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Você sabe diferenciar amor de paixão?

Amor e paixão são sentimentos tão conhecidos que embalam nossas músicas e inspiram nossas obras de arte, até porque, todos nós já fomos enlaçados por eles? Mas é muito comum nos perguntarmos se estamos apaixonados ou se amamos alguém, não é mesmo? E você sabe distinguir esses dois sentimentos? Vamos diferenciá-los de uma forma que você possa se localizar no que sente!

Antes de começarmos nossa diferenciação, olhem que curioso como esses sentimentos estão no nosso dia a dia! Você sabe qual o tema das músicas mais escutadas no Brasil e no mundo segundo o Spotify?

No Brasil:

“Implorei pra voltar

Não me manda embora

Sou preso na sua vida

Era só liberdade provisória”

(Henrique e Juliano – Liberdade provisória)

No mundo:

“Take your hand, my dear, and place them both in mine

(Pegue sua mão, querida, e coloque as duas nas minhas)

You know you stopped me dead when I was passing by

(Você sabe que me paralisou quando eu estava passando)

And now I beg to see you dance just one more time

(E agora eu imploro para te ver dançar só mais uma vez)”

(Tones and I – Dance monkey)

E que tal a música mais ouvida na última década no Brasil e no mundo?

“Girl, you know I want your love

(Garota, você sabe que eu quero seu amor)

Your love was handmade for somebody like me

(Seu amor foi feito a mão para alguém como eu)”

(Ed Sheran – Shape of you)

Do que todas essas músicas falam? Sobre amor e paixão, é claro! O que será que cada compositor estava sentindo quando escreveu cada uma dessas músicas? Para isso eles precisariam conferir esses pontos:

  • – O que é paixão?
  • – As alterações orgânicas de quando estamos apaixonados.
  • – O que é amor?
  • – Como nosso corpo fica quando amamos?
  • – Como o amor e a paixão funcionam nos dias de hoje?

Como não vamos perguntar para eles, que tal questionar a nós mesmos? Entender o que sentimos nos ajuda a nos localizar e, inclusive, orientar nossas ações com o outro.

O que é paixão?

Vamos começar do começo para entendermos o que acontece conosco quando estamos apaixonados. E o começo é bem rápido, paixão surge assim, do nada, você pode estar num bar e se apaixonar perdidamente por alguém.

Daí em diante enxergamos apenas o que queremos dessa pessoa; sabe a expressão “cegos de amor”? Na verdade ficamos cegos de paixão. Isto quer dizer que nos relacionamos apenas com as compreensões e características que desejamos. Não é a toa que a paixão é temporária e, segundo pesquisas, dura de uma semana a no máximo dois anos.

Mas há outro motivo pelo qual a paixão não dura muito tempo: pelo bem da nossa saúde! Compreenda melhor o porquê!

As alterações orgânicas quando estamos apaixonados

Você vai se impressionar com as alterações do nosso organismo quando estamos apaixonados:

1. Dois hormônios envolvidos: ocitocina e vasopressina. Estes dois hormônios estão associados ao apego e à sensação de conexão que temos com aquela pessoa em específico. É aquela sensação clichê, mas real, de que a pessoa é única no mundo.

2. Circuito de recompensa: também pela ação da ocitocina e da vasopressina, esse circuito fica em intenso funcionamento quando estamos apaixonados. Ele envolve a motivação e o prazer. Isso faz com que a pessoa apaixonada não consiga pensar em outra coisa que não seja o objeto da sua paixão, afinal esse é o pensamento que leva à sensação de motivação e prazer.

3. Esse sistema de recompensa envolve a dopamina, um neurotransmissor que está associado ao prazer e a recompensa. Durante a paixão temos mais energia e vontade de fazer qualquer coisa! É claro, principalmente quando envolve a pessoa em foco.

4. Durante a paixão os níveis de serotonina caem, outro hormônio importante para a nossa saúde mental. Aparecem pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos. Sim! Pessoas apaixonadas pensam o dia inteiro na sua paixão, mesmo sem querer, lá está o pensamento intrusivo. Além disso, a vontade de estar com a pessoa nunca cessa, querem sempre mais a companhia um do outro. Estudos recentes apontam que pessoas que usam antidepressivos inibidores da recaptação da seretonina, ou seja, aumentam a quantidade de serotonina no seu cérebro, tentem a ter menos intensidade na paixão.

5. Nesta altura do texto, você já deve estar pensando que a paixão não traz só sensações agradáveis, mas também estressoras. Sim! O cortisol é outro hormônio presente na paixão, que está associado à resposta ao estresse. As sensações de euforia, ansiedade e insegurança vêm daí! Isso quer dizer que quando estamos apaixonados estamos mais estressados. O sistema digestivo se altera e temos menos fome, ficamos hipervigilantes perdendo o sono e ainda nosso sistema imunológico se desequilibra e ficamos mais suscetíveis a doenças.

