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O que é esse tal de “novo normal”?

Há algumas semanas estávamos descobrindo que os países asiáticos, o epicentro originário da pandemia, estavam retornando às atividades de forma gradativa. Mas o entusiasmo veio pigmentado de apreensão. Isso porque os retornos por lá estavam intermitentes. E não é que, passadas algumas semanas, essa realidade também chegou até nós? Essa sequência de fatos nos revela duas tendências principais: alguns movimentos globais são, de certa forma, previsíveis e aquele velho desejo de “voltar ao normal” não será possível, a menos que estejamos falando de um “novo normal”. Então vamos refletir sobre estes aspectos.

Imprevisibilidade previsível

A pandemia é um fenômeno global, como o próprio nome diz. Isso quer dizer que estamos nesta juntos. Então, evitando extremismos e considerando variações, os dados da China, nossa paciente zero, são nossos dados e os dados desastrosos da Venezuela, assim como os dados de sucesso da Nova Zelândia também são nossos dados. Quero dizer que, mesmo estando no Brasil, a onda de movimento de expansão e retração do covid-19 representa as possibilidades de para onde e como podemos caminhar. É por isso que o processo global revela algum grau de previsibilidade a curto e até médio prazo.

Se considerarmos que é muito provável que a vacina esteja viável apenas a partir do ano que vem, ao menos, então já é uma realidade que o retorno gradual e intermitente às nossas atividades esteja condicionado a cuidados minuciosos com a saúde para evitar o contágio. Isto quer dizer que os hábitos humanos não serão os mesmos. O comportamento nos transportes, nos ambientes sociais serão marcados pela iminência da presença do covid-19 entre nós. Previsível, não é mesmo? Desconfortável, mas uma realidade provavelmente possível. Sim, já temos os contornos ou uma ideia do que viveremos.

Sabemos, é claro, que isto tudo pode variar para mais ou menos restrições de acordo com a evolução do processo. Mas ter essa consciência geral nos leva a duas questões que norteiam nossas decisões e ações nessa nova realidade: a antecipação acelerada do nosso antigo futuro e as questões éticas de compromisso social que farão parte das nossas escolhas diárias. Vamos olhar para estes aspectos.

O “novo normal”

A abertura parcial e intermitente das atividades comerciais e sociais nos traz a experiência de uma realidade de máscaras, na qual as pessoas saem “se” e “quando” necessário. Esta transformação intensa e abrupta resultou em um impacto de transformação no contexto do trabalho, da economia e do jeito humano de viver sem precedentes.

Especialistas dizem que estamos vivendo uma antecipação forçada do futuro. Isto porque muitas das tendências para 2030, anunciadas nos últimos anos, estão se concretizando agora. Dentre elas estão:

• Desmaterialização dos produtos e serviços, com predomínio do intercâmbio pela internet;

• Trabalho em home office ou teletrabalho, com uso intensivo de videoconferências;

• Consciência e consumo sustentáveis, com ênfase no cuidado com a natureza;

• Uma integração entre o digital e o físico, de forma que não saberemos mais diferenciar o limite entre um e o outro;

• Valorização do humano, priorizando o desenvolvimento e o uso dos soft skills, as habilidades relacionais e atitudes que potencializam comunicação, empatia e bom relacionamento interpessoal.

realidade híbrida

Se você observar com atenção, vai perceber que nos últimos meses essas tendências se aceleraram exponencialmente. Já podemos ver a humanidade e o mercado se adaptando às pressas para essa nova tendência. Quem já utilizava os recursos digitais está expandindo estes serviços e quem não utilizava está correndo para implantar. Toda essa velocidade está coroando o coronavirus na internet como o maior acelerador da transformação digital que já tivemos.

A realidade que vivemos hoje é híbrida, ainda não temos todos os recursos digitais possíveis em uso, assim como a distribuição desta realidade ainda é muito desproporcional. Mas a necessidade de proteção contra o contágio está acelerando o uso digital global, não só quanto ao aumento do acesso aos recursos, mas também quanto à mudança de consciência da população. Muitos preconceitos sobre o uso dos serviços on-line estão se transformando e a abertura das pessoas para as novas possibilidades está florescendo.

