Eu venho de um mundo em que a tradição passava de pai para filho, o conhecimento cabia dentro de uma enciclopédia chamada “Barsa” e a profissionalização era adquirida num curso técnico ou numa graduação acadêmica da nossa escolha. Tínhamos pressa, mas uma pressa muito diferente da que temos hoje em dia.
Se por um lado, como hippies, lutamos para que o amor fosse livre, defendemos o respeito pela natureza, pregamos o pacifismo, uma vida que não fosse dominada pelo consumismo e utilizamos drogas para ampliar a consciência e aumentar nossa criatividade, por outro lado, como Yuppies, fizemos curso de datilografia, rodamos cópias de documentos em mimeógrafos, acompanhamos a chegada do computadores 286, 386, 486, 586 e Pentiums e aprendemos a mexer com disquete e o MS-DOS. E quer saber o que mais? Fomos considerados os jovens que apostaram no aprimoramento pessoal, buscaram reconhecimento, desejaram enriquecer e ostentar um estilo de vida luxuoso. Fizemos parte de uma geração que viveu intensamente em uma cultura, descrita por Douglas Copeland, como acelerada.
Pois é! Os anos passaram e muitos de nós se renderam ao amor do dia a dia, tiveram filhos e escolheram trabalhar em um lugar que nos desse a possibilidade de galgar degraus hierárquicos até a aposentadoria chegar, para enfim, descansar em paz.
A questão é que a tradição não é passada mais de pais para filho, o conhecimento está na internet para quem quiser acessar, a rota de estudo deixou de ser uma área de conhecimento que se encerra em si mesmo e o trabalho… Bem, esse passou a ser construído continuadamente, com a aquisição de aprendizagens sempre novas e muito significativas. E tem mais! Deixamos de ser acelerados para viramos disruptivos.
Eu, com os meus quase 60 anos, vi cada passo dessa transformação acontecer. Entendi que podia escolher protestar ou me deixar levar por um mundo sem fronteiras. Não sei explicar muito bem porque, mas tinha uma certeza, quase que absoluta, de que não tinha como parar esse processo. Cheguei até a criar o hábito de perguntar se o martelo já estava batido. E quando recebia como resposta um sim, algo me dizia que o melhor a fazer seria olhar para frente, arriscar novos voos e apostar na minha capacidade de me reinventar.
De lá para cá tenho me deparado com muitos desafios. E para ser bem sincera com você, muitos deles ainda não superei e nem sei se irei conseguir. Algumas vezes, me sinto como se estivesse em um jogo de videogame, lutando para vencer o chefão, certa de que logo terei que estar pronta para os novos desafios da próxima fase que, como você já deve saber, serão um pouco mais complexos do que o anterior.
Meu pensamento à moda antiga, por diversas vezes, quis me convencer de que viver desse novo jeito não fazia o menor sentido. Afinal, qual seria a hora do descanso, do divertimento e de fazer apenas o que se quer? Mas minha rebeldia não me deixou parar. E vejam só os desafios que eu encontrei pela frente:
- Big data, internet das coisas e inteligência artificial é um fato: O primeiro e talvez o mais difícil de todos os desafios, foi o de não me assustar com as mudanças. Afinal, estamos falando de coletas, armazenamentos e tratamentos de dados que saem das mãos humanas para as mãos de uma realidade tecnológica atual (Big data); uma internet que é capaz de conectar máquinas e sistemas (Internet das coisas) e de Inteligências Artificiais capazes de tomar decisões sem a interferência humana. O que talvez você não saiba é que, nesse caso, o susto é primo-irmão da ignorância e pode ser superado com novas aprendizagens.
- Quebrando fronteiras com a tecnologia digital: Aceitar essa realidade me fez entender que os conhecimentos e os recursos acumulados ao longo da vida não me ajudariam a utilizar as novas ferramentas e exercer meu pensamento crítico sobre o novo mundo. Isso mesmo! Para fazer parte dessa nova realidade, preciso aprender a lidar com os dígitos, números, processamento de dados armazenados e informações digitalizadas. Você consegue imaginar o que representa isso para uma pessoa que passou uma a vida inteira fazendo analogias com objetos e experiências oriundas de uma realidade concreta? Difícil não questionar, impossível não polemizar e considerar a possibilidade do humano ser substituído por uma inteligência artificial.
- Aprendizagens humanas emergentes: As novas descobertas me fizeram perceber que o humano continua sendo humano e pode se tornar um humano melhor se ocupar o tempo que sobra para desenvolver a sua capacidade de abrir-se para o novo, colaborar com o outro, ser empático, criativo, inventivo e inovador na solução de problemas. Nosso pensamento crítico pode se tornar mais potente se aprendermos a viver sem fronteiras.
Vamos pensar sobre a nossa capacidade de nos reinventarmos em plena transformação digital? Esperamos por você em um dos nossos eventos.