6. E, como se não bastasse, ainda acontecem inibições nas estruturas pré-frontais do nosso cérebro e temos a mesma reação de quando ingerimos bebida alcoólica: seguramos menos nossos impulsos e vemos menos as consequências das nossas ações.

Ufa! Quantas alterações acontecem no nosso organismo, não é mesmo? Você se viu nessas reações? Bom, agora vamos nos localizar de como é sentir amor!

O que é amor?

Depois de toda essa descrição vai ficar fácil compreender a diferença entre amor e paixão, até porque o amor é processado em áreas diferentes do nosso cérebro, tamanha a diferença entre esses sentimentos.

O amor não surge de forma rápida, como o “amor à primeira vista”. Ele é um sentimento construído com a convivência e permanência, seja no amor romântico, amor de mãe ou amor fraternal.

Quando amamos alguém significa que estamos próximos dos seus defeitos e dificuldades. É como se enxergássemos “a beleza interior da pessoa” e, assim, não há ilusões sobre o que percebemos. É um sentimento profundo e complexo e por isso podemos aprender a amar.

Percebam que só por essa descrição já sentimos algo mais tranquilo, controlado e estável. Por isso funcionamos de maneira tão diferente quando estamos amando ao invés de apaixonados.

Mas isso não quer dizer que uma pessoa apaixonada não pode amar! Houve a descoberta de que, eventualmente, áreas no cérebro que processam a paixão e o amor podem se sobrepor. Isso mostra que paixão pode se transformar em amor.

Como nosso corpo fica quando amamos?

Para simplificar, depois que a paixão acaba, os nossos hormônios voltam aos seus níveis normais, chamados de níveis basais. Isso quer dizer que aquela intensidade toda vai embora e ficamos mais estáveis.

Então, assim como a motivação, o prazer e a energia diminuem e também diminui a sensação de estresse. Porém os hormônios ocitocina e vasopressina continuam elevados, mantendo a sensação de conexão entre as pessoas.

Pessoas que possuem um companheiro de vida que amam, segundo pesquisas, vivem mais tempo, pois seu sistema imunológico funciona de forma mais equilibrada. Também é verdade que quanto mais tempo amando e convivendo com a pessoa acabamos entrando num estado de interdependência em que a saúde e a presença de um influencia na saúde da outra. Não são raros os casos de pessoas que morrem logo após seu parceiro ou parceira de vida vir a falecer.

Como a paixão e o amor funcionam nos dias de hoje?

O que falar do amor e da paixão nos dias atuais? Hoje temos diversos status de relacionamento: contatinho, crush, ficante, ficante sério, namorando, namorido e juntando as escovas de dentes. Como diria Bauman, em um mundo líquido o amor é líquido.

Percebemos ao longo do blog que a paixão vai e vem de forma rápida, sem precisar de muito tempo para acontecer. Bem condizente com a rapidez que tudo ocorre hoje em dia, não é mesmo?

A liberdade e a transparência tem nos dado condições de viver vidas mais sinceras com relação aos nossos sentimentos. Relacionamentos que não fazem mais sentido, não se sentem mais obrigados a ficarem juntos. Assim fica até mais fácil lidarmos com nossas paixões com essa liberdade de sentir e ir e vir.

Carl Rogers em 1977 já descrevia a pessoa emergente (do futuro) como alguém que precisaria desenvolver laços íntimos mais rapidamente e, quando for preciso, desligar-se deles tão rápido quanto se ligou. E assim viver nesse mundo reconhecendo a transitoriedade de tudo.

Ao mesmo tempo, ele também apresentava que as relações do futuro seriam mais sinceras, com comunicações mais claras e completas. É nesse ambiente que o amor pode nascer. O amor como sentimento mais estável e pautado na realidade nasce do reconhecimento dessa realidade do outro para que a estabilidade aconteça e, principalmente, para que haja conexão humana profunda.

Parece que para relações em que o amor e a verdadeira conexão humana existam precisamos de tempo, sinceridade, clareza na comunicação e, principalmente, tolerância para aprendermos a ver e a nos apresentar ao outro. Assim também é possível compreender qual o segredo das relações duradouras.

Nem sempre é fácil nos relacionarmos com pessoas, estar apaixonado ou amar alguém, na verdade na maioria das vezes é bem difícil. Lembre-se que você não está sozinho nessa, se precisar, conte conosco para se compreender no meio de tantas relações e sentimentos. Estamos juntos.

Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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