Da forma como as circunstancias estão evoluindo, estamos encontrando um “novo normal”, bem diferente do antigo. Uso da máscara e álcool em gel e o hábito de lavar as mãos com frequência já estão sendo abraçados pela humanidade nesse novo jeito de viver. E, além destas transformações, temos também os dilemas éticos e as dúvidas existenciais que aparecem toda vez que temos que fazer uma simples escolha: sair ou não sair? Estas reflexões também fazem parte desse nosso “novo normal”.

Uma questão de compromisso social

Paira no ar a pergunta: é seguro sair? Com o que conhecemos sobre o vírus diríamos que sair nos expõe a riscos. No entanto, como vimos, algumas exposições parecem inevitáveis, como os serviços essenciais e algumas profissões que ainda não têm a possibilidade de atuação digital. Bem, mas e as saídas que dependem apenas da nossa escolha? Saídas como: devo ou não correr no parque? Devo ou não visitar minha mãe no dia das mães? Mesmo que sejam tomados todos os cuidados possíveis eles não excluem os riscos de contágio. E mais, é um risco que não expõe apenas você, mas as demais pessoas que possam ter contato dentro de algumas horas com o local por onde você passou. Este é o dilema ético ou a questão existencial que o covid-19 trouxe para o nosso “novo normal”.

senso de coletividade

O fato de se tratar de uma questão global e que não escolhe classe social, gênero ou origem, está acordando o senso de coletividade da humanidade. Afinal, cada uma das pequenas escolhas que fazemos não diz respeito apenas à nossa contaminação, mas ao risco de contaminar outros e ainda a possibilidade de precisar usar os equipamentos de saúde coletiva, com risco iminente de sobrecarga. Sim, cada escolha pequena é uma variável que pode incidir em risco de morte, não necessariamente sua, mas de alguém. É uma realidade dura, mas estes dilemas éticos agora fazem parte do nosso cotidiano.

Se você também se vê diante destas questões diariamente, saiba que você não está só. Estamos todos diante das mesmas questões, com maior ou menor grau de consciência, com maior ou menor ansiedade diante dos impasses, mas fazendo parte de uma mesma comunidade, a própria humanidade.

Embora também não tenhamos a saída para estas questões. Algumas questões comuns podem ajudar você a ampliar suas reflexões:

Se posso sair de máscara para os serviços essenciais, porque não posso sair por outras questões? Não entraremos em questões biológicas, mas o fato de você poder sair de máscara para algumas atividades, não é sobre não haver riscos nessas atividades. Corremos riscos ao sair sempre. Essa autorização é sobre a noção social de que esse risco precisa ser corrido para que a vida se mantenha em outros aspectos fundamentais. Esse é o ponto para ajudá-lo a reconhecer a sua real necessidade de sair.

E se eu sair sem me aproximar de ninguém e não contaminar o local onde estiver? Bem, neste caso o dilema é puramente ético. E se todos quisessem fazer o mesmo? O que faz com que você possa fazer isso e as demais pessoas não? Sair sem uma necessidade real rompe o compromisso social de todos, no qual as regras são iguais para todos.

Sinto que se não sair vou ter problemas de saúde mental. Acho que esse é o meu limite. Sim, a saúde mental é uma variável importante e precisa ser considerada. A questão é que, se você ainda está precisando de um ambiente externo para se sentir bem, quer dizer que ainda está usando como base o nosso “antigo normal”, onde até usávamos a expressão: vou sair para arejar a cabeça! Nessa nova realidade esse recurso já não é mais uma possibilidade para este fim. Então, se você está sentindo sua saúde mental abalada, você pode estar precisando da ajuda de um profissional para reconfigurar suas compreensões de realidade e seus recursos para lidar com ela.

Quem diria que afirmaríamos isto? Mas é uma verdade que, hoje, usar a tecnologia é uma questão de humanização, muito mais do que qualquer contato humano físico!

Se você sentir que ainda precisa reconfigurar sua compreensão, realizar Consulta Psicológica on-line pode te ajudar!

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Maira Flôr

Maira Flôr

Psicóloga, CRP 12/08932

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