o psicoterapeuta não é um juiz que ouve partes em separado e determina o que deve ser feito como um veredito. Ao contrário disso, ele é aquele que propõe o resgate do poder do casal para gerenciar as adversidades da sua relação ao longo da vida.
Aos poucos vamos percebendo que viver a dois é uma verdadeira escolha diária, que contempla transformações pessoais e possíveis mudanças de rota, sempre que necessário. Talvez não exista o: “E viveram felizes para sempre!”, mas pode existir o “Que seja infinito enquanto dure!” (Vinicius de Moraes).
Se você sente que sua relação está precisando de ajuda para compreender-se e de um espaço para refletir sobre questões que estão em aberto, saiba que a psicoterapia de casal é uma alternativa. E ela pode acontecer em consultas periódicas, presenciais ou on-line.
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