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O valor das relações humanas

Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, com redes sociais múltiplas, com diversas funções e formas de nos relacionarmos, seja por imagem, por áudio, vídeo ou texto. As possibilidades de conexão são muitas, mas será que elas realmente aproximam as pessoas?

O que deu um start nesta reflexão foi que na última semana, em um só dia, quatro amigos iniciaram uma conversa por WhatsApp para dizer que estavam com saudades, que estou sumida, queriam saber como eu estava (um fato relevante é que não tenho muitos amigos, eles são poucos, mas essas relações representam para mim muita intimidade e apreço por eles).

Percebi que meus sentimentos eram recíprocos aos dos meus amigos, sinto a falta deles, de notícias, de experienciar com eles. Logo me apressei para respondê-los e marquei encontros com os mais próximos geograficamente. Usei os aplicativos de comunicação para expressar minhas emoções, mas ainda assim fiquei sentindo falta de algo: a presença.

A presença do outro me coloca em relação com ele e ainda comigo mesma, tento sempre estar disponível para encontrar e aprender, me percebendo e conhecendo com a ajuda dele. Nos relacionamentos afetivos, aprendo a me ver por uma perspectiva diferente da minha, assim me reconheço como ser de relação nas trocas existentes. Com as relações interpessoais eu aprendo uma dimensão sobre mim que a introspecção por si só não proporciona. Ao refletir sozinha, conheço quem sou ou o que sinto, mas parece que não amplia a visão de mim. Ao me relacionar, o outro me auxilia a formular as experiências com mais clareza, facilitando o dar sentido aos sentimentos, fazendo com que eu me torne mais consciente e mais aberta a perceber quem eu sou.

As relações interpessoais podem produzir uma aprendizagem significativa, um novo conhecimento que provoca uma modificação na forma de me expressar. Com meus amigos isso de fato acontece, alcançamos juntos novas compreensões de nós mesmos, ressignificamos fatos e sentimentos, tudo isso em um clima de consideração e aprendizagem mútua.

Um exemplo disso é quando achamos que temos um problema que não tem solução e depois de uma conversa com um amigo, após falar e ser ouvida, de escutar outra visão adquirimos nova motivação para enfrentar o problema de forma mais consciente, menos angustiada, sendo que um olhar empático externo sempre facilita os enfrentamentos da vida.

Com a internet não consigo sentir isso. Vocês conseguem?

Eu sei que a internet funciona como mediadora da comunicação, que não substitui a materialidade dos encontros presenciais, mas as trocas por meio dela têm a mesma qualidade?

Tenho descoberto que não. Tenho encontrado dificuldades em dizer para meus amigos e familiares sobre meus problemas do dia a dia e compartilhar sentimentos da mesma forma que diria pessoalmente. Ao ter um mediador, seja celular, computador ou uma tela entre a pessoa com quem estou me comunicando e eu, não consigo expressar realmente o que está dentro de mim, me dá uma sensação de pressa, parece que há sempre coisas mais importantes para fazer do que compartilhar as minhas percepções e sentimentos. A presença e o olhar do outro me faz falta, parece que pela internet a experiência não é completa, não consigo expor através de palavras tudo o que se passa dentro de mim.

Percebo que na internet há também esse fenômeno ao contrário, onde as pessoas, ao estarem protegidas por um mediador eletrônico, não refletem sobre o que dizem, não se importando em expressar sua opinião de forma agressiva e desrespeitosa, se aproveitando do anonimato que as redes sociais podem trazer para ferir e criticar o outro. Parece que há falta de empatia e de humanidade, de se colocar no lugar do outro para perceber como se sentirá ao ler uma crítica ou comentário.

Acredito que as relações interpessoais são muito importantes em nossas vidas, elas proporcionam muitas possibilidades de nos desenvolvermos como pessoa. O mundo virtual pode estar a nosso favor para promover encontros que geograficamente seriam impossíveis, mas também vejo que há solidão no meio da multidão, seja ela no mundo virtual ou ‘real’. Não é porque tenho muitas pessoas como amigos nas redes sociais que significa que mantenho relações afetivas que são satisfatórias para mim.

Já mudei de país, de estado e de cidade sozinha, e na maioria das vezes me lancei para as oportunidades sem nem mesmo conhecer uma única pessoa neste novo local. Aprendi com a solidão a me erguer e me construir sem rede de apoio alguma, isso antes da popularização da internet móvel e dos smartphones. Foram momentos difíceis, de transformações internas intensivas: aprendi a me relacionar comigo e a conhecer quem sou.

Refletindo sobre essas questões, entendi que é necessária uma abertura e esforço para estar com o outro, independentemente de onde eu ou esse outro estejamos. Trago atualmente como aprendizado e constante questionamento: estou me esforçando para estar com os outros e fazer com que as relações realmente aconteçam?

Sinto que sou ser essencialmente relacional, mas estou em processo de aprender a me apresentar aos outros. Atualmente, meu desafio é aprender a me relacionar por inteiro, seja com a presença ou pseudopresença virtual do outro em minha vida, porque não quero que as minhas relações sejam líquidas e descartáveis.

E vocês, já pararam para prestar atenção no formato das suas relações interpessoais?

Juliana Fitaroni

Juliana Fitaroni

Psicóloga, CRP 18/02964

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