Já faz um tempo que eu tomei a decisão de encarar as minhas vergonhas de frente. Enquanto enfrentava o receio do ridículo, descobri que elas significavam mais do que um simples temor de experimentar o gosto amargo da desonra.
Por mais estranho que pareça, a caminhada me fez ver que uma vergonha pode nos ajudar a compreender como estamos convivendo com a contradição que existe entre o que somos e o que gostaríamos de ser.
E você? O que tem feito com as suas vergonhas? Como está o convívio com as avaliações desfavoráveis que você faz de si mesmo?
Imagino que você, assim como eu, já sentiu na pele aquele constrangimento que nos deixa com o rosto avermelhado, nos faz desviar o olhar para baixo e cobrir a boca com uma das mãos enquanto sorrimos sem graça. Que atire a primeira pedra quem nunca viveu a experiência de sentir-se envergonhado ao se dar conta de que alguém viu uma parte de si que não deveria ter visto.
É! Parece que enquanto existirem sensações de insuficiência e inadequação por causa do desejo de ser o que não somos, a vergonha estará no meio de nós e será impossível passar pela vida sem experimentar o receio de perder o valor pessoal, por conta de uma imperfeição.
Veja só! O que poderia ser reconhecido apenas como uma tolice pessoal ou uma característica de bicho do mato é, na verdade, uma grande dificuldade de lidar com aquela parte que nos pertence e que não corresponde ao nosso ideal de pessoa.
Se cairmos na asneira de insistirmos nessa bobagem, teremos que lidar com a possibilidade de nos envolvermos em um isolamento social justificado e aceitar a vergonha como uma parceira de vida.
Doce ilusão! Ninguém conseguirá o autocontrole deixando de participar de atividade que impliquem em convivência com pessoas que, muitas vezes sem querer, nos colocam em situações onde nossas imperfeições ficam visíveis a olho nu.
Nunca deixaremos de ser o que somos e nem deixaremos de desejar ser o que não somos, porque escolhemos nos proteger contra vivências que denunciam as nossas fragilidades.
E você? Quer essa vida para você? Se não quiser, é hora de se preparar para tirar os seus equívocos de dentro do armário e iniciar um diálogo cara a cara com quem você realmente é. Só assim será possível não ser pego de surpresa pela vergonha.
Se você conseguir, mesmo que por poucos minutos, ficar próximo do desconforto, enquanto procura acessar as suas vergonhas, verá que é preciso resistir bravamente à tentação de colocar uma venda nos olhos e fingir que nada está acontecendo.
Não se assuste com o aperto no peito e a tristeza que tal proximidade irá lhe causar. Tenha certeza de que viver essa aproximação ainda é melhor do que correr o risco de ser dominado por uma timidez que o inferioriza a ponto de perder a dignidade e acabar com o seu valor pessoal.
Digo isso porque, enquanto lutava para não me afastar de mim mesmo, descobri que as minhas vergonhas falam apenas de uma pequena parte de mim mesmo. Ela é a parte em que os equívocos estão presentes ao lado do julgamento, que cisma em destacar-se do que eu sou, para transformar-se na maior parte de mim.
Isso sim é perigoso!!! Não é justo que nossas potencialidades fiquem represadas, enquanto a parte imperfeita ocupe um espaço que não lhe é de direito. Nós sempre seremos mais do que uma vergonha é capaz de anunciar.
Então, se não temos como nos livrar das vergonhas, podemos aprender a continuar crescendo apesar delas. Sabe como?
- Aumente a sua resiliência: amplie a sua capacidade de se recuperar rapidamente dos momentos em que for tocado pela vergonha. Não deixe que momentos como esse o coloquem para baixo por muito tempo. Lembre-se: você não é apenas insuficiências e inadequações.
- Fique atento as suas características pessoais em desenvolvimento: Transformar potencialidade em realidade talvez seja a maior missão da sua vida. Então, não deixe que uma vergonha atrapalhe a sua realização. Sempre que a imperfeição estiver presente, foque no que você já foi capaz de concretizar e no que você reconhece que ainda precisa realizar. Tenha como meta: superar a baixa autoestima provocada pela vergonha.
- Exercite a sua autenticidade: Aumente a proximidade com o que acontece dentro de você e estabeleça um diálogo entre a experiência, a consciência e o que você fala sobre o que viveu. Quanto maior a coerência entre esses elementos maior a sua autenticidade e maior será a sua capacidade de não se deixar levar pela vergonha. Acredite: Você tem potencialidades que valem a pena ser desenvolvida.
E se você precisar de um profissional para fazer essa caminhada, conte conosco. Temos uma clínica psicológica preparada para cuidar das suas necessidades.