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Sobre um mesmo mundo e seus vários tons

Recentemente soube que as universidades vão incluir o autismo na sua grade curricular nos cursos de Psicologia. Fui pesquisar um pouco mais sobre isso e, viajando na internet sobre como a sociedade tem lidado com pessoas com autismo, me deparei com a Lei 12.764/2012, regulamentada em 2014, subsidiando que as pessoas com autismo tenham um respaldo importante para acesso a vários serviços públicos aos quais têm direito, como saúde, educação e proteção social.

Isso me fez perguntar se você sabe por que tem sido tão importante a inclusão das discussões sobre autismo socialmente.

Atualmente, temos a incidência de autismo em 4 a 5 para cada 1.000 crianças no mundo. Esse número tem aumentado progressivamente, pois a ciência evoluiu em sua caracterização, os profissionais têm reconhecido com mais facilidade o seu jeito de funcionar e, assim, as pessoas com autismo têm sido identificadas com mais facilidade.

E por que um autista precisa de acompanhamento do seu desenvolvimento?

O autismo é um jeito neurológico de ser que foi descrito pela primeira vez, há mais de 70 anos, como um transtorno do desenvolvimento que comprometia três áreas: comportamento, socialização e linguagem. Depois de muitos anos de estudos, a ciência reconheceu que o autismo apresenta vários níveis de dificuldades e diversidade nas suas características, afetando seu desenvolvimento de forma global. Dessa forma, foi criado um formato de diagnóstico que abrange todos os níveis numa só classificação, considerando a representação das amplitudes e intensidades, chamado de espectro do autismo.

Para entender o desenvolvimento de pessoas que se encaixam nesse espectro, precisamos viajar por uma compreensão de um mundo literal, em que seu funcionamento é estritamente concreto, ou seja, todo entendimento acontece através de causa e efeito percebidos pelos seus sentidos (visuais, táteis, auditivos, gustativos e olfativos). Além disso, imagine que essa recepção de sentidos acontece de forma desorganizada e com desproporções de hiper e hipo sensibilidades. Sim! Muitas vezes fica bastante confuso e irritante! Para lidar com essa sobrecarga da bagunça de sentidos, pessoas autistas usam de comportamentos de autorregulação como mecanismo de autocontrole. Diminuem, assim, a sensação de sobrecarga de informações, usando balanços estereotipados e repetitivos do corpo e repetição mecânica de palavras e expressões ouvidas anteriormente, a fim de neutralizar o que recebem do mundo.

Compreensões subjetivas não acontecem naturalmente em seu cérebro. Imaginem que as aprendizagens que dependem da interação com o mundo são grandes desafios para pessoas com autismo. Elas apresentam dificuldade de se colocar no lugar do outro e compreender seus sentimentos, e dificilmente vão interagir com o olhar nos olhos. Com essa dificuldade subjetiva, mudanças que correm em suas vidas podem causar descontrole emocional, pois a quebra de rotina e interrupção de tarefas faz com que saiam do controle o que elas tentam manter concretamente para se sentirem confortáveis.

Esse funcionamento mostra o quanto precisam de pessoas implicadas no seu processo de aprendizagem de estar no mundo, considerando as várias áreas de sua vida que encontram dificuldades, principalmente aquela diretamente ligada às relações: conviver com o outro. Estar com eles me faz reformular meu jeito de pensar, percebendo que tem alguém que funciona de um jeito diferente.

Vi-me pensando como a sociedade tem se esforçado para incluir essas pessoas! Seja em discussões, em ações na saúde, na educação ou em movimentos culturais. E mesmo assim, como encontramos dificuldade!

Lembrei-me, então, de algo que ouvi em um congresso sobre uma consultoria a escolas para repensar seus currículos e tornarem-se escolas inclusivas. A fala da palestrante era algo do tipo: não se faz algo novo no remendo do que temos se queremos transformar o jeito de lidar, precisamos reformular nosso jeito de pensar e agir. Isso me fez perceber que o processo de responsabilidade da sociedade com o desenvolvimento das pessoas com autismo requer abertura de compreensão e uma mudança de olhar sobre elas.

Compreender o outro vai além do que se teoriza, está em reconhecer seu jeito de estar no mundo e aceitar nossas diferenças, percebendo ainda o quanto temos algo em comum: o desejo de nos desenvolvermos para lidar com tudo o que vivenciamos. Exige-nos flexibilidade na forma que vivemos, reformulação constante para lidar com o desenvolvimento como um todo, sem exigir das pessoas que vivam na maneira já estabelecida.

Assumi o compromisso com o desenvolvimento humano e para isso estou aberta a compreender e transformar o que for preciso. E você?

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Doralina Enge Marcon

Doralina Enge Marcon

Psicóloga, CRP 12/10882

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