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Tire suas dúvidas sobre o que é um trauma

Você já viveu a experiência de estar cumprindo as tarefas do dia a dia e, de repente, ser sugado por um flashback que te faz reviver a sensação real de um trauma pelo qual você já passou? Apavorante, não é mesmo? Essa é a sensação que uma pessoa com Estresse Pós Traumático (TEPT) experimenta.

Pois é! Diferente do que você possa imaginar, esse tipo de estresse não acontece apenas com os soldados que voltam das guerras. Na verdade, de 15% a 24% das pessoas que viveram uma experiência de trauma ou de violência apresentam TEPT*. Pode ter sido um acidente, um assalto, um sequestro, uma agressão, uma violência sexual, uma catástrofe ambiental ou qualquer experiência que exponha a pessoa ao risco de morte ou violação da vida.

Visto por esse ângulo, as possibilidades de viver uma experiência como essa aumentam, não é? E se somarmos a isso o aumento das tragédias naturais ou provocadas pelas mãos humanas, a estimativa de quem viveu uma situação como essa ou que viverá ao longo da vida passa a ser de 60% a 90% da população.

Quem viveu ou conhece alguém que já viveu um trauma sabe que a sensação é de que há um perigo real: as mãos gelam, a respiração acelera, as pernas adormecem e você paralisa, corre ou se defende. Quem observa, dificilmente faz ideia do que a pessoa está passando, mas os flashbacks ou revivescências são reações neurofisiológicas e emocionais que podem ser acionadas por algum estímulo sensorial associado à vivência traumática. Pode ser um som, uma imagem, um cheiro, um toque, um pensamento ou até um sonho, que algumas vezes se fez presente sem ser percebido.

A reação é tão traumática quanto a vivência real e sua imprevisibilidade faz com que as pessoas com Estresse Pós Traumático tentem evitar situações e atividades novas, que possam levar a crises. Elas podem se sentir irritadas sem motivo aparente e impotentes para lidar com os desafios do dia a dia, podendo chegar ao isolamento social intenso. Sem contar com os prejuízos orgânicos que a reação ao estresse pode causar. Afinal, uma liberação excessiva de certos hormônios na corrente sanguínea pode aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e digestivas.

Isso quer dizer que pessoas com Estresse Pós Traumático apresentam um ciclo com as seguintes características:

  • – Revivem a experiência traumática: pesadelos ou lembranças espontâneas;
  • – Evitam estímulos que possam desencadear lembranças traumáticas;
  • – Diminuem o interesse afetivo por pessoas e atividades;
  • – Hipersensibilidade psíquica: episódios de pânico, irritabilidade, dificuldade de concentração, distúrbios do sono, estado de alerta permanente;
  • – Sentimentos de vulnerabilidade: negativismo, insegurança, impotência.

Ufa! Quanto prejuízo, não acham? Parece uma sequência de dominós derrubando um ao outro em cadeia!

Sim, todos nós estamos expostos a essa possibilidade e precisamos ter consciência de que as vivências neurofisiológicas e socioemocionais de quem está com Estresse Pós Traumático são tão complexas que ultrapassam os limites do controle e da escolha consciente.

Podemos então refletir sobre que atitude lançar mão dependendo do que você esteja vivendo:

1. Nunca vivi uma situação traumática: Se você nunca foi exposto a uma experiência como essa, pode dedicar-se a ampliar sua capacidade de resiliência. É muito provável que você vá lidar melhor com as adversidades inevitáveis da vida se compreendê-las como oportunidades de superação e de aprendizagem, não como obstáculos. Portanto, invista em vivências que ampliem sua abertura para o novo. Desenvolva flexibilidade para lidar com adversidades encontrando saídas criativas de superação. Você pode se surpreender com seu poder de inventividade e de liberdade para experimentar suas possibilidades. E ainda, as pessoas ao seu redor podem se contagiar com seu movimento na vida e tornarem-se agentes da construção de uma nova realidade junto com você.

2. Já vivi uma situação traumática, mas não tenho reações de Estresse Pós Traumático: Neste caso, busque compreender o significado dessa experiência na sua vida. Reconheça as transformações que essa experiência trouxe para seu jeito de ver a vida e de viver suas relações. Reconfigure a percepção de si mesmo, das suas características, sentimentos, vontades e sua capacidade de transformar o que for necessário para o seu bem estar. Fique atento aos desconfortos e dificuldades pessoais e se precisar de ajuda em algum momento, acione suas relações de confiança e construa uma rede de apoio. Se sentir necessidade, procure a ajuda de um profissional da saúde.

3. Estou apresentando sinais de Estresse Pós Traumático: Se você sente que alguma das descrições ao longo do texto podem representar sua experiência pessoal, saiba que você não está sozinho! Há formas eficazes de ajudar você a superar as limitações causadas por sua vivência traumática. A capacidade humana para reconfigurar significados é surpreendente! Comece reconhecendo o grau de limitação em que você se encontra. Disponibilize-se para vivenciar um processo de superação com a ajuda de profissionais da saúde mental. E se sentir dificuldade de movimentar-se sozinho, encontre nas suas relações de confiança pessoas que possam te ajudar a acessar um serviço especializado.

Traumas podem tornar-se profundamente prejudiciais à saúde. Precisamos ter consciência disso para aumentar o acesso das pessoas aos cuidados necessários. Isso é um fato! Mas talvez uma das reflexões mais importantes que esse tema pode nos levar a fazer é: quanto temos nos dedicado a ampliar nossa resiliência para lidar com as situações adversas da vida a que estamos expostos diariamente?

A capacidade humana para se reinventar e superar expectativas pode ser surpreendente e precisa do nosso investimento mais do que nunca. Conte com nossa equipe para ajudá-lo no desenvolvimento dessas habilidades!

*Dados da Associação Americana de Psiquiatria.

Maira Flôr

Maira Flôr

Psicóloga, CRP 12/08932

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