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De louco todos temos um pouco?

Em algum momento você já sentiu que estava ficando louco? Se sua resposta é sim, não se assuste! Provavelmente a maioria das pessoas que você conhece já se sentiu assim. Mas por que temos nos sentido enlouquecendo? O que isso significa? E como cuidar da nossa saúde mental?

Quem nunca ouviu falar que louco é aquele que perde o controle da razão sobre a existência? Como se já não soubesse mais quem é ou para onde vai. Essa sensação é tão assustadora que, historicamente, consideramos a loucura como uma doença. E, desde então, vivemos em busca de uma sanidade mental (uma mente sã, saudável), sem perturbações.

A pretensão de prender as perturbações mentais nos manicômios já não funciona há décadas. Fizemos um up grade. Atualmente estamos tentando conter nossa “loucura” com ingestão excessiva de medicações controladas. Segundo declaração da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ao R7, no ano de 2018, foram vendidas mais de 56,6 milhões de caixas de medicamentos para ansiedade e para controle do sono. Isto é muito, não acham? Esses dados nos levam a considerar que ainda nos assustamos com as imprevisibilidades da vida e com as oscilações das emoções.

Você deve estar se perguntando: mas como lidar com os turbilhões de processos emocionais e confusões mentais que a vida acelerada nos provoca? Pessoas como Nise da Silveira, psiquiatra alagoana que revolucionou a história da saúde mental no Brasil, nos ajudaram a perceber que confusões, perturbações e outras formas pouco convencionais de se relacionar com a realidade caminham em diferentes proporções em nós e entre nós. Nise dizia que “É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade”.

Agora me diga, você de fato considera que é possível viver sem confusões mentais e oscilações nas suas emoções? Se você ainda considera que sim, experimente lembrar-se de você há alguns anos atrás: como pensava? O que sentia? Como agia? Você não é mais a mesma pessoa, não é? Pois é, você só é assim hoje, porque viveu uma série de colapsos, abandonou certezas, experimentou limites e desenvolveu novas habilidades. Somos seres em constante transformação em uma vida desafiadora em suas possibilidades. Isto quer dizer que nossas confusões existenciais e nossos processos emocionais são bem-vindos, se buscarmos compreendê-los.

Além de Nise, também podemos aproveitar as reflexões de Spinoza, filósofo Holandês, que também se dedicou a compreender as confusões humanas. Ele afirmou, certa vez: “Tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los”. Afirmações como essa nos levam a pensar que o que chamamos de “loucura” ou até mesmo em nomenclaturas mais atuais, de transtornos mentais, retratam a nossa dificuldade enquanto humanos de lidar com a nossa própria humanidade, complexa, incompreendida e, muitas vezes, confusa.

Paciente Nise da Silveira

Então, se você deseja cuidar da sua saúde mental, experimente levar em conta os seguintes pontos:

Compreenda-se por inteiro: Reconheça aqueles aspectos que considera indignos em você. Eles também fazem parte da sua humanidade. Digo isso, porque os aspectos que você considera dignos provavelmente são mais familiares. Você vai experimentar contradições intensas, confusões angustiantes, certezas que se revelam ilusões. Mais uma vez, não se assuste! Compreenda suas sensações, sentimentos e pensamentos, como parte de um todo. Destas compreensões você pode experimentar novas escolhas ir adiante nos seu processo de evolução na vida.

A experiência é o seu guia e não a razão: A lógica racional, sem os demais atributos humanos, cria padrões, comparações, frustrações a ponto de o deixar tão confuso que você já não sabe mais se está em busca de ser o que acha que deve ser ou se está sendo você mesmo. A lógica sozinha leva a discordâncias e contradições. “Quem vive dirigido pela razão, se esforça, tanto quanto pode, por compensar pelo amor e pela generosidade, o ódio recíproco.” (Spinoza). Já a experiência inclui todas as suas percepções, sensações, compreensões e também a razão. Guie-se pelo que compreende da sua experiência. Ela pode se aproximar de forma mais efetiva da sua complexidade humana.

Abandone a pretensão de controlar tudo: Quanto mais compreendemos a complexidade da vida e da existência humana, mais nos aproximamos de uma certeza de que existe um movimento inerente à vida que foge aos nossos domínios. É a soltura, a confiança e a leveza que nos aproximam desse movimento e, consequentemente, de um bem estar real. Uma água calma, sem marés, correntes, ventos e diferentes temperaturas, nunca será um mar rico em peixes e vida marinha, mas um lago inerte e sem vida. Talvez essa seja uma boa analogia para a vida humana. Não recuse a agitação das suas águas. Mergulhe nelas, você pode descobrir o segredo da sua saúde mental!

”Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas.” (NISE DA SILVEIRA)

E então, pronto para experimentar suas ondas emocionais e existenciais? Seus altos e baixos podem revelar sua verdadeira razão de viver e continuar seguindo adiante! E lembre-se, se você se sentir assustado, ou com dificuldades de largar o controle dos processos da sua vida, conte conosco! Você não precisa estar sozinho nos cuidados da sua saúde mental.

Leia mais:

O segredo de conviver com a esquizofrenia.

A sua saúde mental está em riscos? Saiba como superá-los!

Maira Flôr

Maira Flôr

Psicóloga, CRP 12/08932

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