Alguns dias atrás tive a oportunidade de viver uma experiência que me fez revisitar os conceitos de realidade e significado da experiência. Foi assim: eu e a equipe da qual faço parte estávamos realizando um evento de psicologia humanista, desenvolvimento humano e tecnologia. E quando estamos vivendo um momento como esse, queremos tanto que o planejamento dê certo, que todos os nossos sentidos se voltam para concretização do que pensamos ao longo dos últimos meses.
Estava tudo seguindo a contento, até que a sensibilidade aflorada de uma das pessoas da equipe me chamou a atenção. Ela tinha acabado de viver uma experiência virtual na sala de arte digital. Sem me contar exatamente o que tinha vivido declarou que adoraria saber o significado que a experiência teria para mim.
Pois é! Como não costumo deixar de lado as provocações que a vida me faz, aceitei o convite prontamente e fui viver a minha primeira experiência digital. Imagino que você já pode ter vivido, ouvido ou lido alguma coisa sobre o assunto. Eu também já tinha ouvido falar que uma alta tecnologia seria capaz de criar a sensação de estarmos presente em um ambiente diferente do real.
Minha mente presencial e conectada na realidade concreta me dizia: Impossível! Não tem como algo ou alguém fazer com que você se sinta presente em uma realidade que está sendo criada virtualmente. Basta focar a sua atenção na realidade concreta, direcionar a sua percepção para aquilo que é real, contar com a sua memória para não esquecer as diferenças entre as experiências que são fruto de uma relação com objetos reais e virtuais, a ponto da cognição não se deixar levar por algo que você sabe que não existe.
Doce ilusão!!! Santa ingenuidade!!! Quem já viveu uma experiência como essa sabe o quanto é improvável que isso aconteça. É! Quem já viveu sabe o quanto o uso de alta tecnologia é capaz de gerar efeitos físicos e emocionais de uma outra realidade e provocar seu envolvimento por completo. Quer saber? Saí dessa experiência sentindo na pele a vulnerabilidade da mente humana e o quanto somos capazes de nos enganarmos com o que nossas percepções nos fazem sentir e nossas interpretações nos fazem entender.
Não é de hoje que monitoro as minhas percepções e os meus entendimentos da realidade. Não é de hoje que eu me pergunto sobre o significado da palavra realidade e tudo o que isso representa para o humano. Afinal, somos a única espécie que usa dos recursos da razão para planejar as suas ações a partir do significado que se constrói da experiência. Isso quer dizer que precisamos ter muita cautela quando estamos diante de uma temática que envolve percepção da realidade.
Foi pensando nisso e nos efeitos que a experiência digital tinha causado em mim, tanto física como psicologicamente, que decidi reler um texto de um psicólogo norte-americano, Carl R. Rogers, sobre teoria personalidade, publicado em um livro chamado Terapia Centrada na Pessoa. E sabem o que encontrei? Algumas proposições que podem servir de guias para compreender um pouco melhor o que é a realidade para o humano de ontem, de hoje e do futuro.
- “O organismo reage ao campo da maneira como este é experimentado e percebido. O campo percebido é, para o indivíduo, a ‘realidade’.”
- “O comportamento é, basicamente, a tentativa dirigida para uma meta que o organismo utiliza para satisfazer as necessidades que ele experimenta, no campo que ele percebe.”
- “A emoção acompanha e, em geral, facilita o comportamento dirigido para uma meta, sendo que o tipo de emoção se relaciona com os aspectos de busca versus consumação de comportamento. E a intensidade da emoção relaciona-se com a importância percebida do comportamento para a preservação e o aperfeiçoamento do organismo.”
- E por isso, “o melhor ponto de observação para compreender o comportamento é a estrutura de referência interna do próprio indivíduo.”

Enquanto revisitava essas proposições, entendi que a experiência digital cumpriu a missão de me conectar com um sentimento essencial e me mostrar como eu reajo quando estou diante de situações que me fazem sentir tal emoção. Foi aí que descobri que a experiência, seja ela fruto de um ambiente real ou virtual, fala mais de quem somos e do nosso processo de superação do que da realidade em si.
Então, pensei: se nos utilizarmos de vivências como essa para acessar nosso referencial interno, é possível que experiências digitais se transformem em atitudes que alavanquem a compreensão das nossas experiências reais. E como isso ainda está longe de ser uma verdade, fica a dica.
1. Quanto mais de acordo estiverem o eu e a experiência, menos o indivíduo perceberá de maneira defensiva;
2. Quanto mais de acordo estiverem o eu e a experiência, melhor ele funcionará;
3. Quanto melhor funcionar, menos ele perceberá de maneira defensiva.
E se precisar de ajuda para exercitar essas dicas, conte conosco. A psicoterapia centrada na pessoa pode ser um facilitador do seu processo de superação.